Por José Pedro Soares Martins
O Movimento de Justiça e Direitos Humanos (MJDH) foi fundado em 25 de março de 1979, embora o registro jurídico tenha sido obtido em 11 de agosto de 1980. Em colaboração com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e várias outras organizações, e com atuação sobretudo na área do Cone Sul, o MJDH participou de diversos casos, como na denúncia do sequestro dos uruguaios Lilian Celiberti, seus dois filhos menores, e Universindo Díaz, ocorrido em Porto Alegre, no dia 12 de novembro de 1978.
O caso teve repercussão mundial. Depois de cinco anos presos no Uruguai, o casal foi solto com o fim da ditadura em seu país. Em 1980 dois policiais brasileiros que participaram da operação foram condenados pela justiça brasileira – eles tinham sido flagrados, no apartamento onde Lilian era mantida prisioneira, pelos jornalistas da sucursal de “Veja” em Porto Alegre, Luiz Cláudio Cunha e João Baptista Scalco.
O fundador e presidente do MJD, Jair Kritschke, defende a tese de que a Operação Condor, cooperação entre os governos militares na época, foi lançada na prática no Brasil.
“Em 11 de dezembro de 1970, o Brasil deu inicio a esta prática ao atuar em conjunto com o aparelho repressivo da Argentina, no caso do sequestro em Buenos Aires do coronel do exército brasileiro, Jefferson Cardim de Alencar Osorio, seu filho e um sobrinho. Trata-se do primeiro caso fartamente documentado”, comenta.
O “batismo” da Operação Condor aconteceu na reunião ocorrida no Chile, entre os dias 25 de novembro e 01 de dezembro de 1975, com a participação de representantes dos governos militares da região. Krischke observa que os representantes brasileiros não assinaram a data de “fundação” da Operação Condor. “Este elemento levou algumas pessoas a afirmarem que o Brasil não participou da Operação, o que absolutamente não é verdade, como demonstra farta documentação”, completa.
“O que aconteceu no Brasil foram crimes lesa-humanidade e sou daqueles que acreditam que, se um ser humano foi violado em seus direitos, toda humanidade foi”, conclui Jair Krischke, presidente da organização que fundou com outros ativistas pelos direitos humanos e cujo modesto escritório, no centro de Porto Alegre, mantém em destaque na parede um cartaz com o primeiro artigo da Declaração Universal dos Direitos Humanos traduzido em várias línguas.
(9º artigo da série DDHH Já, sobre os 30 artigos da Declaração Universal dos Direitos Humanos no cenário brasileiro. No 9º dia do mês de janeiro de 2023, o artigo corresponde ao Artigo 9: Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado )