Por Adriana Menezes
“Quando meu pai vê o consumidor vir até a fazenda para comprar direto conosco o café que nós produzimos, ele não acredita no que está acontecendo. Há 50 anos, isso era impossível para o pequeno produtor.” Quem fala é Clayton Barrossa Monteiro da Fazenda Ninho da Águia localizada em Alto Caparaó (MG), que venceu pela segunda vez consecutiva o prêmio Coffee of the Year, detendo agora os títulos de 2014 e de 2015. No Dia Internacional do Café, celebrado hoje, vale a pena conhecer o atual melhor café do Brasil.
Em entrevista por telefone, Clayton descreve rapidamente o cenário recente da produção de café no Brasil, o maior produtor do grão no mundo. Para a grande maioria dos pequenos agricultores que cultivam café em suas terras, a situação é muito difícil, diz ele, porque pouca coisa mudou no campo desde a Independência do Brasil. “É quase o mesmo de um século atrás.” As políticas agrícolas nunca atenderam devidamente os pequenos e médios produtores.
Para conseguir sobreviver, Clayton explica que achou um caminho que surgiu há pouco tempo: o dos cafés especiais, ou gourmets. “A oscilação do mercado mundial do café é muito grande, só os grandes acompanham, mas agora eu deixei de ficar de olho na Bolsa de Nova York.” Ele entrou no mercado de cafés especiais e saiu dos commodities.
Persistência
Clayton é a terceira geração de produtor de café na família Gomes Monteiro, que há cerca de 100 anos mantém a produção na Fazenda Ninho da Águia. Aos 18 anos, o pai de Clayton, Aídes Gomes Monteiro, saiu de Minas e foi para São Paulo, porque as geadas e a umidade estavam prejudicando a cultivo do grão na década de 1960.
O filho fez o caminho contrário quase três décadas depois. Clayton saiu de São Paulo para Minas e deu continuidade à produção de café na fazenda. “Hoje o cara vem na sua casa para comprar um produto já com valor agregado”, comemora o produtor premiado, que adotou medidas especiais para qualificar seu produto: produção orgânica, colheita seletiva, terreiro suspenso, estufa para finalizar e torra clara. Quando perguntado sobre a descrição do café, ele prefere passar para o barista, porque diz que o que ele entende melhor é do processo de produção.
O melhor do Brasil
O Coffee of The Year Brasil 2015, Café Fazenda Ninho da Águia, é frutado, com notas de caramelo, mel e garapa, de acordo com a avaliação técnica do júri. Mas o leigo que experimentar vai concordar facilmente. Em uma descrição menos técnica, é um café com gostinho de fazenda.
Quem quiser comprar direto do produtor pode ir até a cidade mineira Alto Caparaó, na fazenda da família Monteiro, ou pode também comprar pelo site (fazendaninhodaaguia.com.br) que envia ao consumidor já com o valor do frete.
A Fazenda Ninho da Águia fica a 1.300 metros de altitude e divide cerca com o Parque Nacional do Caparaó, onde está localizado o Pico das Bandeiras. Toda a região é favorável para o café graças ao clima, à altitude e ao terroir.
Monteiro exporta para Austrália, Alemanha, França e Estados Unidos. No Brasil, fornece para algumas cafeterias especializadas em São Paulo, Bahia, Rio Grande do Sul e Paraná. Na capital paulista, a cafeteria Isso é Café – localizada no Mirante, atrás do Museu de Arte de São Paulo (Masp) – trabalha com o café premiado, além de outros cafés especiais.