Os reencontros têm lá seus grandes feitos. O mesmo acontece com a pluralidade musical proporcionada pela aproximação de três artistas de formações distintas. Tratando-se de Fábio Augustinis (bateria), Daniel Ribeiro (contrabaixo) e Eloá Gonçalves (piano) existe sempre um denominador em comum: música instrumental de qualidade. Tanto que, há três anos, esses amigos resolveram se debruçar sobre as tradicionais composições de jazz. O resultado da pesquisa tem nome bastante sonoro: Trio Matiz. A turnê de estreia passa por Valinhos na terça-feira, 22 de dezembro, às 20h, no Auditório Municipal de Valinhos. Com entrada franca, o espetáculo foi contemplado pelo ProAC (Programa de Ação Cultural).
As influências sonoras do trio têm pés no ontem e no hoje. Dos tradicionais, destaque aos Keith Jarrett Trio, Bill Evans Trio e Oscar Peterson Trio. Em compensação, dos modernos: Brad Mehldau, Esbjörn Svensson Trio, The Bad Plus e Avishai Cohen. “Desde sempre tivemos esse interesse em tocar na formação de trio, até por se tratar de uma formação bastante transparente e que privilegia os três solistas. Trata-se de uma música completa, que não falta nada. Os três instrumentos têm uma projeção diferente de quando, por exemplo, você toca acompanhando um cantor ou em formações maiores. São três pilares musicais que permitem ao máximo a potência de cada instrumentista”, destaca Fábio.
O show em cartaz se vale da sonoridade do primeiro álbum do Trio. Ao todo, são nove músicas autorais, tanto compostas por Eloá Gonçalves (atualmente, a pianista também acompanha a cantora Sandy) quanto por Alex Heinrich, com arranjos assinados em parceria pelos integrantes do trio. Enquanto ela se vale da experiência da música erudita e brasileira, ele aposta no groove e no funk norte-americano. “O próprio nome Matiz representa justamente esses contrastes e essas nuances que, em determinados momentos, podem ser antagônicas. O som do trio reflete bastante isso. Quem vai ao show ou escuta o disco perceberá momentos muitos distintos com relação à tensão e relaxamento, preto e branco e colorido ou sessões leves e enérgicas”.
Durante a apresentação, a plateia contemplará Reflexão Sonora, High Tree Circle e Muito Maior, de Alex Heinrich. Da produção de Eloá, o público aprecia Choro de Pai e Mãe (“não é um choro tradicional, mas uma referência à forma e à linha melódica do choro”, destaca a compositora), Elo (“tem a ver com o nome do Trio, já que trabalhei bastante os contrastes de claro e escuro”), Valsa do Início (“talvez, seja a composição mais livre. É música brasileira, sendo aos moldes das valsas de Tom Jobim e Edu Lobo”), Ainda sem título, Na Lua (“é uma balada, que tem referência forte no impressionismo de Debussy e Ravel, e do jazz moderno”) e Valseando às Escondidas.
Da mesma forma, o tão esperado (e inusitado) improviso do jazz também está presente na sonoridade do Trio Matiz. Contudo, claro, com alguns diferenciais. “A música não foi feita exclusivamente para a improvisação, como acontece em alguns temas de jazz mais tradicionais. As composições do Matiz não seguem esse formato. Elas têm um desenvolvimento próprio e, no meio desse desenvolvimento, tem a abertura para a improvisação. Às vezes, essas sessões de improviso podem ser uma nova parte da música ou ainda servem para unir um momento a outro da composição. No jazz, essas improvisações dão vida à música, transformando cada espetáculo em único”, conta Fábio.
Álbum de estreia – O repertório do show está baseado no disco de estreia do Trio Matiz, gravado em julho de 2015. Contemplado por dois editais de incentivos (gravação e circulação): Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC) e ProAC (Programa de Ação Cultural), o álbum nasceu no Estúdio Sol e Lua, localizado na Fazenda Gargolândia, em Alambari, no interior de São Paulo. Das nove músicas, três contam com participações especiais: Choro de Pai e Mãe (bandolinista Fabio Peron, membro ativo do grupo do renomado instrumentista e compositor Arismar do Espírito Santo), Muito Maior (trompetista Diego Garbin e trombonista Alan Palma, professor no Conservatório de Tatuí) e Valsa do Início (compositor, arranjador e clarinetista Nailor Azevedo “Proveta”, da Big Band Mantiqueira). O álbum está à venda pelo selo da distribuidora Tratore (www.tratore.com.br). A arte gráfica do CD tem a assinatura de Ipojucã Villas Boas, filho do cartunista Glauco.