Por José Pedro Martins
“À benção os mais velhos e mais novos aqui presentes, aos deuses e orixás. Gostaria de expressar tudo o que está no meu coração neste momento, são tantas narrativas presentes, da cultura afro-ancestral, marcada pela dor e sofrimento, mas com muita fé e de mãos dadas nós conseguimos fazer o que fazemos porque acreditamos”. Com estas palavras, em um ambiente de muita emoção, Alessandra Ribeiro agradeceu na tarde desta quarta-feira, 8 de julho, o gesto do prefeito de Campinas, Jonas Donizette, que assinou o termo de permissão de uso da Casa de Cultura Fazenda Roseira para a Comunidade Jongo Dito Ribeiro.
A permissão de uso é concedida sete anos depois da ocupação da sede da Fazenda Roseira pela Comunidade Jongo Dito Ribeiro. O secretário municipal de Cultura, Ney Carrasco, lembrou que logo após a posse da atual gestão municipal, em 2013, a Casa de Cultura Fazenda Roseira já havia sido oficializada como equipamento ligado à Secretaria Municipal de Cultura. “Este é um reconhecimento da importância do Jongo, tão relevante para a cultura de Campinas”, disse o secretário, lembrando que o Jongo e a Capoeira são as duas primeiras manifestações consideradas patrimônio cultural imaterial da cidade.
O secretário Ney Carrasco também entregou, durante o ato desta tarde, o alvará para o funcionamento do Arraial Afro-Julino da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, no próximo sábado, 11 de julho, na Casa de Cultura Fazenda Roseira. O vereador Gustavo Petta lembrou, por sua vez, que a oficialização da permissão de uso viabiliza novos investimentos, de órgãos federais e estaduais, na Casa de Cultura Fazenda Roseira.
Para o prefeito Jonas Donizette, a assinatura da permissão de uso representa “um reconhecimento desta história bonita da Comunidade Jongo Dito Ribeiro, à forma como ela vem ocupando a Fazenda Roseira, com uma grande divulgação e valorização da cultura negra”. Ele se disse “muito feliz em ser o prefeito que assinou esta autorização”.
Muitos representantes da comunidade afro-brasileira de Campinas estavam presentes no ato. Um deles era TC, coordenador da Casa de Cultura Tainã, o primeiro espaço com permissão de uso obtido pela comunidade negra na história recente de Campinas. “É muito importante o reconhecimento dos espaços da comunidade negra, em uma cidade que foi marcada pela escravidão mas que tem uma história de resistência cultural por parte dos afro-brasileiros, tendo o Jongo como uma de suas manifestações expressivas”.
Dito Ribeiro – O mineiro Dito Ribeiro chegou a Campinas na década de 1930 e desde sempre praticou o jongo em sua casa. Era devoto de São Benedito e de Mestre Tito, um ex-escravo cujo túmulo no Cemitério da Saudade atrai milhares todos os anos. Foi de Mestre Tito a ideia inicial de construir a Igreja de São Benedito naquele local. Falecido em 1882, não conseguiu ver o seu sonho realizado – a Igreja foi inaugurada em 1885.
“Para mim é um enorme privilégio contribuir com o resgate e a divulgação dessa tradição”, afirma Alessandra Ribeiro, neta de Dito. Ela admite que apenas na idade adulta teve contato com o jongo, em um processo de construção da própria identidade, como acontece com grande parte da comunidade afro-brasileira.
Alessandra fez a descoberta em meio a muitas pesquisas e a partir de 2002 começou a ser estruturada a Comunidade Jongo Dito Ribeiro, que passou a desenvolver suas atividades na Fazenda Roseira, em 2008. Após agradecer o prefeito pelo gesto, Alessandra convidou a todos a repetirem, de mãos dadas, as palavras ditas na abertura de uma roda de Jongo: “Seguro sua mão na minha para que juntos possamos fazer aquilo que não posso fazer sozinho”. E, com uma animada roda de Jongo, terminou o ato histórico no Salão Azul, no quarto andar do Palácio dos Jequitibás, a sede da Prefeitura de Campinas.