Políticas públicas contribuíram para o aumento da renda da população mais pobre no Brasil, mas ainda assim a desigualdade continua sendo muito alta no país e ela é destaque em relatório da Oxfam Internacional que será discutido na próxima semana em Davos, Suíça, em mais uma reunião do Fórum Econômico Mundial, que reúne a elite política e econômica do planeta. De acordo com o relatório, a situação dos povos indígenas no Brasil e México é particularmente crítica, pela ação das atividades de mineração e da agricultura intensiva que alimentam as desigualdades.
O relatório “Uma economia a serviço do 1%”, divulgado nesta segunda-feira, 18 de janeiro, descreve os vários mecanismos que contribuem para a aceleração das desigualdades em escala internacional. O documento relata, por exemplo, a atuação das indústrias extrativas: “Muitas empresas das indústrias extrativas (gás, petróleo e mineração) utilizam diferentes mecanismos para aproveitar-se de seu poder econômico com o objetivo de proteger sua posição dominante. Isso tem um altíssimo custo para os países onde operam, pois lhe garante benefícios muito superiores ao valor que aportam à economia. Estas empresas realizam atividades de lobby com o objetivo de obter privilégios fiscais, assim como frear o avanço de alternativas energéticas mais limpas e sustentáveis”.
Para ilustrar, o relatório cita dois países em particular: “No Brasil e México, os povos indígenas são os maiores prejudicados pela destruição de suas terras ancestrais, por causa da erosão das matas, provocada pelas atividades de mineração ou pela agricultura intensiva em grande escala”.
O documento nota que, apesar da renda da população mais pobre no Brasil ter aumentado nos últimos anos, em ritmo proporcional superior ao da minoria mais rica, em termos absolutos a distância entre os dois grupos populacionais tem apenas crescido. Em 1988, a renda dos 10% mais ricos da população brasileira superava em US$ 167 bilhões a renda dos 50% mais pobres. Entre 1988 e 2011, a renda dos 10% mais ricos aumentou 89%, indo de US$ 218 bilhões para US$ 412 bilhões, enquanto os 50% mais pobres tiveram a renda aumentada em 220%, evoluindo de US$ 51 bilhões para US$ 164 bilhões. Assim, em termos absolutos a diferença cresceu significativamente no período, para US$ 248 bilhões.
A Oxfam é uma confederação internacional de 17 organizações que atuam em 90 países. O relatório também cita exemplos da força do poder econômico no Brasil, como no caso da pressão para que fosse liberado o consumo de cerveja nas partidas da Copa do Mundo da FIFA em 2014.