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Na terra de Carlos Gomes, a força da Cultura Viva
Ponto de Cultura Comunidade Jongo Dito Ribeiro (Foto Fabiana Ribeiro)

Na terra de Carlos Gomes, a força da Cultura Viva

Por José Pedro S.Martins

Se o maestro e compositor Antonio Carlos Gomes (1836-1896) foi vanguarda em sua época, a sua cidade natal, Campinas, mantém a vocação, sendo o território privilegiado para inovações como o movimento artístico que levou à criação da rede nacional e internacional da Cultura Viva. Pois na próxima segunda-feira, dia 22 de julho, Campinas voltará a ser o centro irradiador da Cultura Viva, com uma série de eventos consolidando esse conceito que representa um novo patamar da capacidade da arte e cultura popular em promover transformações sociais no Brasil.

Cultura Viva é o conceito que evoluiu e se tornou política pública em vários países do continente a partir das sementes lançadas em Campinas (ver abaixo) e da experiência implementada na gestão de Gilberto Gil no Ministério da Cultura. O apoio e a valorização de projetos e produtos culturais nascidos das comunidades são um dos pilares do Cultura Viva, destaca Marcelo Ricardo Ferreira, coordenador da rede de Cultura Viva em Campinas, formada por 21 Pontos e um Pontão de Cultura.

Pontos de Cultura são aqueles espaços/organizações onde atividades artísticas e culturais são mescladas com iniciativas de inclusão social e comunitária. O Pontão de Cultura é o espaço/organização que promove articulações de trabalho em rede, integrando e unindo diferentes atores. O Pontão de Cultura Areté e a Rede de Pontos de Cultura de Campinas são os protagonistas de um movimento local – e referência para outras regiões do Brasil e da América Latina – que terá um dos seus momentos altos na segunda-feira, dia 22 de julho.

Museu Carlos Gomes, tributo ao maestro e compositor campineiro, no Centro de Ciências, Letras e Artes (Foto Martinho Caires)

Museu Carlos Gomes, tributo ao maestro e compositor campineiro, no Centro de Ciências, Letras e Artes (Foto Martinho Caires)

A hora da Fênix – “Campinas confirma a sua vocação de Fênix, a ave mitológica do renascimento”, resume Marcelo Ricardo Ferreira, sobre os eventos de segunda-feira. O dia começará às 10 horas, com o Encontro de Cidadania Cultural, composto por visitas a três Pontos de Cultura da cidade: Ponto de Cultura Oficina Cultural da Mulher na comunidade Menino Chorão no Campo Belo, Instituto Anelo no Jardim Florence e Comunidade Jongo do Dito Ribeiro no Jardim Roseira.

As visitas foram idealizadas para o conhecimento, pelos participantes, da diversidade das organizações que são Pontos de Cultura na cidade, que vão desde o centenário Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA) até um movimento liderado por mulheres em uma ocupação na periferia da cidade com apoio do Instituto Padre Haroldo, passando pela Cooperativa Cultural Ungambikkula, grupo formado por artistas de diferentes linguagens, da música, das artes visuais, da dança e da gastronomia, que trabalham com o desenvolvimento da consciência.

“Quanto mais o Ponto de Cultura se articula, mais potente fica”, destaca Mãe Alê do Jongo, idealizadora da Areté Gestão Cultural e Apoio ao Terceiro Setor, organização proponente do Pontão de Cultura Areté. Mãe Alê é a Dra.Alessandra Ribeiro, coordenadora da Fazenda Roseira e Comunidade Jongo Dito Ribeiro.

Às 14 horas, na Prefeitura de Campinas, acontecerá o lançamento da Rede Cultura Viva 2019, celebrando o edital que selecionou 12 Pontos de Cultura (relação abaixo), resultado de convênio de R$ 1.960.000,00 entre a Prefeitura de Campinas e o governo federal no ano de 2015. O evento terá a participação do Secretário de Cultura de Campinas, Ney Carrasco; o Secretário de Diversidade Cultural do Ministério da Cidadania, Gustavo Amaral; e o Vice-Prefeito de Campinas Henrique Magalhães Teixeira.

Na ocasião, os Pontos de Cultura vão apresentar um calendário de 150 ações espalhadas pela cidade, que compreendem todas as linguagens artísticas, as culturas de matriz africana e indígena, comunicação, cultura da infância e a diversidade. “A proposta desse encontro é iniciar um processo de vivências dialógicas que gerem indicadores que permitam a articulação, colaboração, integração e fortalecimento da rede dos Pontos de Cultura de Campinas”, explica Marcelo Ricardo Ferreira, gestor cultural e coordenador da Rede Cultura Viva.

