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Nordeste é região mais afetada por mudanças climáticas e tem cenas de guerra pela água
A milhares de quilômetros de Paris, onde está sendo realizada a COP-21, 23 milhões de moradores do Semiárido brasileiro esperaram resultados positivos da Conferência (Foto Adriana Menezes)

Nordeste é região mais afetada por mudanças climáticas e tem cenas de guerra pela água

Captação em volume morto na Paraíba, protestos contra a transposição de águas, migração por uma estiagem que não tem fim, perda de safras agrícolas inteiras. Cenas típicas de uma guerra pela água e próximas de uma crise humanitária estão acontecendo em todo Nordeste brasileiro, região do país mais afetada pelas mudanças climáticas e que portanto seria a mais beneficiada se a Conferência do Clima (COP-21), em Paris, chegar até o próximo dia 11 dezembro a um acordo global de redução de emissões de gases-estufa. O Nordeste vive uma seca extrema há cinco anos e que pode ser intensificada pelo El Niño. As condições climáticas são similares às de 50 anos atrás, quando a região viveu uma seca que levou a saques e enorme êxodo rural.

A gravidade da situação no Nordeste é exposta nos mapas disponibilizados pelo Monitor de Secas, da Agência Nacional de Águas (ANA). Os mapas mostram que, em pouco mais de um ano, a área correspondente às categorias de Seca Extrema e Excepcional, as situações mais graves na escala de secas, cobria em outubro de 2015 a maior parte de cinco estados nordestinos: Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco.

O Mapa da Seca no Nordeste em outubro de 2015 (Fonte: Monitor de Secas do Nordeste do Brasil)

O Mapa da Seca no Nordeste em outubro de 2015 (Fonte: Monitor de Secas do Nordeste do Brasil)

Em julho de 2014, as áreas de Seca Extrema e Excepcional eram praticamente restritas a territórios do Ceará e Pernambuco, segundo o Monitor de Secas do Nordeste do Brasil. O Monitor é fruto da parceria entre a ANA, Ministério da Integração Nacional, Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) e Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Em julho de 2014, territórios com seca extrema e excepcional eram muito menores (Fonte: Monitor de Secas do Nordeste)

Em julho de 2014, territórios com seca extrema e excepcional eram muito menores (Fonte: Monitor de Secas do Nordeste)

É um claro indicador do agravamento da seca no Nordeste, que já dura cinco anos e tem gerado vários conflitos pela água na região. Sem a mesma atenção da mídia e da sociedade, como ocorreu com o Sistema Cantareira, em São Paulo, também está próximo de acontecer na Paraíba o drama de captação de água em volume morto, em açude que garante o abastecimento de 10 municípios da região de Campina Grande, uma das mais populosas e importantes economicamente do estado.

Na próxima semana o Açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, deve atingir o volume morto. A Companhia de Águas e Esgotos da Paraíba (Cagepa) já contratou serviços para a captação de água do volume morto, por três bombas de sucção. A Cagepa tem garantido que a água do volume morto é suficiente para o abastecimento de água de Campina Grande até 2017. Entretanto, a população da segunda maior cidade paraibana, com 400 mil moradores e que passa por racionamento, continua apreensiva.

Também no Sertão da Paraíba, moradores da comunidade Mãe D´Água e da cidade de Coremas fizeram um grande protesto no dia 24 de novembro. O motivo foi que o açude Mãe D´Água é responsável pelo abastecimento de água de municípios do Rio Grande do Norte, mas a água não chega a moradores próximos em território paraibano. Os moradores fizeram um bloqueio na rodovia PB-366.

Em 2015, até o dia 26 de novembro, a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil fez 2314 reconhecimentos de situação de emergência, e desses 1858 foram no Nordeste. Paraíba e Piauí lideram o ranking, com 394 e 354 reconhecimentos, respectivamente.

De acordo com dados do Ministério da Agricultura, entre 2011 e 2012 a produção de milho no Semiárido nordestino (excluindo portanto a área do Norte de Minas Gerais também considerada parte do Semiárido) caiu 68%. A produção de feijão e de mandioca caiu, respectivamente, 81% e 33,14%. Em 2013 houve alguma recuperação, mas ainda longe dos níveis de 2011.

Nas áreas do Semiárido em Pernambuco e Ceará as perdas agrícolas chegaram a 95% no primeiro ano de estiagem (2011 para 2012). No Rio Grande do Norte chegou a 92% em milho e feijão. Na produção de mandioca, somente em Pernambuco ela resistiu em 2012.

Vários estudos mostram que os impactos da seca apenas não são maiores no Nordeste, em termos de desenvolvimento humano, em razão da mudança de perfil da região na última década.

Por isso a região está atenta aos resultados da COP-21, em Paris. O Nordeste tem sido a região mais afetada pelas mudanças climáticas no Brasil, segundo estudos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e outros órgãos. E a região deve continuar sofrendo os maiores impactos das mudanças no clima nas próximas décadas, ao lado da Região Sul, segundo as projeções do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC). Serão efeitos diversos nas duas regiões, com a probabilidade de maiores estiagens no Nordeste e chuvas mais intensas no Sul. São 23,5 milhões de moradores no Semiárido brasileiro, que estão especialmente na expectativa de resultados positivos da COP-21.  (Por José Pedro Martins)

 

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