Ele sempre atende com a mesma gentileza, a mesma tranquilidade, a mesma disposição. Nascido em Santiago, Chile, Eduardo Castro está no Brasil há mais de 30 anos e é um dos artistas que há muito tempo expõem na Feira de Artesanato do Centro de Convivência Cultural, no coração do Cambuí, em Campinas. Como a de Eduardo, são muitas as trajetórias de renovação, transformação e reinvenção de projetos de vida entre os expositores, muitos deles originários de outras fronteiras. Além da arte em si, cada objeto de desejo apresentado nas dezenas de bancas, ou a céu aberto, tem uma história de afeto e luta para contar. Com a Feira, o Centro de Convivência consolidou um dos propósitos de seu projetista, o arquiteto campineiro Fábio Penteado, o de ser um espaço de conversa e troca entre culturas diversas, de diálogo entre diferentes concepções estéticas e filosóficas. A diversidade que está na raiz da cultura brasileira. (Primeiro artigo de uma série com os artistas da Feira do Centro de Convivência)
Eduardo é um legítimo representante da geração dos 60 e 70. Ele conta que veio ao Brasil porque o ambiente político e cultural chileno estava cada vez mais fechado, após o golpe militar que depôs o presidente Salvador Allende em 11 de setembro de 1973. O seu pai, Juan Castro, também era artista, trabalhando com madeira. A habilidade para criar, para materializar uma ideia, está portanto no DNA.
Como muitos “mochileiros” da época, ele chegou ao Brasil pelo Sul e foi subindo, subindo, até chegar em São Paulo. Na grande metrópole, uma verdadeira Universidade para Eduardo, a passagem pela lendária feira de artesanato da Praça da República. Nestas viagens, nestas paragens, conheceu a futura esposa, Silmara Rodrigues, de Dourados, Mato Grosso do Sul. O casal tem três filhos, Olivia, Esteban e Juan, uma homenagem ao avô.
Na República, Eduardo descobriu o seu talento para trabalhar com pedras e metais, de onde extrai sonhos, fantasia, em forma de anéis, pulseiras, colares e várias outras peças. Parece que cada uma foi e escolhida para o comprador, tem a “cara” dele. Ametistas, ágatas, cristais, jades, abalones, o multicolorido cardápio oferecido pelo artista encanta e abre portais da imaginação.
Eduardo acredita que a feira sempre fica mais animada quando há alguma atração musical. Aí a magia é perfeita e completa. Arte em diversos formatos, música e ótimas opções culinárias. “A feira aproxima as pessoas, é lugar de vida ativa”, diz ele. Um oásis, um santuário, no meio da pressa, do materialismo e do distanciamento que muitas vezes marca o cotidiano na grande cidade.
Enquanto isso, Eduardo mostra, a pedido de uma cliente, uma peça que é uma das campeãs de venda: um anel com pedra bruta, com base em metal. “Há 30 anos eu faço e vende sempre”, resume, sempre calmo, sempre aberto para o outro. (Por José Pedro Martins)