Por Eduardo Gregori
Outro dia fui visitar um amigo em um hospital e o GPS me indicava um lugar que eu não conseguia entender no mapa. Isso sem dizer que o carro jamais chegaria por lá. Fui caminhando e percebi que precisava subir uma escadaria e o fim dela dava em um beco que no fim abria-se em uma passagem para a porta do hospital.
Depois consegui entender como as ambulâncias e os táxis passavam por ali. Um pouco complicado para quem vem de cidades que não têm muitos becos. Campinas só me lembro de um no Largo das Andorinhas e de Belo Horizonte realmente não me lembro de nenhum.
Mas Lisboa tem catalogado pela prefeitura mais de 150 becos. Imaginem isso? É beco que não acaba mais. Já faz algum tempo e eu estava andando pela cidade quando penso em cortar caminho e caio em um beco que abria para uma área residencial bem no centro da cidade. É como se estivesse escondida e protegida da vida urbana.
Os moradores me olharam, meio desconfiados, pois imagino que pouca gente deve passar por ali. Mas eu fiz como quem não percebe nada e caminhei até outro beco que dá passagem para a rua. Nestas minhas explorações alfacinhas, outro dia tinha de ir até a Avenida das Amoreiras, uma das áreas mais movimentadas, modernas e caras da cidade.
Tomei o trem em Almada e desci em Campolide, a primeira estação para quem cruza o Tejo vindo de Setúbal. Ligo o GPS e são 1,3 quilômetros de caminhada até a torre onde tenho de estar. Eu gosto de caminhar e de quebra vou conhecendo a cidade.
Já fora da estação ligo o GPS mas não entendo bem. Para começar, uma rua se transforma em uma passagem de pedestre toda ladeada de verde. E vou descendo, descendo, parece que vou chegar no centro da Terra. Olho com desânimo a ladeira que me espera. Subo e subo e o GPS parece se encontrar e diz: no fim do beco, cruze a linha férrea por baixo.
O beco vira um túnel e eu sinto um pouco de pânico, pois beco para mim parece coisa de filme de terror. Imagino que logo um assaltante ou um serial killer vai sair do outro lado correndo em minha direção.
Para minha surpresa, o túnel tem um espelho e é todo decorado com pinturas. Nada de arte de rua, mas pinturas mesmo e um poema sobre as festas juninas também pintado à mão. Parei para ler e apreciar cada centímetro. Fazia sol, então estava tudo bem iluminado.
Caminhei em direção ao Campo de Ourique e de lá para a Avenida das Amoreiras rumo ao meu compromisso. Uma hora depois estava de volta, parei no espelho e fiquei me observando entre palavras escritas sobre o vidro.
Um senhor atravessa e diz: É fixe, pois não? Digo que sim, é bonito. Me deu vontade de ficar por ali mais tempo, mas tinha que pegar o trem de volta para casa. Assim é Lisboa, uma surpresa boa a cada caminhada, a cada descoberta. E descobrir becos por aqui é muito fácil. E tem beco de tudo quanto é nome. Aliás, os nomes me motivam a conhece-los um dia: Beco da Bolacha, dos Contrabandistas, do Carrasco, das Farinhas, do Imaginário, dos Surradores e por aí vai.
Lisboa realmente é uma cidade fascinante e que encanta a quem resolve conhecê-la realmente e longe dos pontos manjados para turistas. Estou a entrar no terceiro ano aqui e, apesar de ter muita saudade do Brasil, não me vejo vivendo em outro lugar.
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