Por Eduardo Gregori
Como diria Juca Chaves: O Rei está nu! E o bom disso é que ninguém está a dar a mínima se o rei ou o plebeu não têm vestes. Meu verão foi assim: nu. Calma, não quer dizer que andei sem roupas por Lisboa. Na verdade, aproveito os dias de calor e sol, que já estão a acabar, para relaxar completamente na beira do mar.
Eu já havia freqüentado praias de naturismo e nudismo no Brasil e até no gélido Canadá, mas desde que cheguei a Portugal não havia explorado as praias onde é permitido ficar sem roupas e quem assim o faz não sofre qualquer constrangimento.
Comecei pela Aldeia do Meco, uma linda e gigantesca praia em Sesimbra, pertinho da capital. São 20 minutos de carro desde Lisboa. Ao longo da praia, há quem prefira estar com seu traje de banho. Andando para o lado esquerdo da praia avista-se corpos e mais corpos desnudados queimando ao sol.
A mente sexualizada de um brasileiro já pensa em sacanagem, mas ao ver um casal com seus mais de 70 anos, queimadíssimos e caminhando contra o vento sem lenço e documento, me senti mais confiante.
A maldade, na verdade, está na nossa mente. Ao meu lado uma família inteira despida. A menina de pouco mais de 7 anos brincava alegremente na areia, enquanto o irmão, um pré-adolescente brincava na água com o pai. Aquela alegria familiar, aquele despudor e naturalidade me cativaram.
Meu amigo do Brasil que veio morar um tempo comigo hesita. Tem vergonha do corpo que já não é mais o mesmo quando era jovem. Digo-lhe que há muito fiz as pazes com a minha imagem no espelho. Eu era mais confiante quanto pesava 140 quilos. Acho porque chamava atenção pela minha altura e peso.
Depois veio a cirurgia e tudo mudou. Hoje com 80 quilos e pele já flácida pela idade e agravada pela perda de peso, não sinto vergonha do que me tornei aos 50 anos. Tento convencer meu amigo, mas ele no máximo fica de cueca. Dou risada.
Quando cheguei a Portugal ouvia sempre falar em outra praia, a 19, na Costa da Caparica, pertinho da minha casa em Almada. Pois em um dia de sol fui. Confesso que, apesar de tudo que li sobre a beleza da praia, contrastava com a questão de ser um local de encontros furtivos de homossexuais.
Fiquei meio reticente pois quando vou a uma praia vou para relaxar e não para ser observado como um frango assado a girar no espeto pronto para ser traçado por um cão faminto. Tal foi a minha surpresa de encontrar de fato uma praia linda, com água gelada e onde se via não apenas gays, mas todo tipo de gente vestida e nua.
O tal point de encontro realmente existe, mas fica em um arbusto gigantesco perto da falésia que percorre toda a praia. Ou seja, se você quer sexo, sabe onde ir, se não quer, fique na areia e tudo certo. Voltei outra vez e foi muito bom. No fim da tarde, um café na beira da praia completou o dia maravilhoso de verão.
Voltei outras vezes ao Meco e minha missão foi cumprida. Em um destas visitas, meu amigo ficou completamente nu e saímos caminhando pela areia até uma enseada onde as gaivotas descansam preguiçosamente. Senti-me feliz porque meu amigo começa a aceitar o corpo que a idade vem lhe dando. Desde então ele chega ao Meco e se sente seguro suficiente para tirar a roupa sem sentir-se envergonhado. É bonito vê-lo correndo pela praia como criança que descobre um brinquedo novo. Enxergo uma certa inocência.
O melhor desse verão nu é que não importa se o peito está caído, se a celulite está riscando os glúteos ou se o seu órgão genital não é tão monumental quanto ao de um ator pornô. Ninguém está ali para te avaliar fisicamente. Na verdade, quem está nu está tão invisível quanto estivesse no centro de Lisboa a correr no dia a dia.