Campinas, 16 de dezembro de 2016
A arte itinerante, em tempos líquidos e móveis, esteve em destaque no I Festival Volante, realizado nos últimos dias 10 e 11 de dezembro na Estação Cultura. Com a participação de oito ateliês itinerantes, o evento comprovou o potencial de Campinas para a criatividade econômica com sustentabilidade, como pede a complexa sociedade contemporânea. Segundo o músico e produtor cultural Guga Costa, existe agora a expectativa de que o Festival Volante seja também itinerante, devendo ser levado a outros municípios, com as devidas adaptações de formato.
De acordo com Guga, o I Festival Volante – Artes Visuais Itinerantes deriva de um projeto de 2013, do Xilomóvel – Ateliê Itinerante. Reformulado, o projeto acabou sendo contemplado pelo Rumos Itaú Cultural (2015-2016), um dos principais programas de fomento à atividade cultural no Brasil. Foi um dos 117 projetos escolhidos, entre centenas inscritos de todo país. O Rumos Itaú Cultural é voltado para apoiar projetos multilinguagens, nos quais as diferentes vertentes artísticas dialogam entre si e permitem a interatividade com o público.
É o caso do I Festival Volante, que reuniu oito ateliês itinerantes, dois de Campinas e os demais de outros municípios. Cada um com um “veículo” para o “transporte” da arte. A arte móvel, que circula e envolve. A arte democrática e dialógica. A curadoria foi do Xilomóvel – Ateliê Itinerante, de Campinas.
O ateliê Fotomóbil Narrativas da Luz apresentou seu kit formado por livro-sanfona, sensível à luz, negativos digitais com formas misteriosas e pequenos objetos. Um convite à participação do público, um apelo ao uso da imaginação. Por sua vez, o grupo Grafatório, que reúne pesquisadores, designers, artistas visuais e outros profissionais, exibiu o seu processo de criação de livros de tiragem única e produzidos na hora. O coletivo sediado em Londrina (PR) utiliza diversas técnicas gráficas para compor os seus trabalhos.
A atividade “Paisagens em água tinta”, de Julia Goeldi, do Olhar Itinerante, foi outra atração do I Festival Volante, na Estação Cultura. Mais uma foi a oficina de fotografia analógica oferecida em um vagão pelo L.Amb Laboratório Ambulante, também de Campinas e que usa a tradicional câmera Pinhole, de fácil confecção pelos alunos.
Outra ação em fotografia analógica foi disponibilizada pela Oficina do Olhar, que utiliza uma câmera lambe-lambe ou caixote. Já o Xilomóvel apresentou a oficina de xilogravura, geralmente transportada em uma Veraneio 1976. Como convidado também esteve na Estação Cultura o coletivo Paraísos Íntimos, com laboratório montado em outro vagão de trem.
A bicicleta, objeto icônico de uma sociedade idealmente sustentável, esteve naturalmente em destaque no I Festival Volante. Uma oficina de xilogravura realizada em bicicleta modificada é a “pegada” do Ateliê Nômade. Do mesmo modo, Mônica Schoenacker apresentou sua Sericleta, bicicleta adaptada para a impressão de serigrafia em diversos temas e imagens.
O apelo à sustentabilidade ficou ainda mais evidente pela atuação das “bikes” do AroE – Bicicletas Geradoras. Os visitantes podiam pedalar e gerar energia, para viabilizar a exibição de pequenos vídeos. Shows das bandas Čao Laru (França/Brasil) e The Dead Rocks (Brasil) compuseram a programação musical do Festival.
Uma nova sociedade projetada no horizonte, desde os trilhos da Estação Cultura. O I Festival Volante reiterou o poder da utopia possibilitada pela arte e pela partilha de ideias, criatividade e afetos.