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Departamento de Cinema do Centro de Ciências formou gerações de cinéfilos
Marino Ziggiatti e o projetor Pathé: mais de 400 filmes exibidos pelo Departamento de Cinema do CCLA (Fotos Adriano Rosa)

Departamento de Cinema do Centro de Ciências formou gerações de cinéfilos

 

AMANTES DO CINEMA – II

Por José Pedro Martins

Uma vez ou outra, o presidente do Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), de Campinas, Marino Ziggiatti sobe as escadas até a sala no ponto mais alto do prédio que abriga a instituição, para apreciar um objeto histórico. Visto de longe, parece uma máquina de costura, mas na realidade é um projetor da marca francesa Pathé, nome estreitamente ligado à história do cinema. Com esse projetor, Marino promoveu centenas de sessões pelo Departamento de Cinema do CCLA, que ele criou em 1955 e dirigiu por muitos anos. Na prática, foi o primeiro cineclube estruturado em Campinas, mais um exemplo da relação amorosa que a cidade mantém com o cinema desde o advento da Sétima Arte.

Marino consolidou sua paixão pelo cinema quando estudava Engenharia no Mackenzie, em São Paulo. Na capital paulista, conheceu e cultivou muitos nomes ligados ao cinema no Brasil, como o crítico Paulo Emilio Salles Gomes. O campineiro frequentava os cursos de cinema oferecidos no MASP, conhecidos por formar gerações de cinéfilos com visão crítica e ansiosos pela produção nacional e internacional.

Em Campinas, Marino comentava sobre filmes e artistas com outros membros da Sociedade Reunidas, uma organização que agrupava médicos, engenheiros e advogados – as profissões mais cobiçadas em meados do século 20. Em um encontro na Sociedade Reunidas, o engenheiro recém-formado recebeu um convite de Roberto Pinto de Moura, para fundar e dirigir o Departamento de Cinema do CCLA.

Criado em outubro de 1901, o Centro de Ciências, Letras e Artes dedicou-se desde o início aos diferentes ramos da cultura, com mais ênfase em seus primórdios na literatura, ofício de muitos de seus fundadores, como Cesar Bierrenbach e Coelho Netto. Em 1911, o CCLA sediou uma das duas mostras organizadas no Brasil por Lasar Segall – foi uma das primeiras exposições de arte moderna na América Latina.

A ligação de Campinas com o cinema –  Mas faltava uma dedicação maior ao cinema, a arte que “explodiu” com a Segunda Guerra Mundial. Campinas já tinha algumas salas, como o Voga (de 1941), o Carlos Gomes (de 1947) e o Windsor. Em 1927, foi produzido na cidade um dos primeiros filmes nacionais, “João da Matta”, de 1923, iniciativa de Amilar Alves.

Estava amadurecendo a criação de um espaço dedicado ao cinema, que funcionasse com o um verdadeiro cineclube, como os que já existiam no eixo Rio-São Paulo. A oportunidade veio com a fundação, em 1952, do Departamento de Cinema do Centro de Ciências, Letras e Artes, sob a direção de Marino Ziggiatti.

O Departamento funcionou durante muito tempo com dois pilares: o próprio Marino e o poeta e escritor Eulálio Brito. Os contatos de Ziggiatti com a Cinemateca Brasileira, fundada por Paulo Emilio Salles Gomes, foram muito úteis, facilitando a vinda para Campinas de muitos filmes nacionais e estrangeiros.

“A nossa ideia sempre foi facilitar a exibição em Campinas das obras mais expressivas, representando as diversas tendências do cinema no mundo”, explica Marino. Com esta premissa, o Departamento de Cinema do CCLA exibiu obras do Neorealismo italiano, da Nouvelle Vague francesa, do Cinema Noir americano, da filmografia alemã e europeia em geral, sem falar de filmes japoneses e outras nacionalidades. Na década de 1960, o Cinema Novo brasileiro foi atração constante, em uma época em que o Departamento de Cinema atuou muito próximo do Cine-Clube Universitário de Campinas (CCUC), fundado a 19 de março de 1965, com Ribeiro Borges e Dayz Fonseca à frente.

De forma alinhada com o propósito de ampliar o horizonte da exibição e discussão cinematográfica em Campinas, o Departamento também promoveu vários cursos de cinema, tendo como professores o próprio Paulo Emilio Salles Gomes e Rudá Andrade, o filho de Oswald e Patrícia “Pagu” Galvão, ente outros.

A atividade do Departamento não ficou por aí. Totalmente sintonizado com o movimento cineclubista nacional, o Departamento do CCLA realizou, entre 1973 e 1983, um dos mais importantes festivais de Super-8 do Brasil. “Muitos filmes eram censurados, mas eu dava um jeito e passava todos”, lembra Marino Ziggiatti.

No total, mais de 400 filmes exibidos pelo Departamento de Cinema do CCLA. As atividades ligadas ao cinema continuam no Centro, como uma comprovação do amor de seus integrantes pela Sétima Arte.

Em 2014, por exemplo, o CCLA promoveu uma exposição sobre Federico Fellini (1920-1993), com desenhos, recortes e livros sobre o cineasta italiano, além da exibição de algumas de suas grandes obras. A exposição teve a curadoria de João Antônio Buhrer de Almeida, colaborador do CCLA, e comprovou como o Centro de Ciências, Letras e Artes sempre esteve, e continua a estar, atento a essa linguagem artística que ajudou a moldar a sociedade contemporânea, tendo Marino Ziggiatti como o maior incentivador.

 

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