Em fase de expansão, o Aeroporto Internacional de Viracopos, de Campinas (SP), voa rapidamente para ser o primeiro aeroporto-cidade do Brasil. A ampliação de Viracopos já está provocando várias mudanças no cenário urbano local e levará a alterações em todo o conjunto da Região Metropolitana de Campinas (RMC). Implantação do BRT e seus novos corredores de ônibus, novo plano de trânsito e transporte para horizonte de 25 anos, anúncio de um mega-centro de convenções e conclusão do Anel Viário são algumas das ações já em curso, que projetam muitas transformações na cidade e região. A ampliação do polo de ciência e tecnologia e a multiplicação de negócios em logística já estão sendo estudadas.
O perfil urbano de Campinas já está mudando em função da ampliação de Viracopos. Quatro grandes obras viárias estão em fase final de elaboração de projeto e discussão, que vão alterar completamente o acesso ao aeroporto e aos bairros populosos das regiões do Ouro Verde e Campo Grande, nas regiões Sul e Sudoeste do município.
A primeira grande obra é o prolongamento da SP-083 , entre as Rodovias Anhanguera e “Miguel Malhado Campos”. Trata-se do prolongamento do Anel Viário de Campinas “José Roberto Magalhães Teixeira”, entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes, em uma primeira etapa, e a rodovia “Miguel Malhado Campos”, na segunda etapa, resultando na ampliação do acesso a Viracopos. São obras na bacia do rio Capivari, que vão consolidar o futuro Centro Logístico Integrado de Campinas.
O trajeto proposto para o prolongamento do Anel Viário de Campinas, entre as rodovias Anhanguera e Bandeirantes, fica entre os bairros Macuco e Jardim Nossa Senhora de Lourdes. Na segunda etapa, entre a Bandeirantes e a rodovia “Miguel Malhado Campos”, o trajeto fica próximo à Cidade Singer. Uma das consequências da ampliação será a redução do tempo e distância de acesso, até o Aeroporto de Viracopos, de veículos de passageiros e cargas provenientes do Rio de Janeiro ou Vale do Paraíba, pela rodovia D.Pedro I.
Um dos efeitos do prolongamento será o fortalecimento do futuro Centro Logístico Integrado de Campinas, projetado pelo governo estadual. Os Centros Logísticos Integrados serão locais de transferência intermodais de cargas. Se for concretizado o projeto de trem regional, acenado pelo governo estadual, ou do próprio Trem de Alta Velocidade (TAV,ou trem-bala), pretendido pelo governo federal, Campinas terá um sistema intermodal completo, composto por aeroporto internacional, ferrovia e algumas das principais rodovias do país.
Outras obras – Duas outras obras viárias em fase final de projeto têm ligação direta com Viracopos. Uma é a construção de 7 km de marginais na Rodovia Santos Dumont, no trecho entre Campinas e o aeroporto. Atualmente esse trecho sofre de congestionamentos diários. A outra é a duplicação da própria rodovia “Miguel Malhado Campos”, que liga Vinhedo à Santos Dumont e Viracopos.
A quarta grande obra viária de Campinas será a ligação entre o Ouro Verde e o Campo Grande, fazendo a conexão entre os dois corredores de BRT previstos para estas regiões altamente populosas. A implantação do BRT, sigla em inglês para ônibus de trânsito rápido, demandará “mudanças importantes”, que já começarão a ser implantadas a partir do projeto de requalificação da avenida Francisco Glicério, como disse recentemente, em audiência na Câmara Municipal, o secretário municipal de Transportes e presidente da Emdec, Carlos José Barreiro.
Os corredores de BRT serão implantados com recursos do Programa de Aceleração do Crescimento da Mobilidade Urbana (PAC 2), do governo federal. A empresa portuguesa Engimind Brasil Consultores e Representação foi a vencedora da licitação para projetar os corredores. Serão 14,4 quilômetros de extensão no Ouro Verde, uma das regiões mais populosas de Campinas. No Campo Grande, também muito populoso, serão 17, 8 quilômetros, começando pelos trilhos desativados do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) na região central. A estimativa é a de que os corredores tenham capacidade de transportar 30 mil pessoas por hora nos dois sentidos.
Todas as obras viárias serão contempladas no plano de transporte e trânsito que a Prefeitura de Campinas está elaborando, para um horizonte de “25, 30 anos”, nas palavras do secretário Barreiro. O plano também incluirá as ciclovias, o BRT e outras ações viárias, que vão mudar o perfil urbano da cidade.
Centro de convenções – Também como impacto direto da ampliação do Aeroporto Internacional de Viracopos está a anunciada construção de um mega-Centro de Convenções em Campinas, uma demanda antiga do setor produtivo e de turismo. Campinas é a única cidade do Brasil com mais de 1 milhão de habitantes que ainda não tem um Centro de Convenções à sua altura.
