Por Adriana Menezes
A edição do Mercado Mundo Mix em Campinas, neste fim de semana (21 e 22 de março), trouxe de volta à região o universo da criatividade sem barreiras para o consumo. Em ambiente inclusivo, informal e, naturalmente, criativo, o evento reuniu mais de 150 expositores e atraiu um público que superou 45 mil pessoas (20 mil a mais do previsto). O sucesso do evento prova que existe hoje uma forte demanda para este gênero de feiras com foco na Economia Criativa. Também foi mais uma oportunidade para mostrar que a Estação Cultura, histórico patrimônio arquitetônico de Campinas, pode ser palco de grandes e bons eventos, mas que para isso merece uma estrutura mais adequada para seu uso e preservação.
Criado em 1994 por Beto Lago, o Mercado Mundo Mix promoveu duas feiras em São Paulo no ano passado, depois de uma temporada de dez anos na Europa, e comemora agora seus 21 anos com as edições de Campinas e outras já agendadas no Rio de Janeiro (RJ), Curitiba (PR), São Paulo e Santos (SP).
Oportunidades
Beto Lago foi inovador na década de 90 com este novo olhar sobre o empreendedorismo, voltado para a Economia Criativa, que consiste em uma ação empreendedora com base no talento individual, em áreas diversas. “O Mundo Mix é considerado uma grande oportunidade para artesãos, designers e artistas de diversos segmentos mostrarem seus trabalhos sem o alto investimento necessário para se montar um negócio”, afirma Lago, que foi um dos responsáveis pela revelação de talentos como os estilistas Heitor Werneck, Marcelo Sommer e Alexandre Herchcovitch, e marcas como Chilli Beans e Cavalera.
Esse olhar multidisciplinar, da criatividade com resultados e da economia colaborativa do Mercado Mundo Mix deu oportunidade para o bailarino e professor de dança Valter Lucas, de 30 anos, que expôs no Mercado Mundo Mix de Campinas os seus acessórios masculinos da marca Man Pirates. Há três anos Lucas criou uma loja virtual para vender as peças que começou a fazer e usar.
“Da minha própria dificuldade de achar acessórios masculinos, como pulseiras e colares que eu só encontrava em lojas de shoppings muito caras, eu comecei a fazer minhas peças. Peguei as coisas da minha mulher e comecei a ver como eu poderia fazer. Os amigos perguntavam e pediam, então eu vi que podia vender. Abri uma página e hoje vendo para o Brasil inteiro. A renda do Man Pirates já é quase a mesma do meu trabalho como bailarino e professor”, conta Lucas, que não pretende abrir mão da dança, mas cada vez formaliza mais a sua empresa.
Mundo Mix é sua segunda feira. A primeira foi no Festival Internacional de Hip Hop, em Curitiba. Lucas utiliza couro, metais e pedras. As peças mais vendidas são as pulseiras.
Um vagão de ideias
O fotógrafo Ricardo Lima (Lilika) dividiu um vagão de uma antiga locomotiva com as meninas do Mercado Las Cosas, onde ele tirava fotos de quem se dispunha a ser clicado por ele, num cenário especialmente preparado para a ocasião, enquanto as sócias Desirré Franco e Milene Carlstrom, da Las Cosas, mostravam suas peças. As fotos eram vendidas a R$ 30,00, e as peças tinham seus preços variados.
As duas campineiras também enxergaram oportunidade no Mundo Mix para dar visibilidade ao trabalho que fazem há dois meses. Elas abriram uma loja física em Campinas (rua General Osório, 1565) para vender o garimpo que fazem de roupas de segunda mão, além das peças exclusivas de estilistas da região de Campinas e de São Paulo que elas procuram revelar. Ambas já eram envolvidas com iniciativas ligadas à moda, à arte e à criatividade.
“Na Las Cosas nós também alugamos, por três dias, as peças que a pessoa queira usar em ocasião especial. E as peças usadas que vendemos fazem sempre referência a alguma outra época”, contou Desirré, de 36 anos. “Somos loja física e formal, mas o Mundo Mix tem o nosso público.” Além da loja, Milene, de 37 anos, também é responsável pelo Bazar Club das Pin-Ups; e Desirré faz produção de Toy Art.
Também na moda, a empreendedora campineira Isabel Francisca Moreira, que criou a marca Chica Moreira, participou do Mundo Mix Campinas neste fim de semana. Formada em teatro, Isabel vendia roupas indianas e bordados para aumentar sua renda. “Sempre com as referências do teatro.” Teve loja entre 2005 e 2010, depois de 2011 a 2014. Hoje, não tem mais espaço físico e participa de feiras por todo o Brasil.
“Pagar o aluguel, funcionário, imposto e taxas torna tudo difícil. Também tenho um custo para participar das feiras, onde as pessoas se juntam para promover aquilo que elas criam, mas é diferente”, explica Isabel, que continuou criando e produzindo as suas roupas, mesmo depois de fechar a loja, e manteve sua marca, inclusive pagando os mesmos impostos, mas com menores custos.
