Estiagem intensa, inundação brusca ou gradual, movimentos de massa, vendavais e até os temidos tornados. Na primeira década do século 21, o Brasil teve 23.238 desastres naturais, em relação aos 8.671 desastres registrados na década de 1990. Os dados, que constam do Atlas Brasileiro de Desastres Naturais 1991 a 2010, publicado pela Secretaria Nacional de Defesa Civil, comprovam que a crise hídrica no estado de São Paulo e outras regiões brasileiras já era uma forte possibilidade, em função dos impactos crescentes das mudanças climáticas. Nesta segunda-feira, 13 de outubro, em que é lembrado o Dia Internacional para a Redução dos Desastres, o Sistema Cantareira, em São Paulo, tem cerca de 5% de água nos reservatórios, reforçando a possibilidade de um caos no abastecimento na região mais populosa e industrializada do país.
O Atlas Brasileiro de Desastres naturais é fruto de trabalho desenvolvido pelo Centro Universitário de Estudos e Pesquisas sobre Desastres, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). De acordo com o Atlas, no estado de São Paulo, foram 831 desastres registrados entre 1991 e 2010, a maior parte na primeira década do século 21. Foram 114 episódios de seca ou estiagem que levaram a estado de emergência ou calamidade pública, a imensa maioria na região Oeste do Estado, sendo 91 em 2005, 15 em 2009, 4 em 2008, 2 em 2006, e 1 em 2004 e 2010. Foram 59 casos de seca ou estiagem em fevereiro, portanto em pleno período normalmente chuvoso. Apesar de ser uma estiagem histórica, a atual seca não representa, portanto, um fenômeno isolado.
A região das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (PCJ), onde está a Região Metropolitana de Campinas (RMC), e uma das mais afetadas pela atual estiagem em São Paulo, foi muito afetada pelos desastres naturais desde a última década do século 20. Na primeira década do século 21, foram 69 desastres naturais identificados em 32 dos 66 municípios da região das bacias PCJ. Outros dois desastres foram registrados na década de 1990.
O Atlas registra doze episódios de inundação gradual no PCJ, em Americana, Bom Jesus dos Perdões (dois episódios), Bragança Paulista, Camanducaia (dois episódios) Itapeva, Itatiba, Jundiaí, Monte Mor, Rio Claro e Santa Bárbara D´Oeste. Em todo estado, foram 70 casos de inundação gradual, sendo 50 em fevereiro, 44 em janeiro e 4 em dezembro. Foram 55 casos de inundação gradual somente em 2010.
Foram registrados quatro casos de vendaval e/ou ciclone, um em Monte Mor e um em Santa Bárbara D´Oeste e dois em Iracemápolis, e três de tornados, dois em Indaiatuba, sendo um em 1991 e um em 2005, e um em Capivari. Indaiatuba e Itu lideram, com dois casos cada (em Itu, ambos em 1991), o ranking de ocorrência de tornados em São Paulo no período analisado. Outros municípios paulistas atingidos por tornado foram Guapiara, Guaratinguetá, Santo Antônio do Pinhal, Tapiratiba e Turmalina. A região próxima a Campinas, portanto, foi a mais atingida por tornados em território paulista.
Identificados ainda sete casos de movimentos de massa no PCJ, um episódio cada em Americana, Bragança, Itatiba, Jundiaí, Monte Mor, Rio Claro e Santa Bárbara D´Oeste. Em todo estado foram 70 casos de movimentos de massa, sendo 45 no mês de janeiro, 16 em fevereiro, 4 em dezembro e 3 em março. Dados mais do que suficientes para aprimorar sistematicamente o sistema de prevenção de desastres, principalmente no período chuvoso que, por outro lado, também pode ser um período de estiagens intensas, como a atual, que ameaça o abastecimento de água nas regiões metropolitanas de São Paulo e de Campinas, principalmente.