Por Adriana Menezes
Ele tem a mania de chegar antes de todos em tudo.
É assim que Beto Lago faz a história do Mercado Mundo Mix, desde que o criou em 1994. “Antes éramos tratados como loucos e alternativos. De dono de feira louca, virei fomentador da economia criativa, sempre fazendo a mesma coisa.”
Para manter vivo um projeto por 22 anos, Lago continua fiel aos princípios básicos da proposta, resistindo a tentações financeiras constantes. A última que recebeu foi de uma grande empresa de cerveja que ofereceu R$ 40 mil por evento para ter exclusividade na feira.
“Eu precisaria tirar os pequenos fabricantes de cerveja artesanal, que já têm 2% do mercado nacional de cervejas. Mas quem vem ao Mundo Mix quer encontrar as cervejas artesanais; e eu sairia do meu princípio de fomentar a economia criativa. Não aceitei”, explica com clareza Beto Lago. “Várias marcas e investidores já tentaram comprar o MMM, mas se eu vender vai deixar de ser o que é.”
Na última edição de 2015, ele promoveu o festival de cervejas e movimentou R$ 150 mil só de cervejas artesanais. Nessa primeira edição de 2016 em Campinas, houve o festival de sorvetes artesanais. “Essa é a nossa proposta.”
Mais MMM em 2016
A mais recente edição do Mercado Mundo Mix em Campinas aconteceu no último fim de semana (12 e 13/03), na Estação Cultura, com o festival de sorvetes artesanais, food trucks, atrações musicais, desfiles e uma grande variedade de produtos vendidos direto pelo produtor, portanto a preços mais baixos.
Essa foi a quarta edição em Campinas desde 2015, quando o MMM retornou após um período de dez anos somente em Portugal, onde foi levar a experiência brasileira. Outros dois eventos MMM ainda vão acontecer em 2016 na cidade: dias 3 e 4 de setembro; e 3 e 4 de dezembro. A feira itinerante acontece em todo o País e a próxima parada será em São Paulo, dia 9 de abril, nos galpões da Barra Funda, com o Mundo Mix Vintage.
Trajetória
Recapitulando: Mercado Mundo Mix começou em 1994, fez um tremendo sucesso e se consolidou como espaço alternativo e cenário de grandes descobertas artísticas e culturais; parou no Brasil em 2003; continuou em Portugal (Lisboa) durante dez anos; voltou a ser realizada no Brasil em 2015 – em plena crise econômica – e desde então é um sucesso de público e de vendas.
Quem poderia explicar essa trajetória?
Vamos de volta ao criador.
Autodidata, paulistano, filho de portugueses imigrantes, Beto Lago chegou a esse caminho praticamente por intuição. O espírito empreendedor herdado dos pais foi a primeira mola propulsora, depois a sensibilidade, o talento pessoal e a experiência acumulada.
Atento
“Para manter a jovialidade? É olhar sempre para o novo; ficar atento ao que está ao seu lado. Não olhar só para si. Há coisas que todo mundo sabe, mas não presta atenção. A jovialidade vem desse tipo de comportamento”, afirma Lago.
A revelação: o sucesso do MMM está em algo que está aí para todo mundo ver, mas que pouca gente enxerga: “São os movimentos sociais e culturais que dão vida ao Mundo Mix. Nós alavancamos estes movimentos, por isso há muita verdade e vida no MMM”, diz Lago.
Economia criativa
Na década de 90, aquilo que não tinha espaço na sociedade foi acolhido pelo MMM: tatuagem, piercing, música eletrônica, drag-queens, moda alternativa… A feira não era apenas um mercado, mas um território livre para a criação e as novas formas de comportamento. Por conta disso, adquiriu um ar underground e transgressor.
“Não existia curso de moda naquela época. Alexandre Herchcovitch, Cavalera e Chilli Beans, por exemplo, começaram no MM. Nós já praticávamos a economia criativa e não sabíamos.”
O que levou Beto Lago para Portugal em 2003 foi um patrocínio da Portugal Telecom. Ele levou para lá a sua prática empreendedora e trouxe de volta o conceito da economia criativa fortalecido. “Foi um respiro. Aprendemos muito. Diminuímos a balada e focamos na economia criativa, que não era novidade pra nós. Voltamos com mais consistência.”
Plataforma
Hoje, Beto Lago define o Mercado Mundo Mix como uma plataforma para o empreendedorismo e a economia criativa, um espaço para o pequeno produtor e para o trabalho artesanal.
Inquieto, ingressou no universo político, na área técnica, e hoje é também Assessor para Economia Criativa na Câmara Municipal de São Paulo. Lá, elaborou a lei da comida de rua, os famosos Food Trucks. “Regulamentamos mais de cem famílias que viviam de comida de rua em São Paulo.” Também fundou o Bloco Baixo Augusta e continua agregando valor às suas iniciativas.
“Vamos viver muito mais anos. Mundo Mix mudou a minha vida e a de muita gente. Eu tinha vinte e poucos anos quando comecei. E ainda acredito que o pequeno de hoje pode ser o grande de amanhã.”
É excepcional ter o Sr Beto Lago com esta visão para o empreedorismo e o trabalho Artesanal, e Criador do Mundo Mix como Coordenador aqui em Campinas.
Desejo muito Sucesso !!