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Lisboa além dos roteiros tradicionais
Ponte 25 de Abril, ligação entre Margem Norte e Sul (Foto Divulgação)

Lisboa além dos roteiros tradicionais

Para quem quer fugir do básico, capital portuguesa guarda outros muitos lugares para se ver 

Por * Eduardo Gregori

Quem desembarca em Lisboa vindo de outras partes do mundo traz na mala, muitas vezes, um roteiro pré-estabelecido. Praça do Comércio, Belém, Alfama, Castelo de São Jorge, Bairro Alto e Baixa Chiado são os lugares mais visitados. Mas Lisboa não se resume apenas nestes redutos.

Não é preciso lá um grande conhecimento sobre a cidade para explorá-la de uma maneira mais ampla e enriquecedora, principalmente por quem aprecia história e história é o que não falta nesta cidade. Se Sintra e Cascais, na grande Lisboa, já são quase que obrigatórias para quem chega, outros municípios que formam a metrópole portuguesa também podem e devem ser explorados.

Eduardo Gregori em Olisipo (Foto Acervo Pessoal)

Eduardo Gregori em Olisipo (Foto Acervo Pessoal)

Olisipo

Antes de rumar para lugares além dos limites de Lisboa, uma inusitada maneira de ver a cidade é descer pelos esgotos até suas entranhas. Duas vezes por ano as águas do Rio Tejo baixam para revelar Olisipo, uma das mais importantes cidades do Império Romano. É inacreditável como as águas preservam o lugar, que fica submerso quase que o ano inteiro. Por apenas 2 euros, o passeio revela boa parte da história do que é Lisboa foi um dia, além de comprovar o quão avançados os romanos eram.

Galeria em Olisipo (Foto Divulgação)

Galeria em Olisipo (Foto Divulgação)

A capital lusa, construída sobre sete colunas, tem um relevo extremamente irregular. Então, para nivelar o rio e Centro da cidade, engenheiros do império construíram uma estrutura gigantesca cuja obra nos dias de hoje seria monumental, imagine naquele tempo. A visita a Olisipo é tão fascinante que cada passo é uma descoberta, como a estrutura do Teatro Romano, que ainda está lá para confirmar o quão grande foram os domínios dos Césares.

Visitar Olisipo é uma tarefa árdua, mas não do ponto de vista de acessar a antiga cidade, mas por conta de conseguir ingressos, que são vendidos apenas pela internet e a procura é absurda. Uma dica é acessar o site do Museu de Lisboa (www.museudelisboa.pt) com bastante antecedência para saber quando as visitas estarão abertas e reservar ingressos.

Antiga estação de trens do Barreiro (Foto Divulgação)

Antiga estação de trens do Barreiro (Foto Divulgação)

Margem Sul

O turista que olha o Tejo da Praça do Comércio ou do Cais do Sodré avista do outro lado da margem edifícios modernos e outros tantos típicos da arquitetura portuguesa. Mas a Margem Sul, que pode ser facilmente visitada de carro pelas pontes 25 de Abril ou Vasco da Gama, ou ainda de trem e mais facilmente de barco, é dona de lugares belíssimos e carregados de história.

A começar pelo Barreiro, cidade que está a apenas 15 minutos do barco que sai da estação Terreiro do Paço. Muitos brasileiros a comparam com Jundiaí ou Niterói, conhecidas como cidades-dormitório. É bem verdade que a grande população do Barreiro trabalha em Lisboa, mas a cidade tem uma história fascinante. Não é a toa que o U2 visitou suas ruas para uma sessão de fotos.

Mafraria, ponto de parada gastronômico obrigatório no Barreiro (Foto Divulgação)

Mafraria, ponto de parada gastronômico obrigatório no Barreiro (Foto Divulgação)

O Barreiro cresceu fruto do empreendedorismo de Alfredo da Silva, empresário português que queria fazer deste lugar uma grande cidade. Fábricas, empresas e moradias para os trabalhadores foram construídas há quase 100 anos naquela que foi uma das mais importantes cidades da Baía do Tejo. Um gigantesco monumento a este desbravador está construído entre o Barreiro e a freguesia do Lavradio.

Um dos passeios no Barreiro mais enriquecedores do ponto de vista histórico começa logo na Estação Fluvial e de Trens da cidade. Ao lado do moderno terminal, ainda de pé, a antiga estação de trens, já sem os trilhos, mas toda preservada, revela como a população chegava até o rio para seguir para Lisboa de barco, percurso que ainda se faz hoje em dia.

Bola de Berlim, uma espécie de Marta Rocha brasileira (Foto Divulgação)

Bola de Berlim, uma espécie de Marta Rocha brasileira (Foto Divulgação)

Caminhando pelo Barreiro Velho, casarios antigos, fábricas fechadas e outras em ruínas, remontam uma era de glória, de imponência, do trabalho abundante e do dinheiro, que aqui girava tanto quanto na capital.

Hoje, o que mais representa o Barreiro além de todo seu passado industrial é a gastronomia. Um lugar que é impossível deixar de fora da visita é a Mafraria (Rua Miguel Bombarda 172). A pastelaria é reconhecida internacionalmente pela saborosíssima Bola de Berlim, uma espécie de Marta Rocha brasileira, doce feito com pão de leite e recheado de um espesso creme com base de ovo. Não é a toa que muitos alfacinhas peguem o barco para apreciar as muitas delícias servidas pela pastelaria. É difícil sair de lá sem engordar uns tantos quilos.