O Royal Campinas – Convention Business & Hotels foi anunciado no dia 24 de setembro pela Odebrecht Realizações Imobiliárias e grupo Royal Palm Hotels & Resorts, de Campinas. O projeto prevê a edificação de um complexo com centro de convenções, hotéis, mal com gastronomia e conveniência, em local estratégico entre as rodovias Santos Dumont, Anhanguera e Bandeirantes.
Aeroporto-cidade – Todas as modificações previstas confirmam que Viracopos tende a ser o primeiro aeroporto-cidade do Brasil. O pesquisador John Kasarda, ex-diretor do Instituto Kenan da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, é um dos principais estudiosos do potencial de desenvolvimento local e regional a partir de aeroportos. E em vários trabalhos acadêmicos ou conferências, em diversos países, ele tem defendido que Viracopos, em Campinas, pode se transformar em um dos primeiros aeroportos-cidade do Brasil, ancorando um importante processo de desenvolvimento da região, assim como já acontece com os aeroportos de Amsterdam Schiphol, na Holanda, e Frankfurt, na Alemanha.
Kasarda e outros pesquisadores trabalham com o conceito de cidades-aeroportos ou “aerotrópoles”. Seriam cidades, ou aglomerações urbanas, planejadas e construídas a partir de aeroportos, que induziriam à implantação de uma série de serviços para atender aos negócios relacionados diretamente ao escopo das unidades aeroportuárias, mas também à população de modo geral que transita por elas. E empreendimentos imobiliários, de logística em geral e de desenvolvimento de pequenas e médias empresas de base tecnológica, de alto valor agregado, também seriam anexados ao longo do tempo, configurando verdadeiras “cidades”.
Uma “aerotrópole” típica seria aquela em pleno desenvolvimento a partir do aeroporto de Amsterdam Schipol, na Holanda. Por sua localização estratégica, próxima do megaporto de Roterdã e de importantes centros da economia mundial como Paris, Londres e Frankfurt, Schipol se tornou um dos mais importantes “hubs”, ou centros de distribuição da Europa. Diversas companhias globais montaram armazéns e centros de distribuição no entorno de Schipol, que também incluiu, ao longo do tempo, hotéis cinco estrelas, prédios de escritórios de última geração, complexos de compras em geral e outros empreendimentos imobiliários. Enfim, um verdadeiro cluster gestado a partir de um aeroporto.
Seria este o futuro do Aeroporto Internacional de Viracopos ampliado? John Kasarda não tem manifestado dúvidas em apontar Viracopos como o indutor de uma “aerotrópole” emergente, como afirmou na publicação “Airport World” e em vários trabalhos acadêmicos.
No caso de Campinas, a presença de um dos mais importantes polos científicos e tecnológicos do Brasil reforça, teoricamente, o potencial de consolidação de Viracopos como um aeroporto-indústria. Se o projeto de construção do Trem Metropolitano, ou mesmo – hipótese cada vez mais remota – do Trem de Alta Velocidade (TAV), entre Campinas e Rio de Janeiro, com uma estação em Viracopos, for efetivado, o potencial multiplicador de negócios e de movimento de pessoas do aeroporto será ainda maior.
Em qualquer um dos cenários, a ampliação de Viracopos terá, como já está tendo, impactos enormes no sistema de transportes, no mercado imobiliário e em outras áreas, exigindo um sério esforço de planejamento por parte das Prefeituras de Campinas e de vários municípios da região metropolitana situados em seu território de influência.
Viracopos, ao lado de outros aeroportos, foi objeto de concessão à iniciativa privada por parte do governo Dilma Roussef, no início de 2012 – desconcertando a muitos, pela agenda historicamente anti-privatista do PT. No final de agosto, a Cetesb anunciou um conjunto de 61 exigências para liberar o início das obras, o que se deu logo em seguida. Entre as exigências, que o grupo concessionário teria que cumprir, estão o monitoramento da fauna e das emissões atmosféricas, o financiamento de instalação de uma nova unidade de conservação no município, a contratação de mão-de-obra local e o controle do ruído. Outras exigências são ações integradas com demais prefeituras da região, monitoramento e reuso das águas, programa de comunicação social e rígido controle de segurança no trânsito.
A expectativa, não cumprida, era a de que até a Copa de 2014 estivesse concluída a primeira fase da ampliação, elevando para 14 milhões de passageiros/ano a capacidade de Viracopos, que hoje é de 5 milhões. Esta fase está quase concluída. Estão previstas cinco fases, ao longo da concessão de 30 anos, e no final das obras a capacidade de operação será de incríveis 80 milhões de passageiros/ano, que poderão ter acesso a shopping, cinemas e outros serviços típicos, sim, de uma cidade-aeroporto.
A articulação de diferentes modalidades de Arranjos Produtivos Locais (APLs) e o fomento a negócios de e-commerce (em franca expansão em todo mundo) tendo como base o aeroporto são alguns empreendimentos que Viracopos pode viabilizar, e muitos estudos já estão sendo realizados nesse sentido, pelo poder público, iniciativa privada e Universidades.