Foi como em outras oportunidades. Aos poucos as pessoas foram chegando, tomando seus lugares e no final as arquibancadas todas tomadas. O concerto da Orquestra Sinfônica Arte Viva, com os cantores Arnaldo Antunes e Mariana Aydar, no último sábado, 21 de maio, confirmou o enorme potencial da Concha Acústica do Parque Portugal (Lagoa do Taquaral), em Campinas, para receber espetáculos diversificados, que possam atender diferentes públicos. Equacionados os desafios com a segurança, transporte público e estacionamento, será um local quase perfeito para essa modalidade de atividade cultural.
A apresentação no Auditório Beethoven, nome oficial do espaço, integrou a “Série REDE Sinfônica”, com apoio da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Campinas. O repertório variado contou com clássicos de Ary Barroso, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, entre outros.
A Orquestra Sinfônica Arte Viva foi criada em 1996 pelo maestro Amilson Godoy, visando um tratamento mais elaborado à música popular, com o intuito de formar um público mais exigente. “Quando falamos de uma Orquestra Sinfônica temos o hábito de relacionar esta manifestação musical com a música clássica. O requinte musical, com exceções, privilégio da música erudita, deve estar presente também na música popular”, sintetiza o maestro.
Ao flutuar entre estes dois gêneros musicais, a Orquestra Arte Viva já se apresentou com músicos renomados, e de perfil tão distinto um do outro, como Arthur Moreira Lima, Yamandu Costa, Milton Nascimento, Ivan Lins, Zimbo Trio, Elba Ramalho, Dominguinhos, Maria Rita, Lulu Santos, Rita Lee, Skank, Jota Quest, Gilberto Gil, Gal Costa, Daniela Mercury, Zélia Duncan, Stanley Jordan e George Benson e John Pizzarelli.
No concerto em Campinas, a Orquestra recebeu os cantores Arnaldo Antunes e Mariana Aydar. Integrante da nova geração de cantoras brasileiras, Mariana Aydar tem música na veia, sendo filha da produtora musical Bia Aydar e de Mário Manga, do paulistaníssimo grupo Premeditando o Breque, o Premê.
Estudou na Berklee School of Music, de Boston, morou em Paris e abriu os shows da turnê europeia de Seu Jorge em 2004. Dois anos depois lançou seu primeiro disco, “Kavita 1″, e já está no quarto, “Pedaço Duma Asa”, lançado em 2015. O ex-Titã Arnaldo Antunes, por sua vez, consolidou uma carreira solo, aliada a sua intensa atuação no campo da poesia.
Em um sábado chuvoso, tudo ficou azul em um concerto que uniu talentos contemporâneos do cancioneiro nacional, com uma orquestra que procura oferecer uma nova leitura da música brasileira. O Auditório Beethoven lotou, sacramentando a Concha Acústica como um ambiente que a população redescobriu e que pode ser melhor utilizado para o impulso às artes em Campinas. Lembrando que o Parque Portugal era para ter recebido um Teatro de Ópera desde o final da década de 1960, quando um projeto foi concebido pelo arquiteto Fábio Penteado.
Tendo ficado em segundo lugar no concurso aberto pela Prefeitura de Campinas, para a construção do Teatro no Taquaral (e que não se concretizou por falta de recursos), o projeto de Penteado, em co-autoria com Aldo Calvo, Alfredo Paesani e Teru Tamaki, e que previa na realidade um Teatro de Ópera associado a um teatro menor, de comédia, e uma arena teatral ao ar livre, ganhou a Medalha de Ouro na I Quadrienal Mundial de Teatro, em Praga, então Tchecoslováquia, em 1967. Penteado sempre defendeu grandes espaços democráticos, para possibilitar o convívio e a participação popular. A presença maciça de público nos eventos do Auditório Beethoven (Concha Acústica) não deixa de confirmar que o arquiteto tinha razão ao perceber a vocação do Taquaral para grandes espetáculos e que Campinas ainda sente muita falta de um grande teatro. A cultura local estaria em outro estágio se essa lacuna já tivesse sido preenchida. (Por José Pedro Martins)