Um reconhecimento à fotografia como importante linguagem para capturar os encantos e questionar e tentar compreender a complexidade da vida. Assim o fotógrafo e produtor cultural Martinho Caires está interpretando a sua posse neste sábado, dia 1 de outubro, na cadeira número 7 da Academia Campineira de Letras e Artes (ACLA). É a cadeira que tem como patrono o escultor Lelio Coluccini, artista com um papel histórico na cultura de Campinas. Caires é editor de fotografia da Agência Social de Notícias.
“Estou muito contente, por mim e pela fotografia, pois vejo que ela está sendo percebida de uma maneira diferente”, diz Martinho Caires. “Os consensos são construídos ao longo de décadas e acho que ninguém mais questiona a importância da fotografia e o seu caráter de arte e, às vezes, de denúncia social. Mas no mundo contemporâneo, em que a imagem é determinante, a fotografia alcança outro status. Estar na Academia Campineira de Letras e Artes, neste cenário, é um grande desafio e uma honra”, comenta Caires.
Para Martinho, a fotografia, como arte e documento, se propõe a registrar a passagem do ser humano e sua época. Além disso, é o registro de como essa passagem afeta o próprio fotógrafo. Ou seja, não se trata, claro, de uma arte ou uma linguagem neutra, pelo contrário. Há um forte elemento subjetivo na atividade do fotógrafo, que oferece, através de sua obra, a sua visão de mundo, a sua interpretação da realidade e dos enigmas humanos.
Três ingredientes incrementam a sua responsabilidade, ao assumir uma cadeira na ACLA, reitera o fotógrafo. Ele lembra que Campinas tem uma associação histórica com a fotografia, pelas experiências pioneiras, realizadas na cidade, de Hércules Florence (1804-1879). Florence passou a viver em Campinas ao final da Expedição Langsdorff, que percorreu vários estados brasileiros.
Entre 1832 e 1833, provavelmente, fez estudos pioneiros em fotografia, simultaneamente aos de Louis Daguerre (1787-1851) que, vivendo na Europa, logo teve o reconhecimento internacional, ao contrário de Florence. “Registros indicam que Hércules Florence foi o primeiro a usar a palavra fotografia. E ele tem várias outras invenções importantes e um papel imenso em Campinas”, observa Martinho Caires.
Um segundo elemento que marca a sua posse na ACLA, continua Caires, é o fato de a cadeira que vai assumir ter o nome de ninguém menos que Lelio Coluccini (1910-1983). Nascido na Itália, viveu grande parte de sua vida em Campinas, onde executou muitas obras, como o monumento ao bicentenário da cidade, onde faleceu. Entre outros espaços, Coluccini tem uma obra sua, “A Caçadora”, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. “Coluccini é um grande artista, uma referência histórica para Campinas, e nesse sentido é uma honra assumir a cadeira que tem o seu nome”, diz Caires.
O fotógrafo cita ainda outro ingrediente, de ordem subjetiva, que alimenta a emoção com que vai tomar posse na cadeira 7 da ACLA. A pessoa que ocupava a cadeira, anteriormente, era a pintora e decoradora Thelma Calderelli. Ela abriu mão da cadeira em função de sua mudança para a Europa. “A Thelma é minha amiga, frequentei a sua casa, em razão de trabalho jornalístico relacionado ao seu pai”, recorda Caires. O pai de Thelma é Aldo Caldarelli (1915-1986), outro importante nome das artes plásticas campineiras, que dá nome à Galeria A do Centro de Convivência Cultural.
“Será um momento emocionante, que vou encarar como um compromisso com a fotografia. Pretendo levar a discussão sobre o seu papel para a Academia, onde estão profissionais que atuam, com talento, em várias áreas. Eu gosto muito desses ambientes, onde a diversidade proporciona diálogos muito interessantes sobre arte, cultura, sobre a vida em geral”, conclui Martinho, ansioso pela chegada de sábado à tarde.
A cerimônia acontecerá a partir das 15h30, na sede da Academia Campineira de Letras e artes, na rua Dr.Mascarenhas, 412. No mesmo evento, tomará posse a artista plástica Silvia Matos, na cadeira número 17, que leva o nome de Maria Helena Motta Paes. Silvia Matos é graduada pelo Instituto de Artes da Unicamp e tem participado de exposições individuais e coletivas no Brasil, Argentina e Espanha. Em 1995, recebeu o título de benemérita da Unicamp e no ano seguinte foi catalogada no Women’s Art Library, de Londres. Desde 1991 mantém o Silvia Matos Ateliê de Criatividade, espaço de reuniões do Grupo Antropoantro, que reúne artistas locais.
Martinho Caires é fotógrafo, produtor cultural e professor de fotografia, com aulas em instituições como Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC), Oficinas Culturais Hilda Hilst, Faculdades Metrocamp e MIS. Já trabalhou em fotojornalismo na “Veja” e “Correio Popular” e é editor de fotografia da Agência Social de Notícias.
O fotógrafo foi contemplado no FICC (Fundo de Investimentos Culturais de Campinas) em 2013 e 2014 e venceu o concurso “Fotografe Campinas” e “Painel Fotográfico Hércules Florence”. É coautor do livro“República de Campinas – Cenas da memória afetiva e política da cidade” em parceria com o jornalista José Pedro Martins. Fez mais de 70 exposições individuais e coletivas, em diversas cidades.
Entre outras exposições, participou da Coletiva de Fotografias da FUNARTE/IBAC. Esta Coletiva, realizada na forma de edital, esteve na Galeria FUNART, no Rio de Janeiro, e depois viajou por vários estados. Também participou das coletivas “Unicamp 40 anos”, no Espaço CPFL; “Mostra Contemporânea de Fotografia”, na Itaugaleria, em São Paulo; da “Mostra Contemporânea de fotografia”, na Itaugaleria, em Brasília; e na Coletiva de Fotografias no Espaço UFF de Fotografia, de Niterói (RJ).
A Academia Campineira de Letras e Artes (ACLA) foi fundada em 1970 por Luso Ventura, um dos mais importantes jornalistas da história de Campinas, ao lado dos também jornalistas Rubem Costa e Jolumá Brito. Grandes nomes da cultura local já assumiram cadeiras na ACLA, atualmente presidida pelo escritor Sérgio Galvão Caponi.
Parabéns Martinho! Com todo merecimento.
Valeu Cláudio… Grande abraço!