Ecologia política pós-capitalista, bens comuns, neocolonialismo, Antropoceno. Para discutir as possibilidades de uma “ecologia política indisciplinada”, a Rede Europeia de Ecologia Política, com apoio da FP7 e Marie Curie Actions, vai realizar a Conferência Internacional Ambientes Indisciplinados, entre os dias 20 e 23 de março de 2016, em Estocolmo, na Suécia. A capital sueca foi a sede, em 1972, da primeira conferência das Nações Unidas sobre meio ambiente, um marco histórico para a temática cada vez mais presente e urgente. O evento de 2016 também tende a ser um divisor de águas.
O evento é co-organizado pelo Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra e o Laboratório de Ciências Humanas ambientais do Instituto Real de Tecnologia KTH, Estocolmo. As inscrições de papers, painéis, mesas redondas e outras formas de participação serão aceitas até o dia 30 de setembro de 2015.
Os organizadores observam que “poder e conflito estão no cerne das mudanças sócio-ambientais, mas o conhecimento existente e das estruturas de ensino superior estão mal equipados para lidar com elas. A maioria das pesquisas ambientais socialmente relevantes ocorrem dentro de silos isolados disciplinares e tem uma orientação disciplinar. As questões foram formuladas em relação às tradições acadêmicas, não em termos de estrutura dos problemas e os conflitos atuais, que transcendem a departamentalização convencional. No entanto, como vivemos em ambientes indisciplinados, precisamos pensar de forma indisciplinada”.
A Conferência vai oferecer três sessões plenárias, cada um com um diálogo entre dois palestrantes de diferentes ambientes geográficos e disciplinares. A sessão sobre Ecologia Política Descolonial terá como principais oradores Kim Tallbear, da Universidade do Texas, em Austin, e o brasileiro Ailton Krenak, líder Krenaki e intelectual público, Krenak fez um pronunciamento histórico na Assembleia Nacional Constituinte, que redigiu a Constituição de 1988.
Os organizadores da Conferência notam que o “colonialismo ainda perdura nas interações sociais, culturais, econômicas e ecológicas, não só como um processo estrutural, mas também a informar as relações entre as pessoas e os outros companheiros humanos e de natureza não-humana”. Assim, esta sessão plenária vai abrir a Conferência com um debate sobre como a ecologia política pode interagir com as discussões indígenas, da descolonização e estudos de gênero, bem como no pensamento político e social emancipatório, “contribuindo assim para a descolonização do conhecimento social e ambiental”.
A sessão Ecologias pós-capitalismo terá como oradores Catherine Larrère, da Université de Paris I-Panthéon-Sorbonne, e Noel Castree, da University of Manchester. Indo além da humanidade reduzida à figura do homem branco universal, a sessão vai abrir o debate sobre a era batizada de Antropoceno “como uma materialidade radical contemporânea que nos convida a imaginar as possibilidades emancipatórias de uma situação apocalíptica”. Apesar de muita crítica acadêmica, para os organizadores as idéias tradicionais de conservação, sustentabilidade e crescimento verde continuam a dominar a arena da política ambiental. Deste modo, se o Antropoceno é fase atual do capitalismo, “como podemos imaginar um cenário pós-capitalista da libertação ecológica? Como podemos falar de uma democracia pós-humanista radical baseada nas transformações igualitárias das relações sócio-ecológicas?”
E a terceira sessão da Conferência Internacional Ambientes Indisciplinados será sobre Cercas versus Bens Comuns, com a participação como oradores de Nancy Peluso, da Universidade da Califórnia em Berkeley (a confirmar), e Ugo Mattei, da University College International, de Turim. Desde Chiapas, notam os organizadores, os bens comuns tornaram-se o objeto de muita discurso ecológica radical e prática social. “De acordo com muitos estudiosos, estamos testemunhando agora uma nova fase, marcada pelo recrudescimento da grilagem de terras em áreas rurais e despejos de habitação nas cidades, bem como pelaa mercantilização da atmosfera e da própria vida”. Esta sessão será então um convite à reflexão sobre como a ecologia política pode contribuir para a abertura do debate sobre “bens comuns” para além das fronteiras disciplinares, e em diferentes escalas espaciais e organizacionais. “O que implicaria a ecologia política abraçar ativamente uma política renovada dos bens comuns?”, indagam os organizadores.
Além das três sessões plenárias, a conferência vai sediar uma série de sessões de painéis paralelos e intervenções não-acadêmicas. Nesse sentido, serão incentivadas apresentações sobre qualquer assunto de relevância para uma definição ampla da ecologia política indisciplinada. Serão aceitas contribuições em uma variedade de formatos: apresentações acadêmicas e mesas-redondas, materiais de áudio / vídeo, filmes documentários, performances ao vivo (poesia, música, teatro), foto ou exposições de arte, graffiti, e outros.
Todas as propostas devem ser enviadas via e-mail para o endereço entitleconference@politicalecology.eu até 30 de setembro de 2015. O campo “assunto” deve especificar a tipologia de apresentação (apresentação individual, painel, mesa redonda, a intervenção não-acadêmico) e uma ou mais palavras-chave.
A língua de trabalho da Conferência é o inglês, mas o comitê científico pode considerar apresentações individuais em outros idiomas na eventualidade de que a tradução possa ser fornecida. Se aceitas, apresentações orais em outros idiomas devem ser acompanhadas por uma apresentação de slides em Inglês. Maiores informações: http://www.politicalecology.eu/news/item/entitleconference