Em 2015 o Brasil passou por uma epidemia histórica de dengue, com mais de 1,6 milhão de casos. No início de 2016 a Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou emergência internacional o Zika Vírus, também transmitido pelo Aedes aegypti e que deixou em pânico as autoridades sanitárias e provocou uma corrida por novos estudos e pesquisas. Neste cenário, o que as escolas podem fazer contra a proliferação do mosquito que também provoca a febre amarela e a febre chikungunya?
A indagação foi uma das motivações do dia nacional da educação sobre o Aedes aegypti, convocado pelo Ministério da Educação para o último dia 19 de fevereiro, sexta-feira. O propósito da iniciativa foi ressaltar o papel estratégico das escolas no combate ao mosquito de forma específica e de discussão das fundamentais questões ligadas ao saneamento de modo geral.
E as escolas podem, de fato, dar grande contribuição, em três áreas: (1) Como parte de seu papel básico, de produção e disseminação do conhecimento, as mais de 200 mil escolas de ensino fundamental e médio existentes no Brasil podem divulgar informações essenciais, entre alunos, professores, funcionários e comunidades onde estão inseridas, sobre o que é o Aedes, como ele age, as doenças que transmite e as formas de combatê-lo. (2) As escolas podem dar o exemplo, tomando medidas para evitar a proliferação do mosquito em seus domínios, com a verificação de calhas, caixas d´água e outros locais que podem se transformar em criadouros. (3) Mobilizar a comunidade onde estão inseridas, igualmente com medidas preventivas contra o Aedes aegypti e, também, refletindo sobre as condições de saneamento em que se encontram o bairro, a cidade, o país.
Abaixo, algumas informações básicas, divulgadas pelo Ministério da Saúde e Organização Panamericana da Saúde (OPAS), que podem ser utilizadas pelas escolas em sua missão de divulgar informação e ajudar a construir conhecimento. As informações foram reproduzidas no boletim de fevereiro do Instituto Arcor Brasil:
Sobre o Aedes aegypti – O Aedes aegypti é um mosquito doméstico, vive dentro de casa e perto do ser humano. Ele tem hábitos diurnos e alimenta-se de sangue humano, sobretudo ao amanhecer e ao entardecer. A reprodução acontece em água limpa e parada, a partir da postura de ovos pelas fêmeas. Os ovos são colocados em água limpa e parada e distribuídos por diversos criadouros – estratégia que garante a dispersão da espécie. Se a fêmea estiver infectada pelo vírus da dengue quando realizar a postura de ovos, há a possibilidade de as larvas já nascerem com o vírus – a chamada transmissão vertical.
O A. aegypti é originário do Egito. A dispersão pelo mundo ocorreu da África: primeiro da costa leste do continente para as Américas, depois da costa oeste para a Ásia. O gênero Aedes só foi descrito em 1818. Logo verificou- se que a espécie aegypti, descrita anos antes, apresenta características morfológicas e biológicas semelhantes às de espécies do gênero Aedes – e não às do já conhecido gênero Culex. Então, foi estabelecido o nome Aedes aegypti.e.
As teorias mais aceitas indicam que o A. aegypti tenha se disseminado da África para o continente americano por embarcações que aportaram no Brasil para o tráfico de escravos. Há registro da ocorrência de dengue em Curitiba (PR) no final do século XIX e, em Niterói (RJ), no início do século XX. Epidemias de febre amarela, outra doença transmitida pelo mosquito, foram igualmente registradas no final do século XIX, em cidades como Campinas e Santos.
Dengue - A dengue é uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti. No Brasil, foi identificada pela primeira vez em 1986. Estima-se que 50 milhões de infecções por dengue ocorram anualmente no mundo.
A principal forma de transmissão é pela picada dos mosquitos Aedes aegypti. Há registros de transmissão vertical (gestante – bebê) e por transfusão de sangue. Existem quatro tipos diferentes de vírus do dengue: DEN-1, DEN-2, DEN-3 e DEN-4.
A infecção por dengue pode ser assintomática, leve ou causar doença grave, levando à morte. Normalmente, a primeira manifestação da dengue é a febre alta (39° a 40°C), de início abrupto, que geralmente dura de 2 a 7 dias, acompanhada de dor de cabeça, dores no corpo e articulações, prostração, fraqueza, dor atrás dos olhos, erupção e coceira na pele.
Perda de peso, náuseas e vômitos são comuns. Na fase febril inicial da doença pode ser difícil diferenciá-la. A forma grave da doença inclui dor abdominal intensa e contínua, vômitos persistentes, sangramento de mucosas, entre outros sintomas. Ao apresentar os sintomas, é importante procurar um serviço de saúde.
Não existe tratamento específico para dengue. O tratamento é feito para aliviar os sintomas Quando aparecer os sintomas, é importante procurar um serviço de saúde mais próximo, fazer repouso e ingerir bastante líquido. Importante não tomar medicamentos por conta própria.
Chikungunya - A Febre Chikungunya é uma doença transmitida pelos mosquitos Aedes aegypti e Aedes albopictus. No Brasil, a circulação do vírus foi identificada pela primeira vez em 2014. Chikungunya significa “aqueles que se dobram” em swahili, um dos idiomas da Tanzânia. Refere-se à aparência curvada dos pacientes que foram atendidos na primeira epidemia documentada, na Tanzânia, localizada no leste da África, entre 1952 e 1953.
