Por Cláudia Colen – Especial de Londres
As últimas pesquisas de opinião realizadas depois do assassinato da deputada Jo Cox há seis dias – quinta, 16 de junho – indicam vantagem para os que defendem a permanência do Reino Unido na União Europeia (UE). O referendo está marcado para esta quinta-feira, dia 23. Pelas redes sociais, circulou uma petição para interromper a realização do referendo durante os dois dias de paralisação das campanhas, decretada após o crime. Mas ele vai mesmo acontecer em meio a uma grande comoção nacional.
Embora os resultados continuem próximos, as sondagens mais recentes revelam uma vantagem um pouco mais alargada a favor da permanência do Reino Unido na UE. As pesquisas e as reações da sociedade e da mídia em geral têm mostrado o impacto emocional que a morte violenta da europeísta Jo Cox causou.
Indefinição
Ela foi morta em Birstall, West Yorkshire, interior da Inglaterra por um militante radical contra a UE, que gritou ao comparecer pela primeira vez em tribunal: “Morte aos traidores. Liberdade para o Reino Unido”. Ao matá-la, testemunhas disseram que ele gritava “Britain First”, nome de um partido de ultra-direita que repudia também a vitória de Sadiq Khan, um muçulmano, para a prefeitura de Londres.
No período entre 10 e 15 de junho, a campanha pelo Brexit (saída dos britânicos da UE) já liderava em sete de nove sondagens divulgadas. A última, publicada pelo jornal Daily Mail no domingo (três dias após a morte de Cox) coloca a intenção de permanecer na Europa à frente, com 45% dos votos contra 42% da intenção de apoio ao Brexit. No dia do homicídio da deputada, o Brexit liderava com porcentagem igual à que agora dá vantagem à permanência britânica na UE.
Repercussão
Até mesmo Nigel Farage, líder do Partido independentista UKIP – defensor ferrenho do Brexit junto com o ex-prefeito de Londres do partido Conservador Boris Johnson – já reconhece que o assassinato de Jo Cox compromete a conquista de votos entre os eleitores indecisos e disse em entrevista à imprensa: “É preciso muita coragem para lutar contra o sistema, tivemos isso até esta horrível tragédia”.
A Diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, voltou a afirmar há dois dias em Viena que a economia do Reino Unido foi beneficiada ao integrar-se à União Europeia, processo que possibilitou a indústria britânica ter papel de destaque no mercado de fornecimento da Europa em setores como o aeroespacial e automobilístico. Alertou ainda que o FMI prevê com muita preocupação riscos negativos e perigosos para a economia associados a uma saída do Reino Unido da UE. Essa intervenção teve também uma repercussão maior nos noticiários econômicos e divide opiniões.
Manifestações
Nesta quarta-feira, 22 de junho, dia em que Jo Cox completaria 42 anos, haverá manifestações e vigília em várias cidades europeias, sobretudo na Inglaterra. Em Londres, o encontro está marcado para 16 h na Trafalgar Square, centro histórico da cidade. Este pode ser mais um evento de ampla divulgação pelas redes sociais a influir no resultado do referendo no dia seguinte.