Pontos de Cultura

A atividade de encerramento na segunda-feira será às 19 horas, na Estação Cultura, com a Roda de Conversas e Trocas sobre Políticas Públicas de Financiamento para a Cidadania Cultural, com a presença de gestores públicos dos governos federal, estadual e municipal e especialistas da sociedade civil

Entre eles, estará Gustavo Amaral, Secretário de Diversidade Cultural da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania, gestor público do governo federal que cuida da Política Nacional Cultura Viva e que recentemente lançou o 7º Prêmio de Culturas Populares – edição Teixeirinha, que destina recursos a mestras e mestres da cultura popular brasileira e organizações da sociedade civil. Nessa Edição serão destinados R$ 5.000.000,00 (cinco milhões de reais) em recursos que contemplarão 250 (duzentos e cinquenta) iniciativas da cultura popular e tradicional “no intuito de dar sequência ao reconhecimento dessas expressões em todas as regiões do Brasil”, como afirma o documento oficial do governo federal sobre o Prêmio (aqui), que faz homenagem especial ao músico gaúcho Teixeirinha (Vitor Mateus Teixeira 1927-1985).

Por sua vez, um representante do governo estadual falará sobre as as modalidades do ProAC Expresso para culturas populares e tradicionais e o edital estadual de Pontos de Cultura. E da parte da Prefeitura será apresentada a nova proposta de destinação do FICC (Fundo de Investimentos Culturais de Campinas) para o setor e o edital de patrimônio imaterial. O evento também contará com especialistas da sociedade civil que vão falar sobre os cenários e perspectivas do setor.

“Nosso Pontão tem a honra de ativar mais possibilidades da cidadania cultural e de comunidades. De permitir a geração de ativos, de trocas econômicas, de valores sociais e de políticas”, afirma Rodrigo Martins, coordenador do Pontão de Cultura Areté.

Ponto de Cultura Ungambikkula (Foto Acervo Ungambikkula)

Ponto de Cultura Ungambikkula (Foto Acervo Ungambikkula)

RESGATE DE UMA HISTÓRIA VIBRANTE 

Com essa série de ações, a segunda-feira, 22 de julho de 2019, ficará marcada como mais um momento crucial na trajetória da Cultura Viva em Campinas. Na realidade, a cidade está na gênese desse novo conceito de cultura popular, que mescla arte, cidadania, direitos humanos, diversidade e estética.

Aquele que é considerado como o primeiro Ponto de Cultura, no formato como esse protagonista cultural ficou conhecido, foi no no distrito de Joaquim Egídio, no início da década de 1990. E o mentor desse Ponto de Cultura original foi o historiador Célio Turino, então na Prefeitura de Campinas.

Depois, Turino levou a ideia para o Ministério da Cultura, na gestão de Gilberto Gil. Foi nesse período, e mais exatamente em 6 de julho de 2004, que acontece a criação do Programa Cultura Viva, sob a coordenação da Secretaria de Cidadania e Diversidade Cultural (SCDC), do Ministério da Cultura (MinC).

A rede nacional da Cultura Viva chegou a ter mais de 3.500 pontos de cultura, atingindo mais de 8 milhões de pessoas, que receberam apoio oficial durante a gestão de Célio Turino à frente do Programa. A rede colocou universitários dialogando com a cultura griô, orquestra de violinos na favela da Mangueira (RJ), mídia livre, quilombolas trabalhando com cultura digital, pontinhos de cultura para crianças, entre outros ingredientes.

Como espaço original, Campinas sediou outros momentos determinantes para o fortalecimento do conceito de Cultura Viva Comunitária. Como o Encontro Cultura Viva Comunitária nas Cidades da América Latina, realizado nos primeiros dias de julho de 2017, como uma das etapas de preparação para o III Congresso Latino-Americano de Cultura Viva Comunitária, que seria realizado entre os dias 20 a 26 de novembro daquele ano em Quito, no Equador.

Em Campinas a Rede da Cultura Viva continua fervilhante, pela força de seus integrantes e pela sua interação com a vida comunitária. Agora, a rede será fortalecida com o apoio derivado do convênio firmado entre município e governo federal, materializado com o edital que deu apoio a 12 Pontos de Cultura, inicialmente. O convênio prevê a destinação de novos recursos, para um novo edital, mas ainda sem previsão de data para acontecer.

Hoje o Programa Cultura Viva funciona, no governo federal, na esfera da Secretaria de Diversidade Cultural da Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania. A história da Cultura Viva, fertilizada a partir da terra de Carlos Gomes, continua.

Sobre ASN

Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.