Ousadia e criatividade
As filas que se formaram ao lado da Ford Rural amarela, 1976, surpreenderam até o idealizador Rafael Castellani, de 23 anos, que veio de São Paulo para participar do Mundo Mix Campinas. Ele e sua namorada, Joyce Rayane, de 21 anos, trouxeram a Velhas Virgens Rockin’ Beer, cerveja artesanal de Ribeirão Preto, produzida pela Cervejaria Invicta, de Rodrigo Silveira, que eles tiram de uma torneira instalada no carro. Há apenas cinco meses Rafael empreendeu e desde então participa de feiras todos os finais de semana.
Ele conta que tudo começou em 1986, antes mesmo dele nascer, com a banda Velhas Virgens, que também dá nome a um bar na Zona Norte de São Paulo, perto de sua casa. Rafael começou a frequentar o bar, conheceu o baixista da banda, Tuca Paiva, que é mestre cervejeiro e os dois se tornaram sócios. Além de empreendedor, Rafael é mecânico, com curso de manutenção automotiva e tudo mais. Abriu uma oficina em casa, mas nos finais de semana pega o carro que era do seu pai, onde ele passeava quando tinha 3 anos de idade, e vai às feiras vender cervejas especiais. Ele gastou cerca de R$ 5 mil para adaptar o carro, colocando torneiras, comprando a chopeira e fazendo balcão e tenda. Hoje, essa atividade, no Velhas Virgens Truckin’ Beer, é a sua principal renda, em apenas cinco meses de iniciativa.
Público
O físico e professor da Unicamp Marcelo Knobel visitou o Mundo Mix no sábado com a mulher e a filha. “Está legal”, disse Knobel. “Acho fundamental a iniciativa, porque há muitos talentos no país e no mundo, onde está difícil conseguir se destacar e se mostrar. Deveria haver mais iniciativas como esta, que cria oportunidades. Dá para ver que existe demanda”, conclui o físico.
O músico Ding-Dong, que tocou no sábado com o grupo que integra – Sinuca de Bico – durante a feira, permaneceu no Mundo Mix para ver as outras atividades. “Eu sou mix. Acho que a coisa de misturar é o melhor. É samba, eletrônico, tudo junto. A gente precisa pegar o gene dessa coisa porque cada vez mais o mundo é mix, é maravilhoso”, definiu o músico.
O evento teve o apoio da Secretaria de Cultura de Campinas. Os cerca de 45 mil visitantes encontraram na feira diversos produtos de economia criativa, como roupas (feminina, masculina, infantil e plus size), calçados, bijuterias, objetos de arte e decoração, acessórios para cabelo, cintos, bolsas, mochilas, carteiras, e serviços variados como barbearia, tatuagem, entre outros. Além de vasta programação cultural, houve apresentação de DJs de Campinas, com a rádio MMM. No sábado, teve apresentação do grupo Sinuca de Bico.
Programação Cultural
Abaixo, toda a programação cultural divulgada pela assessoria de imprensa do Mercado Mundo Mix de Campinas e as opções gastronômicas que tinham nesta edição.
A Galeria Sem Nome é responsável pela curadoria das obras expostas no Mercado Mundo Mix. Com o tema “Mulher”, artistas de todo o Brasil participaram desta edição, respondendo ainda pela curadoria de Live Painting e pelas oficinas.
O Espaço Cultural Lince Negro e o Polo Funk Master deram movimento ao evento, com diversas apresentações de dança fazendo das instalações da Estação Cultura um grande picadeiro com as apresentações da Cia do Circo.
O ateliê de produção artística da moradia da Unicamp apresentou suas obras, estudos e intervenções sobre o Empoderamento Feminino. Já o Boteco da Estação recebeu a estrutura de diversos bares de Campinas, com apresentações musicais e comidinhas de boteco.
O Espaço Bem Estar foi destinado aos cuidados pessoais, com barbearia, salão de beleza, hair style, massagens, meditação, designers de unhas, entre outros serviços.
Já a Incubadora de Talentos foi um espaço exclusivo, destinado a estudantes de Moda, Arte e Decoraçãoe a novos talentos, que buscam por espaço no mercado. Senac e Esamc estiveram presentes com estandes.
Por fim, diversos projetos culturais e sociais estiveram presentes nesta edição do Mercado Mundo Mix Campinas, como a Campanha do Agasalho, Hercules Florence e Escola Viveiro.
O Food Park Mundo Mix deu espaço aos food trucks, que levam às ruas propostas de alimentação que até então só estavam disponíveis dentro de restaurantes. Entre os trucks presentes nesta edição do evento, nomes como Crepe Sabor de Paris, Flipchips, Porqueta Grill, SpiroGiro, Los Mendozitos, Bang Bang, La Mia Pasta, Espetao, Aleatorium, Salga SP, Baron, Da Pavirada, Di Prima, Carro Chef, e muitos outros, além de diversas tendas. “Hoje existe uma lei municipal que regulamenta a comida de rua em São Paulo. Queremos expandir este direito para outras cidades do país e começamos este trabalho dentro do Mundo Mix”, finaliza o idealizador do evento, Beto Lago.
Legal sua matéria! Criatividade na economia e também no título da matéria…adorei!
Vi muita coisa bacana no MMM, descobri iniciativas que unem a economia criativa com a economia solidária.
Acho isso incrível!
Bjs