Castelo de Palmela (Foto Divulgação)

Castelo de Palmela (Foto Divulgação)

Palmela

Do Barreiro não é preciso ter carro para seguir nesta deliciosa viagem. Depois de se deliciar na Mafraria, basta tomar, ali perto, na Estação Barreiro A, o trem até Palmela. São nada mais que 5 minutos até a cidade. Palmela guarda uma das mais belas joias de Portugal, um castelo que remonta a ocupação islâmica na Península Ibérica entre os séculos VII e XII.

Estrategicamente construída em um monte da Cordilheira da Arrábida, a fortificação tem uma vista ampla do Rio Sado e das planícies à sua volta, uma forma de proteger a região de um possível ataque vindo tanto por água quanto por terra. Transformado em patrimônio histórico, o Castelo de Palmela abriga hoje uma pousada que foi um dia um dos conventos da Ordem de Santiago, além das ruínas da Igreja de Santa Maria, sítio arqueológico e uma espécie de museu militar.

Castelo de Palmela, que tem vista ampla do Rio Sado e planícies (Foto Divulgação)

Castelo de Palmela, que tem vista ampla do Rio Sado e planícies (Foto Divulgação)

Entre tantos bons motivos para ver de perto o castelo estão a visão deslumbrante e privilegiada da região e a possibilidade de sentar-se na cafeteria ao ar livre e saborear mais delícias portuguesas enchendo também os olhos com belíssimas paisagens. Uma boa notícia é que o castelo oferece visitas guiadas gratuitas.

Palmela dispõe de outros tantos atrativos como o ecoturismo, roteiros de vinhos (um dos que mais tem crescido com o aumento e diversificação das vinícolas do Sul do Tejo) e até mesmo o turismo para prática de golfe. Mais informação no site oficial de turismo da cidade:  http://turismo.cm-palmela.pt

Forte de São Filipe (Foto Divulgação)

Forte de São Filipe (Foto Divulgação)

Setúbal

Chegar a Setúbal desde Palmela é outra tarefa fácil. Tomando o mesmo trem, 20 minutos depois e uma estação antes do fim da linha chega-se ao Centro da cidade. Setúbal é um quase sem fim de atrações turísticas. Na beira do mar, a cidade tem uma gastronomia fantástica dedicada aos frutos do mar. Ameijoas, choco, mariscos são algumas das delícias servidas nos mais diversos restaurantes da cidade.

Vista de Troia a partir do Castelo de São Filipe (Foto Divulgação)

Vista de Troia a partir do Forte de São Filipe (Foto Divulgação)

Além da excelente culinária, Setúbal suas praias são algumas das mais belas de todo Portugal. Isso sem mencionar a famosa Ilha de Troia com com praias de tirar o fôlego e o passeio de barco para avistar golfinhos. Mas, uma dos motivos mais contundentes para visitar a cidade é o Forte de São Filipe. Para chegar lá recomenda-se tomar um táxi, pois a subida é íngreme.

Casamata do Forte de São Filipe (Foto Divulgação)

Casamata do Forte de São Filipe (Foto Divulgação)

O forte, erguido no século XVI sobre um dos montes mais altos da cidade, também é conhecido como Castelo e Fortaleza de São Filipe. Seu formato poligonal proporciona uma estratégica visão sobre a Baía de Setúbal. Inspirado no Castelo de Santelmo (Nápoles), o forte, que servia como residência oficial do governador,  era também responsável por salvaguardar os domínios portugueses nesta região.

Capela do Forte de São Filipe (Foto Divulgação)

Capela do Forte de São Filipe (Foto Divulgação)

Além de uma pequena pousada e café, o local abriga uma verdadeira obra de arte tipicamente portuguesa: uma capela inteiramente recoberta em azulejos decorados em tons branco e azul. Na parte exterior é possível entrar nos antigos postos de observação, uma verdadeira viagem no tempo. A vista da baía é belíssima, avistando-se além do cais onde atracam os navios comerciais, até os resorts e as praias de Troia. Outro grande notícia é que a entrada é franca.

 

Praia do Meco: espaços democráticos (Foto Divulgação)

Praia do Meco: espaços democráticos (Foto Divulgação)

Sol e mar

Se Setúbal e Tróia são destinos para quem aprecia belas praias, sol e mar, a Margem Sul é um reduto pra lá de convidativo e um deles, a Costa de Caparica, é ainda mais acessível para quem está na capital. Sua extensa faixa de areia é uma das mais badaladas de Portugal, atraindo eventos culturais, shows e muita badalação, principalmente no verão.

Uma das praias mais procuradas na Caparica é a Aldeia do Meco. Se até os anos 1970 era isolada, hoje é reduto de celebridades portuguesas e gringas, além de uma sem fim de gente que aprecia suas areias e mar as vezes agitado.  A praia do Meco tem em seus 4 quilômetros espaços bem democráticos, recebendo desde famílias em tradicionais férias, até mesmo quem curte se conectar com a natureza tomando sol e nadando sem uma peça de roupas.

Próximo a Lisboa há muitos lugares para ver e que fogem dos roteiros tradicionais. E nem é preciso tanto esforço assim para se deparar com monumentos e lugares carregados de história. Portugal pode ser um dos menores países da Europa mas, com certeza é gigantesco em sua gloriosa história. Bom passeio!

* Eduardo Gregori é jornalista profissional especializado em viagens e Publisher do blog Eu Por Aí (euporai.com.br)

Sobre Eduardo Gregori

Eduardo Gregori é jornalista formado pela Pontifícia Católica de Campinas. Nasceu em Belo Horizonte e por 30 anos viveu em Campinas, onde trabalhou na Rede Anhanguera de Comunicação. Atualmente é editor do blog de viagens Eu Por Aí (www.euporai.com.br) e vive em Portugal