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Coronavírus pelo mundo: Vozes da resistência – VII (Austrália)
Austrália na última fase da transição (Foto Juliana Schaefer)

Coronavírus pelo mundo: Vozes da resistência – VII (Austrália)

Por Fábio Gallacci
Especial para a Agência Social de Notícias
Campinas, 26 de maio de 2020 
(Sétima reportagem da série com depoimentos de cidadãos moradores de vários países, sobre os impactos da pandemia.)
AUSTRÁLIA
Juliana Schaefer – Gold Coast
(MUITO RESPEITO ÀS DETERMINAÇÕES DO GOVERNO. CRIANÇAS JA VOLTARAM ÀS AULAS. APOIO OFICIAL PARA FICAR EM CASA.)
Dados de 26 de maio de 2020, 14 horas de Brasília

Dados de 26 de maio de 2020, 14 horas de Brasília

“Moro com a minha filha em Gold Coast, que fica no estado de Queensland, na Costa Leste da Austrália. Vivo aqui há pouco mais de uma década.
O governo local classificou o lockdown em níveis: do 1º ao 4º. O nível 4 é o mais restrito e o 1 o mais tranquilo. Hoje entramos no estágio 1. O estágio 2 – de onde acabamos de sair – nos permitia estar longe das nossas casas por até 50km, reencontrar famílias e amigos em reuniões de até dez pessoas. Lojas não essenciais reabriram no dia 1º de maio como um ‘teste’. A ideia foi ir liberando aos poucos o lockdown (que poderia voltar caso fosse necessário). Tudo sempre com distanciamento social e muito respeito, com limite de pessoas dentro de cada ambiente. Mesmo assim, andando no shopping, percebo que algumas lojas ainda optaram por continuar fechadas.
País me deu toda a estrutura e suporte para ficar em casa
Eu ainda não voltei a trabalhar porque a minha área está ligada ao turismo, em um parque temático. Esses locais ainda não podem receber mais do que dez pessoas. Então, ainda não sabemos quando vamos reabrir, mas já tenho feito tudo quase que normalmente. Minha filha ja retornou à creche e as escolas para crianças até a 4ª série tambem retornaram.
Lembrando que tudo aqui é dividido por estados. As divisas entre os estados ainda estão fechadas porque dois estados ainda estão tendo alguns casos (não mais do que 10 por dia) e, assim, fica mais fácil controlar.
Eu me senti muito privilegiada por estar em um país que me deu toda a estrutura e suporte para ficar em casa. Senti muito medo no inicio, principalmente pela minha filha, que tem apenas 3 anos de idade, mas sinto muita tristeza pois minha família continua no Brasil, onde os casos estão crescendo a cada dia, e as mortes também.
Acredito que aquele medo inicial passou, tudo está voltando ao normal, dentro do possível. Todos foram super cautelosos, ficando em casa e respeitando as ordens do nosso primeiro ministro. O que ajudou muito foram todos os incentivos. Todos os cidadãos que foram afastados do seu trabalho ou tiveram horas reduzidas estão recebendo para ficar em casa. Acredito que isso ajuda muito a manter a calma da população.
Em quarentena, precisei ser criativa, investir em jogos de tabuleiro e ter muita paciência e energia com minha filha. A televisão e a internet ajudam muito nessas horas.
Juliana e a filha (Foto Juliana Schaefer)

Juliana e a filha (Foto Juliana Schaefer)

Mistura de sentimentos
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, foi completamente inconsequente, genocida e imprudente! Todos os países que seguiram modelos de países que deram certo na pandemia (como a Nova Zelândia e a Coreia do Sul) pediam exatamente o contrário. Pediam que ficassem em casa, que tomassem muito cuidado. Bolsonaro não merece estar onde está. Mas se eu continuar falando sobre o que eu acho dele, provavelmente não vou parar tão cedo.
Nesse período, aqui, vivo uma mistura de sentimentos. Para os brasileiros, eu diria pra terem calma, para ficarem em casa, que só assim é possível conter o vírus. Mas como dizer pra ficar em casa se as pessoas precisam trabalhar pra colocar comida na mesa? É muita injustiça. Tudo isso graças a um desgoverno que não olha para seu povo e menospreza a doença.
Espero que as pessoas valorizem as pequenas coisas
Diria para as pessoas não serem egoístas, para saírem de casa somente se for realmente necessário, para ajudar o comércio local (de preferência com delivery) e para não se reunirem em festinhas. Não é só uma gripezinha!
Para o futuro, espero que as pessoas valorizem as pequenas coisas. Sejam gratos por poderem abraçar seus familiares, dêem valor aos serviços como o da diarista, do professor e também aos profissionais da área da saúde que estão se arriscando para salvar vidas. Aí no Brasil, tenham fé e façam a sua parte! E se cuidem, pois onde não existe um líder é cada um por si.”
Com foto de João Paulo Ramos

Com foto de João Paulo Ramos

Sobre ASN

Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.