Kha Machado
Mediante a realidade das Políticas Culturais que vêm se deteriorando há alguns anos, não apenas em nossa cidade, mas no país como um todo, realidade essa em que assistimos o fechamento do Ministério da Cultura, a desvalorização de artistas e de toda e qualquer profissão das áreas de Humanas, a redução de verbas para investimentos, manutenção de espaços públicos e de equipamentos para a cultura, ataques criminosos a espaços de resistência cultural e aos nossos povos indígenas, tudo isso e muito mais, realidade agravada por um exponencial altíssimo com o advento da pandemia, o que esperar da Cultura de nossa pobre e castigada cidade?
Enquanto nossas cidades forem governadas por políticas neoliberais, políticas essas que tiram do Estado toda e qualquer responsabilidade sobre a Educação, Saúde, Meio Ambiente, Patrimônio, Cultura e muito mais, nossos desafios serão monstruosos. Enquanto prefeitos, secretários dissimulados não ouvirem a população, não respeitarem as representatividades da sociedade civil, atropelarem e driblarem leis e direitos do povo em favor de uma elite ignorante e do capital, nossos desafios serão imensuráveis. Enquanto tivermos estabelecido um comportamento egoísta, autoritário, hipócrita e genocida por parte de quem colabora com o abismo social, com os ataques à diversidade, com a exclusão das classes menos favorecidas, que insiste em não reconhecer o outro e não enxergar nada além do próprio umbigo, enquanto tivermos uma atitude de descaso com a fome, a miséria e a natureza, nossos desafios serão inalcançáveis.
Fazer Cultura é martelar incansavelmente sobre uma mesma tecla contra esse Mercado de destruição. Mas para isso não basta produzir Cultura, há que se produzir e conseguir pagar as contas, não é mesmo? Pagar as contas e ter o que comer. Há que se produzir e entender os mecanismos da Política Cultural do Estado. Ficar em cima dos caminhos do dinheiro, saber de onde vem, como vem e quanto temos por direito. Saber para onde ele vai e onde deve ser investido. Fazer Cultura é se organizar enquanto classe para fiscalizar o que fazem os que se acham donos desse dinheiro e que se acham suficientes para impor uma política cultural sem ouvir a classe, maior interessada. Para sermos ouvidos, só mesmo organizados. Esse, ao meu ver, é o maior desafio da Cultura para nossa cidade nos seus 250 anos.
Kha Machado é Músico, Compositor, Diretor Executivo da Rabeca Cultural e Conselheiro do CoMCult (Conselho Municipal de Cultura de Campinas)