Por José Pedro Soares Martins
Entre as 4,7 milhões de vítimas fatais da Covid-19 em todo o mundo até o momento, um número incontável de óbitos provavelmente se deve a uma pandemia paralela e igualmente letal, a da desinformação. Organização que há tempos tem sido protagonista no debate sobre o tema, com vários relatórios aprofundados, a Unesco até cunhou o termo Desinfodemia para destacar o impacto devastador da desinformação na gestão global da pandemia. Global, ressalte-se, essa praga não está circunscrita ao Brasil.
Os efeitos negativos, brutais, da desinformação ficaram evidenciados no cenário da pandemia mas as suas consequências já vinham sendo identificadas há tempos e em muitas outras áreas sensíveis, como as mudanças climáticas e campanhas de vacinação. O combate ao negacionismo científico tornou-se, de fato, um dos maiores desafios políticos e culturais contemporâneos.
Geralmente produzido com objetivos absolutamente condenáveis e escusos, o negacionismo tem adquirido maior relevância pela incrível rapidez na disseminação de informações e fake news através das redes sociais. No formato de memes ou de mentiras deslavadas mesmo, em campanhas praticadas por pessoas de carne e osso ou através da inteligência artificial, a desinformação tem sido fonte de muita dor e desesperança.
Um dos caminhos mais adequados para superar a escalada é o substancial incremento da divulgação científica. Não é recente a preocupação no campo da ciência a preocupação sobre como transmitir de forma adequada os resultados e os processos relacionados a projetos de pesquisa. Muitos cientistas brilhantes têm dificuldade em expressar de forma simples e compreensível para o grande público o que estão produzindo.
No panorama descrito inicialmente, o fomento da divulgação científica adquiriu contornos ainda mais significativos, particularmente no país em que as universidades públicas volta e meia são vítimas de campanhas de difamação e, novamente, desinformação. Valorizar a ciência, seus benefícios para a sociedade, é hoje uma tarefa vital, um imperativo civilizatório dos mais importantes.
Por tudo isso é tão auspiciosa a realização entre 27 e 30 de setembro do 1º Congresso Brasileiro de Divulgação Científica, fruto da parceria entre várias instituições com grande história na ciência e tecnologia, como Academia Brasileira de Ciências (ABC), Fapesp e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Nem é preciso lembrar como os congressos da SBPC foram fundamentais para ampliar e fortalecer o debate sobre as liberdades democráticas em plena ditadura militar.
Pois agora defender e estimular a Ciência tornou-se uma tarefa coletiva, vital para que se pense e se construa um Brasil e um planeta melhores. Somente com uma Ciência forte e muito mais valorizada, com objetivos focados no interesse público, dos bens comuns, os brasileiros e a humanidade em geral poderão edificar o tão sonhado mundo sustentável e enfrentar as trevas e a barbárie que insistem em produzir medo e morte. Acompanhar e participar do CBDC será portanto uma luz no meio de tantas sombras que estamos, todos, compartilhando.
Veja mais informações e como participar em: https://eventos.congresse.me/cbdc