A multiplicação do pão eleitoral, que são os novos municípios, é uma das razões do domínio há décadas do poder no Brasil por grandes máquinas partidárias. Nas últimas três décadas, a população brasileira quase duplicou, o índice de urbanização atingiu mais de 80% e mais de 1500 novos municípios foram criados. Neste período, em que o pluripartidarismo foi conquistado no contexto da redemocratização, as grandes máquinas partidárias acabaram sendo beneficiadas com a criação de novos entes municipais, significando 1500 novos prefeitos e milhares de novos vereadores como potenciais cabos eleitorais.
Não por acaso o PMDB, parceiro no poder há muitos anos, saiu dessa escalada de crescimento do número de municípios como o maior partido do país. Os números de municípios criados estão na publicação “Brasil em Números 2014″, que acaba de ser divulgada pelo IBGE.
Em 1991, com uma população de 146 milhões, o Brasil tinha 4491 municípios. Em 2000, quando o país tinha quase 170 milhões de habitantes, já eram 5507 municípios. Nesta década, em que foram criados mais de 1000 municípios, começou a ficar nítida a presença de cinco grandes máquinas partidárias em esfera municipal.
O PMDB saiu com a maior base municipal das eleições de 1996, as primeiras municipais depois do Plano Real de 1994. O PMDB fez 1295 prefeitos, ou 24,08% dos eleitos. O PSDB, muito fortalecido com a popularidade do Real e do governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, foi o segundo maior vencedor, com 921 prefeitos eleitos (17,12% do total). O terceiro maior partido era o PFL (depois DEM), com 934 prefeitos. O PPB (atual PP) teve 625 prefeitos eleitos. O PT elegeu somente 110 prefeitos, ou 2,05% dos eleitos.
Nas eleições de 2000 o PMDB continuou tendo predomínio, com a eleição de 1257 prefeitos, ou 22,61% dos eleitos. O PSDB também teve ótimo desempenho, com a eleição de 990 prefeitos, ou 17,81% dos eleitos. O PFL fez 1028 prefeitos, o PPB fez 618 e o PT continuou tendo desempenho modesto, com a eleição de 187 prefeitos, ou 3,36% do total.
Uma modificação de panorama foi registrada na primeira década do século 21, quando ocorreu um número muito menor na criação de novos municípios. Em 2010, com uma população de 190 milhões, e já no governo do PT, eram 5565 municípios.
Nas eleições de 2004 o PMDB continuou sendo o maior partido, embora com tendência de queda, com a eleição de 1060 prefeitos, 19,06% do total. O PSDB elegeu 870 prefeitos, 15,65% do total, e o PFL, 794 prefeitos, 14,28% do total. O PT mais do que dobrou a sua performance, com a eleição de 410 prefeitos, 7,37% do total. Quatro anos depois, em 2008, o sexto do governo Lula, o PMDB voltou a ter ótimo desempenho, com a eleição de 1207 prefeitos, 21,69% do total. O PSDB fez 788 prefeitos, 14,16% do total, e o PT já era o terceiro maior partido em esfera municipal, com 558 eleitos, ou 10,03% do total, superando o PP, que elegeu 556. O DEM, sucessor do PFL, elegeu 501 prefeitos.
Nas últimas eleições municipais, de 2012, os três maiores partidos mantiveram suas posições. O PMDB elegeu 1020 prefeitos, ou 18% do total (contra 24,08% em 1996). O PSDB permaneceu em segundo, com a eleição de 696 prefeitos 12% do total (contra 17,12% em 1996). E o PT aumentou ainda mais a base municipal, com 639 prefeitos eleitos, 11,5% do total (contra 2,05% em 1996). O quarto posto foi assumido pelo PSD de Gilberto Kassab, com 493 prefeitos eleitos, 8,9% do total. E o quinto ficou para o PP, com 469 eleitos, ou 8,43% do total. O PSB também aumentou consideravelmente a sua presença municipal nas últimas décadas. Em 1996 tinha 150 prefeitos eleitos e, em 2012, foram 442, o que o torna o sexto maior do país.