Com resposta tímida do grande público, alguma improvisação e muita animação de quem esteve presente e usufruiu a novidade, a avenida Francisco Glicério, principal via de tráfego de Campinas, foi fechada à circulação de veículos na manhã deste domingo, dia 18 de dezembro, e aberta à população em um projeto piloto da Prefeitura. De acordo com uma tendência observada em grandes cidades de todo mundo, como ocorreu com a avenida Paulista em São Paulo, a ideia é convidar a população a (re)ocupar seus principais espaços, com atividades de esporte, lazer e cultura. No ensaio de hoje, o cardápio oferecido era composto em sua grande maioria por modalidades esportivas, como skate, basquetebol e mini-futebol, em função da parceria com uma empresa privada do setor.
O trecho fechado ao tráfego fica entre a praça Visconde de Indaiatuba (Largo do Rosário) e a avenida Moraes Salles. A previsão de encerramento da ação é às 16 horas deste domingo. A maior parte das atividades disponibilizadas era, de fato, no segmento esportivo, mas algumas ações culturais também foram oferecidas, pela iniciativa de organizações sociais. O Instituto Jerusalém, por exemplo, promoveu uma apresentação de dança árabe, além do tradicional café com as iguarias da região. Um grupo de zumba também se apresentou.
“É a cidadania ocupando o seu próprio espaço, como já acontece em vários locais do mundo”, comentou Ali Al-Khatib, presidente do Instituto Jerusalém. Ele foi um dos primeiros a chegar na avenida Francisco Glicério na manhã de hoje, para montar a tenda árabe no Largo do Rosário.
Equipamentos esportivos foram levados à avenida, em grande parte pelo apoio da Decathlon, de venda de materiais no setor. Outros foram mobilizados pela Secretaria Municipal de Esportes e Lazer.
Quem foi, gostou da iniciativa. “É muito bom, precisa acontecer mais vezes”, pediu Pedro Henrique, um dos skatistas que foram à avenida em grande número e encantaram o público com suas acrobacias. Pedro Henrique é um dos skatistas que geralmente frequentam a “Praça das Águas”, perto da sede da Sanasa.
Também em bom número, jogadores de dama se deliciaram com as mesas dispostas quase em frente à Catedral Metropolitana. Um dos “mestres” presentes, Alcides Filho jogou várias partidas com pessoas de todas as idades e ganhou quase todas. Ele é membro de um grupo que joga habitualmente no Largo São Benedito. “É ótimo, Campinas precisa mais destas coisas”, resumiu o damista, enquanto se preparava para ganhar de mais uma “vítima”.
O prefeito Jonas Donizette foi representado por secretários municipais, como o de Cultura, Ney Carrasco. Ele garantiu que, com a afirmação do projeto como atividade permanente, atrações culturais serão levadas em grande número para a avenida Francisco Glicério. “Em uma realidade de crise econômica, essa é uma iniciativa no contexto de ocupação dos espaços públicos, de convivência de maneira saudável”, afirmou.
Outro que participou foi o vereador André Von Zuben, recém-anunciado pelo prefeito como o secretário de Desenvolvimento Econômico, Social e Turismo a partir de janeiro de 2017. “A Glicério é muito importante para a cidade e povo deve ser mais estimulado a frequentá-la. Este é um piloto, inclusive para testar a receptividade”, observou o secretário.
Especialmente entusiasmado estava o secretário de Esportes e Lazer, Dario Saadi. Com a avenida Francisco Glicério tomada por atividades esportivas, o secretário acentuou que a ocupação de espaços públicos é uma das prioridades de sua pasta e do governo municipal.
A necessidade de que o projeto seja permanente, com muitas atrações, para que o público em geral adquira o hábito e o gosto pela iniciativa foi ressaltada por Fábio José Pereira, que entende do assunto. Ele é professor de Educação Física e Animador de Ritmos e há tempos coordena um projeto nessa área no Parque Portugal (Lagoa do Taquaral). “É preciso persistência e animação para se ter um público cativo”, sugeriu.
Uma das mais esperançosas com tudo o que se viu na manhã deste domingo ensolarado na Francisco Glicério era a arquiteta Maria Rita Amoroso. Ela é a autora do projeto de requalificação da avenida, que mobilizou diversos setores públicos e privados e resultou, por exemplo, na retirada da fiação aérea da via pública, entre outras melhorias.
“É uma tendência mundial, este espaço não pode ser ocupado apenas por atividades comerciais, mas também por lazer, esporte e cultura”, comentou a arquiteta. Ela entende que o trecho de cerca de 600 metros, fechado neste domingo, deveria ser estendido para a avenida toda nos próximos momentos. E pede sobretudo maior número de atividades culturais e artísticas, para que a avenida Francisco Glicério se torne um grande território de exposição da criatividade existente na cidade. “A Glicério já teve desfiles de Carnaval e outras atividades, ela precisa ser de fato resgatada para a cidadania plena”, salientou.
Ajustes são necessários, ficou a sensação de que “falta algo”. Mas o protótipo deste dia 18 de dezembro mostrou que existe potencial para um grande projeto de ocupação da veia que, todo dia, pulsa o coração de Campinas. (Por José Pedro Martins)