Os principais sintomas são febre alta de início rápido, dores intensas nas articulações dos pés e mãos, além de dedos, tornozelos e pulsos. Pode ocorrer ainda dor de cabeça, dores nos músculos e manchas vermelhas na pele. Não é possível ter chikungunya mais de uma vez. Depois de infectada, a pessoa fica imune pelo resto da vida. Os sintomas iniciam entre dois e doze dias após a picada do mosquito. O mosquito adquire o vírus CHIKV ao picar uma pessoa infectada, durante o período em que o vírus está presente no organismo infectado. Cerca de 30% dos casos não apresentam sintomas.
Não existe vacina ou tratamento específico para Chikungunya. Os sintomas são tratados com medicação para a febre (paracetamol) e as dores articulares (antiinflamatórios). Não é recomendado usar o ácido acetil salicílico (AAS) devido ao risco de hemorragia. Recomenda‐se repouso absoluto ao paciente, que deve beber líquidos em abundância.
Zika – O Zika é um vírus transmitido pelo Aedes aegypti e identificado pela primeira vez no Brasil em abril de 2015. O vírus Zika recebeu a mesma denominação do local de origem de sua identificação em 1947, após detecção em macacos sentinelas para monitoramento da febre amarela, na floresta Zika, em Uganda.
Cerca de 80% das pessoas infectadas pelo vírus Zika não desenvolvem manifestações clínicas. Os principais sintomas são dor de cabeça, febre baixa, dores leves nas articulações, manchas vermelhas na pele, coceira e vermelhidão nos olhos. Outros sintomas menos frequentes são inchaço no corpo, dor de garganta, tosse e vômitos. No geral, a evolução da doença é benigna e os sintomas desaparecem espontaneamente após 3 a 7 dias. No entanto, a dor nas articulações pode persistir por aproximadamente um mês. Formas graves e atípicas são raras, mas quando ocorrem podem, excepcionalmente, evoluir para óbito, como identificado no mês de novembro de 2015, pela primeira vez na história. Importante observar o aparecimento de sinais e sintomas de infecção por vírus Zika e busque um serviço de saúde para atendimento, caso necessário.
O principal modo de transmissão descrito do vírus é pela picada do Aedes aegypti. Outras possíveis formas de transmissão do vírus Zika precisam ser avaliadas com mais profundidade, com base em estudos científicos.
Não existe tratamento específico para a infecção pelo vírus Zika. Também não há vacina contra o vírus (instituições brasileiras e estrangeiras estão trabalhando nesse sentido no momento). O tratamento recomendado para os casos sintomáticos é baseado no uso de acetaminofeno (paracetamol) ou dipirona para o controle da febre e manejo da dor. No caso de erupções pruriginosas, os anti-histamínicos podem ser considerados.
Não se recomenda o uso de ácido acetilsalicílico (AAS) e outros anti-inflamatórios, em função do risco aumentado de complicações hemorrágicas descritas nas infecções por outros flavivírus. Os casos suspeitos devem ser tratados como dengue, devido à sua maior frequência e gravidade conhecida.
Prevenção/Proteção para gestantes –
* Utilize telas em janelas e portas, use roupas compridas – calças e blusas – e, se vestir roupas que deixem áreas do corpo expostas, aplique repelente nessas áreas.
* Fique, preferencialmente, em locais com telas de proteção, mosquiteiros ou outras barreiras disponíveis.
Cuidados * Busque uma Unidade Básica de Saúde para iniciar o pré-natal assim que descobrir a gravidez e compareça às consultas regularmente. * Vá às consultas às consultas uma vez por mês até a 28ª semana de gravidez; a cada quinze dias entre a 28ª e a 36ª semana; e semanalmente do início da 36ª semana até o nascimento do bebê. * Tome todas as vacinas indicadas para gestantes. * Em caso de febre ou dor, procure um serviço de saúde. Não tome qualquer medicamento por conta própria.
Informação * Se tiver dúvida, fale com o seu médico ou com um profissional de saúde. * Relate ao seu médico qualquer sintoma ou medicamento usado durante a gestação. * Leve sempre consigo a Caderneta da Gestante, pois nela consta todo seu histórico de gestação.
Prevenção em geral – A principal forma de prevenção é acabar com o mosquito, mantendo o domicílio sempre limpo, eliminando os possíveis criadouros. Roupas que minimizem a exposição da pele durante o dia, quando os mosquitos são mais ativos, proporcionam alguma proteção às picadas e podem ser adotadas principalmente durante surtos. Repelentes e inseticidas também podem ser usados, seguindo as instruções do rótulo. Mosquiteiros proporcionam boa proteção para aqueles que dormem durante o dia (por exemplo: bebês, pessoas acamadas e trabalhadores noturnos).
Microcefalia - Microcefalia é uma malformação congênita, em que o cérebro não se desenvolve de maneira adequada. Neste caso, os bebês nascem com perímetro cefálico (PC) menor que o normal, ou seja, igual ou inferior a 32 cm. Essa malformação congênita pode ser efeito de uma série de fatores de diferentes origens, como substâncias químicas e agentes biológicos (infecciosos), como bactérias, vírus e radiação. Estão sendo estudadas no momento, por várias organizações, fatores de associação entre microcefalia e Zika Vírus.