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Encontro celebra importância histórica de Campinas para o movimento da Cultura Viva Comunitária
Encontro na Sala dos Toninhos, na Estação Cultura: identidade e trabalho em rede (Foto Martinho Caires)

Encontro celebra importância histórica de Campinas para o movimento da Cultura Viva Comunitária

Por José Pedro Martins

“Campinas não pode perder a consciência da importância que tem para o movimento da Cultura Viva Comunitária na América Latina. Aqui nasceram os Pontos de Cultura e a rede que os une hoje é uma inspiração para o continente”. As palavras são ditas pela uruguaia Milagros Lorier, enquanto consome, com toda a calma do mundo, o seu chimarrão quase fervente, muito bem vindo na manhã gelada de terça-feira, 4 de julho de 2017. A sua afirmação resume o sentimento generalizado entre os brasileiros e estrangeiros que participaram do Encontro Cultura Viva nas Cidades da América Latina, realizado nos últimos quatro dias, em vários Pontos de Cultura e outros espaços de Campinas e região.

Milagros se refere ao nascimento daquele que é considerado como o primeiro Ponto de Cultura, no formato como esse protagonista cultural ficou conhecido, no distrito de Joaquim Egídio, no início da década de 1990, mas também à atuação de Célio Turino – mentor daquele Ponto de Cultura original – no Ministério da Cultura, na gestão de Gilberto Gil. Foi nesse período, e mais exatamente em 6 de julho de 2004, que acontece a criação do Programa Cultura Viva, sob a coordenação da atual Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC), do Ministério da Cultura (MinC).

Mais do que essas referências históricas, entretanto, a uruguaia Milagros, que atua no coletivo Arbol – TV Participativa, destaca a vitalidade da rede de Pontos de Cultura de Campinas, aquela que serve de “inspiração para o continente”. Pontos de Cultura como a Casa de Cultura Tainã, o Ibaô e a Fazenda Roseira – Jongo Dito Ribeiro, de onde Milagros guardou e vai levar para o seu país uma mensagem que calou fundo no seu coração.

Milagros Lorier, do Uruguai: inspiração em Campinas (Foto Martinho Caires)

Milagros Lorier, do Uruguai: inspiração em Campinas (Foto Martinho Caires)

“É muito importante o valor que o Jongo Dito Ribeiro e o Ibaô dão para a ancestralidade, a relevância que é enfatizar a ancestralidade que é comum na América Latina. Será um desafio pessoal para mim contribuir para valorizar a ancestralidade no Uruguai, país onde houve um genocídio dos povos indígenas e em que a questão da escravidão permanece marginalizada. Valorizar a ancestralidade é enfatizar o papel fundamental que a cultura negra teve para fertilizar as terras da América Latina”, diz Milagros, os olhos brilhando, enquanto mira o futuro.

Na segunda-feira, dia 3, à noite, os participantes do Encontro de Campinas estiveram na Câmara Municipal, onde participaram de um debate mediado pelo vereador Gustavo Petta. Ele é autor, a partir da iniciativa da rede de Pontos de Cultura, do projeto de lei que se transformou na Lei nº 15.089, de 9 de novembro de 2015. Institui a Política Municipal de Cultura Viva em Campinas.

A Lei de Campinas é pioneira no Brasil e falta apenas a sua regulamentação para entrar em vigor, com a abertura de editais e destinação de recursos. A Prefeitura já conta com recursos do Ministério da Cultura (MinC) para colocar em prática a política municipal da Cultura Viva, mas isso ainda depende da contrapartida do Município, o que ainda não ocorreu em função da crise econômica e fiscal em curso no país. O secretário municipal da Cultura, Ney Carrasco, que participou do encerramento do Encontro Cultura Viva nas Cidades da América Latina, afirmou que está havendo grande empenho para que a contrapartida seja concretizada, tão logo seja possível.

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No dia 21 de outubro de 2015, um convênio entre o MinC e a Prefeitura de Campinas foi assinado, para viabilizar o repasse de R$ 2 milhões para ampliação e consolidação da rede de Pontos de Cultura local. O convênio, assinado antes portanto do impeachment da presidente Dilma Rousseff, foi firmado pelo prefeito Jonas Donizette e a então secretária da Cidadania e Diversidade Cultural do MinC, Ivana Bentes.

“É muito simbólico que a primeira cidade a aprovar a Lei Cultura Viva seja Campinas, uma cidade percussora deste movimento de redes e entidades de todo o Brasil”, disse Ivana na época. A pesquisadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) participou do Encontro encerrado nesta terça-feira, na Sala dos Toninhos da Estação Cultura.

O fato é que o papel de Campinas na trajetória do movimento Cultura Viva Comunitária é reconhecido em todo continente. É mais uma contribuição da qual a cidade deve se orgulhar e zelar por ela.

 

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