Por José Pedro S.Martins
Pelo segundo ano, Campinas, no interior de São Paulo, esteve no epicentro da barbárie brasileira. No dia 11 de dezembro de 2018, Euler Fernando Grandolpho, de 49 anos, disparou com uma pistola automática contra fieis que tinham acabado de assistir uma missa na Catedral Metropolitana, dedicada a Nossa Senhora da Conceição. Quatro pessoas morreram na hora e uma quinta no dia seguinte, no hospital. Euler cometeu suicídio em seguida aos tiros. O evento de perfil praticamente inédito no país chamou a atenção da mídia brasileira e internacional.
Há dois anos, outra tragédia em solo campineiro. Na passagem de 2016 para 2017, quando um grupo de aproximadamente 20 pessoas comemorava o Réveillon, em uma residência na Vila Proost de Souza, o técnico de laboratório Sidnei Ramis de Araújo, de 46 anos, saltou o muro e surgiu atirando com uma pistola 9 milímetros. Também carregava explosivos de fabricação caseira.
A chacina foi imediata. Entre 15 pessoas atingidas pelas balas do atirador, 12 foram mortas, inclusive duas que eram o alvo principal de Araújo: a ex-mulher, Isamara Filier, e o filho de oito anos. Em seguida o assassino se suicidou. Entre as 12 vítimas, nove eram mulheres: um dos maiores feminicídios na história recente do país.
Dois eventos que mostram, em alta intensidade, o grau de violência letal na sociedade brasileira. De acordo com o Mapa da Violência 2016 (aqui), da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), o Brasil registrou impressionantes 967.851 mortes por armas de fogo entre 1980 e 2014. O Mapa da Violência observa que a Região Nordeste foi a que apresentou as maiores taxas de homicídios por arma de fogo (HAF) entre 2004 e 2014. A taxa média em 2014 foi de 32,8 HAF por 100 mil habitantes, “bem acima da taxa da região que vem imediatamente a seguir, Centro-Oeste, com 26,0″. Em 2015 foram 59.080 homicídios no Brasil, segundo o Atlas da Violência (aqui), produzido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA).
O Atlas confirmou que o direito à vida é ainda menos respeitado no caso da população negra. “De cada 100 pessoas que sofrem homicídio no Brasil, 71 são negras. Jovens e negros do sexo masculino continuam sendo assassinados todos os anos como se vivessem em situação de guerra”, afirma o estudo. Entre 2005 e 2015, acentua o Atlas, houve um crescimento de 18,2% na taxa de homicídio de negros, enquanto a mortalidade de indivíduos não negros diminuiu 12,2%.
(3º artigo da série DDHH Já, sobre os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos no cenário brasileiro. No 3º dia do mês de janeiro de 2019, o artigo corresponde ao Artigo 3: Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal)