Por Maria Rita Silveira de Paula Amoroso
Sérgio Paulo de Magalhães, homem com a arte nas veias e no coração e mais sensível que muitos homens letrados que se utilizam da vestimenta do saber para impor seus feitos, foi o salvador de uma das mais importantes raridades da arte campineira, criada pelas mãos do famoso pintor Aldo Cardarelli.
Não consigo parar de pensar em como as injustiças persistem neste país onde encontramos tantos descompassos relacionados aos mais importantes valores humanos.
Valores como a retidão, a verdade e o amor apresentadas recentemente para nós através de uma pessoa do povo despida de vaidade e orgulho, amante da arte e que infelizmente apesar do talento e perseverança ainda não conseguiu sobreviver de sua própria arte. Afinal ele também é pintor, não reconhecido ainda, mas também um artista.
Sem emprego fixo, devido a problemas de saúde, Sérgio Paulo de Magalhães passou a ser catador de reciclável, dia a dia garimpando não ouro mas arte jogada e desprezada nos lixos de nossa cidade .
Que contradição assistirmos ao descaso relacionado a uma obra de arte! Talvez este descaso tenha sido por ignorância, por desconhecimento ou, talvez pior, como por exemplo, alguém que ao recebê-la como herança a desprezou com requintes, a jogando dentro de uma caçamba de lixo .
Mas como o universo está sempre atento às barbaridades que o homem realiza aqui na terra, enviou um anjo chamado Sérgio Paulo Magalhães, que estava no lugar certo e na hora certa recuperando para todos nós esta preciosidade .
Como não identificar neste ato de cidadania a nobreza desse senhor que, atestando a veracidade da obra, a deixou no Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), sem nada exigir em troca. Local este onde ele havia se apresentado como artista, que é de fato, pois artista é o que tem coração, emoção e sensibilidade. Artista nasce artista não vira artista .
Talvez sua pintura ainda não tenha chegado ao gosto dos críticos, mas ele mostrou que isso não importa, pois neste ato deixou bem grafado uma arte maior, um patrimônio imaterial que não pode ser mensurado chamado “Valores ” .
Valores que estão latentes no homem mas que poucos colocam em prática, junto com o desprendimento, por ainda não compreendê-los,como pilares da evolução humana.
Imagino como foi duro para esta alma tão sensível separar-se de uma obra que poderia lhe proporcionar um bom descanso e sustento pelo alto valor financeiro intrínseco à mesma. Suponho que em momento algum foi aventada essa ideia em seus pensamentos.
Encontramos na história a luta de ditadores e poderosos que se apropriam de obras de arte, pois reconhecem nelas toda a sua carga de esplendor e energia vinculada ao artista que a criou ,um momento único que jamais poderá retornar .
Sim, tenho para mim que seus pensamentos se concentravam em onde ela estaria mais segura ,mas , ao mesmo tempo aproveitava cada minuto para usufruir um pouco mais desse momento único. A vontade de dormir e acordar olhando uma obra tão bela, que só os verdadeiros artistas conseguem avaliar e mesmo com toda a vontade de possui -lá só para si criou coragem e a levou ao que considerou o melhor guardião para a tela, o CCLA .
Deixou-a e partiu para garimpar mais preciosidades, não para si, mas para deixar um legado àqueles que hoje desprezam a arte e a cultura, um bem de todos os povos, e que veremos num breve futuro ser altamente disputada e valorizada.
Deixo aqui meus parabéns a este grande e sensível homem que com tamanha humildade nos legou mais um pedacinho deste outro grande artista Aldo Cardarelli. Finalizando apenas com essas palavras: Sérgio Paulo de Magalhães, o artista é você.
A arquiteta e urbanista Dra. Maria Rita Silveira de Paula Amoroso é Diretora de Patrimônio do IAB-CAMPINAS, Conselheira do CONDEPACC, Vice –Presidente do CICOP.NET e Doutora pela FEC-UNICAMP