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Exposição no MACC faz aguda reflexão sobre o trabalho no mundo contemporâneo
Como em um quadro negro, as reflexões em giz dos artistas: o trabalho continua o mesmo? (Foto José Pedro Martins)

Exposição no MACC faz aguda reflexão sobre o trabalho no mundo contemporâneo

“Vem se tornando cada vez mais visível o processo de crise generalizada da sociedade baseada no trabalho e na produção de mercadorias”. A frase, que parece saída de um manual de teoria econômica marxista, é uma das muitas que se transformam em objeto de arte, filosofia, na exposição “o feito, trabalho”, que pode ser visitada no Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC) até o dia 2 de novembro. Uma exposição que, em sua essência, possibilita uma aguda reflexão sobre o mundo do trabalho na sociedade contemporânea.

Na linha do “meio é a mensagem”, ou do conceito de que a forma diz muito sobre o conteúdo, a exposição adota uma linguagem que já é em si uma crítica, e que sugere um inquietante e instigante jeito de enxergar o mundo do trabalho na volátil sociedade atual. Em primeiro lugar, trata-se de uma exposição coletiva, em sintonia com as ações colaborativas, em rede, que se multiplicam na velocidade das novas tecnologias de informação e comunicação.

O texto no quadro negro: contraponto com a hegemonia dos mass mídia

O texto no quadro negro: contraponto com a hegemonia dos mass mídia

A mostra é assinada por Fábio Lopes, João Nakacima, Thales Lira e Thiago Fernandes, “em diálogo com Gustavo Torrezan”, e é fruto de projeto selecionado pelo edital de agendamento de exposições temporárias no MACC 2014.  Como parte da proposta de obra aberta, que suscita o diálogo, a interatividade, os autores promoveram uma oficina aos interessados, na vernissage do dia 2 de outubro. Até o final da exposição, no início de dezembro, a obra será outra, com as contribuições recebidas no período.

Por outro lado, em contraponto exatamente com a hegemonia do mass mídia, os artistas apresentam suas ideias em uma plataforma mais do que tradicional. As frases expressando preocupação com os rumos do trabalho no cenário da globalização foram escritas em giz, nas paredes que simulam um quadro negro, tão presente no imaginário de tantas gerações. É como que os autores estivessem dizendo: tudo mudou, e muda rapidamente, mas muita coisa ainda não mudou. As relações de trabalho continuam injustas em muitas situações mundo afora.

Exposição colaborativa, obra aberta, o futuro a ser construído

Exposição colaborativa, obra aberta, o futuro a ser construído

“A crise do trabalho é, nas suas linhas gerais, a mesma em todo o mundo”, diz outra frase destacada em uma das paredes. Neste cenário, conceitos como “valor de uso versus valor econômico” e “meio de produção”, que para muitos economistas já estariam condenados ao que já foi batizado “fim da história”, estariam plenamente válidos e atuais, na perspectiva dos autores.

E uma terceira mensagem dos signatários da exposição é clara: o resgate do texto, do escrito, em uma sociedade inundada por imagens. A mostra também contempla imagens icônicas, que reforçam a palavra, mas há um equilíbrio, não há o predomínio da imagem como acontece na web, na TV, no mundo videologizado.

Quando o visitante entra na sala, a impressão é a de que ele é cercado por história econômica, por história do trabalho, por todos os lados. A sala é escura, o quadro negro reforça a sensação de noite, mas a luz está lá, no centro, de onde o visitante pode observar o panorama geral. A luz é o visitante. Ele tem o futuro do trabalho em suas mãos. (Por José Pedro Martins) 

A obra continua em processo, e será outra no final da exposição

A obra continua em processo, e será outra no final da exposição

 

Sobre José Pedro Soares Martins

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