Para mim esta é a grande mensagem de Rubem Alves: a poesia salva e liberta. Com ela tudo é possível. Pela poesia é possível vencer o mal, é viável sonhar com o belo e o bom, é factível acreditar na comunhão de afetos, contra a dor, o horror, o injusto. E com a poesia, ele sempre está dizendo, dá para construir uma nova escola, a escola que não seja prisão, mas espaço de liberdade e criação, para usar uma metáfora muito comum em sua vasta obra. Uma escola que liberte a sensibilidade.
Em meados da década de 1980, quando eu trabalhava na Agência Ecumênica de Notícias (AGEN), em São Paulo, produzi alguns textos para a revista “Tempo e Presença”, que era editada pelo CEDI – Centro Ecumênico de Documentação e Informação. A redação ocupava uma salinha do Colégio Sion, na avenida Higienópolis, pertinho da Cúria Metropolitana.
Uma das pautas foi ouvir uma série de escritores e intelectuais em geral sobre o significado atual (naquele contexto, pós-ditadura) dos Direitos Humanos. Pois um dos nomes indicados era o de Rubem Alves, que aliás escrevia para a revista. Conversei com ele por telefone, daquela salinha. Foi o primeiro contato com o grande educador. A resposta de Rubem Alves foi surpreendente.
Ele escapou do discurso tradicional sobre Direitos Humanos. Ele preferiu falar sobre o tema na perspectiva da poesia, do direito humano à beleza, à alegria, à felicidade. Foi o depoimento que mais agradou à equipe da revista e, creio, dos leitores dela.
Era uma senha. Rubem Alves fugia do convencional. Ele amava transitar pelas veredas do novo, do iconoclasta se necessário, assim como adorava caminhar e contemplar pelas ruas da Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico, em Campinas, a terra que adotou e que compreendeu como poucos.
Rubem Alves é uma das mais perfeitas sínteses da vocação de Campinas para romper fronteiras, para criar novas linguagens, em vários campos. Vocação meio esquecida nos últimos tempos, mas mantida, reiterada, a cada novo livro de Rubem Alves. Ele vislumbrava um vocabulário novo na educação, na política, na literatura. Ele ajudou a escrever uma nova gramática sobre o que é viver nestes tempos turbulentos e sobre o que é essencial.
E o essencial, para Rubem Alves, é o estado poético, a capacidade de encantamento em cada canto, em cada flor, com cada rosto. Não foi fácil para ele descobrir essa verdade fundamental. Foi um itinerário longo, perigoso, muitas vezes traiçoeiro. Ele teve que superar dogmas multisseculares, na teologia, na educação, na Universidade, na cultura, para chegar ao grande tesouro.
Ele gostava de cultivar jardins. Para Rubem Alves, o ser humano pode ser salvo quando ele de dispõe a cultivar jardins, pela via poética, sempre. Campinas, o Brasil, devem muito a ele. Que a cidade saiba reverenciá-lo, resgatando a capacidade de produzir novos idiomas, novos falares e cantares. (Por José Pedro Martins)
Li sobre ecumenismo, poesia e Rubem Alves.
E não paro de reler.
Muito bom, não é Rafaela?