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Debate sobre a desigualdade planetária chega à elite no Fórum de Davos
No México, a fortuna de quatro multimilionários era de 2% do PIB em 2002 e atingiu 9% em 2014, segundo a Oxfam (Foto José Pedro Martins)

Debate sobre a desigualdade planetária chega à elite no Fórum de Davos

Desde 2010 a população mundial cresceu em 400 milhões de cidadãos e, nesse período, a metade mais pobre do planeta – de 3,6 bilhões de pessoas – perdeu US$ 1 trilhão, enquanto as 62 pessoas mais ricas aumentaram sua fortuna em US$ 500 bilhões, atingindo a soma de US$ 1,76 trilhão. Os dados, que denunciam a aceleração da desigualdade de renda no planeta, estão em um estudo divulgado nesta segunda-feira, 18 de janeiro, pela Oxfam Internacional, e que será apresentado no Fórum Econômico Mundial em Davos, Suíça, na próxima semana. O estudo ainda mostra que a previsão de que o 1% mais rico do mundo teria renda superior aos restantes 99% foi confirmada em 2015, um ano antes do esperado.

“Uma economia a serviço do 1%” é o título do relatório, no qual a Oxfam Internacional faz uma série de propostas pela redução das desigualdades planetárias, como o combate aos paraísos fiscais utilizados pelos mais ricos para não pagar impostos. A diretora executiva de Oxfam Internacional, Winnie Byanyima, que participará novamente do Fórum de Davos, afirmou: “Simplesmente não podemos aceitar que a metade mais pobre da população mundial possua a mesma riqueza que um punhado de pessoas ricas que caberiam sem problemas em um ônibus”.

São vários dados contidos no relatório e muitos deles foram extraídos do Credit Suisse Global Wealth Datebook, uma fonte, portanto, mais do que confiável nesse tipo de informação. O documento da Oxfam cita vários números ratificando a aceleração das desigualdades nos últimos anos, como o fato de que, em 2010, era de 388 o número de pessoas que possuíam a mesma renda que a metade mais pobre do planeta. Esse número caiu regularmente desde então, para 177 em 2011, 159 em 2012, 92 em 2013, 80 em 2014 e 62 em 2015. A fortuna dos 62 multimilionários foi calculada a partir de dados que aparecem na revista “Forbes”, especializada no tema.

As desigualdades econômicas se refletem nas disparidades ambientais, afirma o relatório da Oxfam. Ele cita estudos mostrando que a metade mais pobre do planeta gera 10% dos gases de efeito-estufa e continua sendo a mais vulnerável às mudanças climáticas. A “pegada de carbono” do 1% mais rico, afirma o documento, pode chegar a equivaler a 175 vezes à da população mais pobre.

Para a Oxfam – confederação internacional de 17 organizações que atuam em 90 países – vários grupos e setores econômicos têm aproveitado as oportunidades surgidas nos últimos anos, como “a desregulação, o segredo bancário e a globalização, especialmente das atividades financeiras”, para incrementar o seu poder econômico e político. Os paraísos fiscais merecem destaque especial do relatório. Segundo o documento, os investimentos nesses territórios em 2014 foram quatro vezes superiores aos de 2001. Quase um terço da fortuna dos africanos mais ricos, cerca de US$ 500 bilhões, estão em paraísos fiscais, gerando perdas fiscais de US$ 14 bilhões por ano, estima a organização.

A capacidade de fazer lobby dos grandes grupos também é criticada pela Oxfam. “A desigualdade é agravada pela capacidade de algumas empresas de utilizar o controle monopolístico e a propriedade intelectual, manipulando o mercado para expulsar seus competidores e disparar os preços que pagam os consumidores finais. Em 2014, as empresas farmacêuticas destinaram mais de US$228 milhões para atividades de lobby em Washington”.

Para Oxfam, é necessária uma estratégia múltipla para se alcançar a redução das desigualdades planetárias, abrangendo medidas como: pagar aos trabalhadores e trabalhadoras salário digno e reduzir as distâncias até as remunerações dos altos dirigentes; fomentar a igualdade econômica e os direitos das mulheres; manter sob controle a capacidade de influência das elites mais poderosas; modificar o sistema mundial de pesquisa e desenvolvimento e de fixação dos preços de medicamentos para garantir o acesso de todas as pessoas a medicamentos adequados; distribuir o esforço fiscal de forma justa e equitativa; combater as desigualdades através de gastos públicos progressivos. A Oxfam faz ainda um apelo aos líderes mundiais “para que ponham fim à era dos paraísos fiscais”.

 

 

 

 

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