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Na ausência de ações integradas, Observatório traduz os dados sobre Covid-19 na Região de Campinas
Observatório da PUC-Campinas avalia e analisa evolução da Covid-19 na RMC (Foto Adriano Rosa)

Na ausência de ações integradas, Observatório traduz os dados sobre Covid-19 na Região de Campinas

Por José Pedro Soares Martins

Campinas, 1 de outubro de 2020

Desde o início do mês de julho, os dados sobre a pandemia na Região Metropolitana de Campinas (RMC) deixaram de ser apenas um conjunto de números frios sobre a escalada dos casos e óbitos no conjunto dos 20 municípios, onde moram mais de 3,3 milhões de pessoas. Isto porque o Observatório da PUC-Campinas (https://observatorio.puc-campinas.edu.br/covid-19/), vinculado à área de extensão da Universidade, passou a publicar um painel interativo e um conjunto de notas técnicas traduzindo e contextualizando os dados fornecidos pela Fundação Seade, ligada ao governo de São Paulo, entre outras fontes.

A ação é uma das iniciativas que proliferaram no país desde o início da pandemia, e sobretudo na esfera acadêmica, tendo sido concebidas para o melhor entendimento das tendências e complexidade associadas ao gigantesco desafio planetário e com devastadora repercussão no cenário brasileiro. São iniciativas que nasceram em um contexto de desalinhamento de ações e posturas entre os entes federativos e de uma verdadeira guerra de (des)informação sobre aspectos críticos da pandemia. Tornar as informações disponíveis mais acessíveis e dar transparência a dados que permanecem invisíveis para o grande público são outros motivos que alimentam essas iniciativas, independentes ou vinculadas a alguma instituição de alcance comunitário.

Professor Paulo Ricardo Oliveira, do Observatório da PUC-Campinas (Foto Divulgação)

Professor Paulo Ricardo Oliveira, do Observatório da PUC-Campinas (Foto Divulgação)

“O objetivo do Observatório PUC-Campinas é contribuir com a difusão de informações e análises que ajudem a pensar a Região Metropolitana de Campinas de várias perspectivas, a econômica, a social, a ambiental, entre outras, colaborando na elaboração de políticas públicas integradas”, observa o professor extensionista e economista do Observatório, Paulo Ricardo da Silva Oliveira. “Com o surgimento da pandemia, o Observatório não poderia deixar de atuar e então foram criadas ações como um painel interativo, com dados atualizados, e as notas técnicas, formuladas pelos docentes e alunos”, completa Oliveira. Graduandos cuidam da elaboração de mapas e gráficos que ajudam no melhor entendimento sobre os dados publicados.

O painel interativo passou então a oferecer um panorama regional da pandemia, que ocorre no momento em que a Região Metropolitana de Campinas completa 20 anos. A RMC foi criada em 19 de junho de 2000, pela Lei Complementar nº 870.

Covid na RMC

A institucionalização da RMC foi o reconhecimento de uma realidade que já ocorria há muitos anos na prática, com a crescente conurbação de seus municípios. As divisas entre o maior deles, Campinas, com nove dos 20 municípios passam desapercebidas. Um tecido urbano contínuo avança a cada ano que passa, com novos condomínios e conjuntos habitacionais alimentando o adensamento populacional.

Com a criação da RMC, a região passou a contar com um Conselho de Desenvolvimento, integrado por representantes dos 20 municípios, e com uma instância técnica, a Agência Metropolitana de Campinas (Agemcamp), encarregada de contribuir com estudos e propostas em diversas áreas. O planejamento de ações em transporte, educação, saúde e meio ambiente começou a ter uma perspectiva regional. Integram a RMC os municípios de Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Morungaba, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d´Oeste, Santo Antônio de Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo.

Uma das ações resultantes da visão regionalizada da gestão pública foi a construção ou reforma, a partir de 2016, de dezenas de unidades básicas de saúde (UBS) nos 20 municípios, em função do Programa Saúde em Ação, financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e com contrapartidas do governo estadual. Essas novas UBS, como a do Jardim Boer, em Americana, e do Jardim São Francisco, em Santa Bárbara d´Oeste, passaram a integrar a rede de atenção básica à saúde que tem sido fundamental no enfrentamento da pandemia.

Não tem ocorrido, entretanto, ao  contrário do que seria necessário, uma ação regional, integrada, de combate à Covid-19. Cada município tem agido no interior de suas fronteiras. “Falta uma ação coordenada entre os municípios, assim como não ocorreu entre os entes federativos, com o governo federal praticamente abandonando os municípios”, lamenta o médico infectologista Paulo Abati, que atua na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e na rede municipal de saúde de Campinas.

Sem a articulação intermunicipal, faltava uma visão regionalizada da Covid-19 na RMC e essa demanda foi atendida com a criação do painel interativo do Observatório PUC-Campinas.  “Em um momento tão importante como esse, que requer o esforço conjunto das prefeituras e da sociedade, a plataforma busca ser um mecanismo facilitador à tomada de decisões”, afirma o professor Paulo Ricardo da Silva Oliveira, da PUC-Campinas.

Ele cita a questão da abertura do comércio como um exemplo da falta de alinhamento intermunicipal na RMC. Em determinado momento, enquanto Campinas fechava o comércio, outros municípios da região abriam, atraindo consumidores de fora. A situação mudou um pouco com a adoção do Plano São Paulo, pelo governo paulista.

Com validade a partir de 1 de junho, o Plano São Paulo passou a prever a retomada de atividades econômicas de forma paulatina nos municípios paulistas de acordo com a cor da fase em que se encontra o respectivo Departamento Regional de Saúde e seguindo critérios científicos sobre a sua situação epidemiológica: Vermelho, Laranja, Amarelo, Verde e Azul. No dia 3 de junho, o primeiro balanço do Plano São Paulo indicou que três regiões (Grande São Paulo, município de São Paulo e região de Registro) estavam na fase vermelha, a de maiores restrições à reabertura das atividades, 10 regiões estavam na fase laranja e apenas quatro, na fase amarela. No dia 11 de setembro, todas as regiões estavam na fase amarela, a de flexibilização das atividades.

Curva de casos de Covid-19 na RMC até 19 de setembro (Fonte Observatório PUC-Campinas)

Curva de casos e óbitos de Covid-19 na RMC até 19 de setembro (Fonte Observatório PUC-Campinas)

Evolução da pandemia

O painel interativo sobre Covid-19 do Observatório da PUC-Campinas possibilita o monitoramento da evolução da pandemia nos 20 municípios da RMC e, de alguma forma, os resultados da rede pública de saúde instalada na região. Os dados coligidos mostram um rápido crescimento no número de casos a partir de junho e até meados de agosto, quando começam a cair, como ocorreu em outras regiões do Brasil.

Como aconteceu em todo país, na RMC a aceleração aconteceu depois de duas trocas de ministros da Saúde e do período em que o cargo de ministro ficou vago, de 15 de maio a 2 de junho, quando assumiu interinamente o general Eduardo Pazuello. O militar apenas tomou posse oficialmente do cargo no dia 16 de setembro. Luiz Henrique Mandetta foi ministro de 1 de janeiro de 2019 a 16 de abril de 2020, quando deixou o cargo após muitas divergências com o presidente Jair Bolsonaro. O seu sucessor, Nelson Teich, tomou posse no dia 17 de abril e se demitiu no dia 15 de maio.

Um dos motivos da demissão de Mandetta foi a sua forte defesa do isolamento social, que nunca foi compartilhada pelo presidente da República. Para muitos especialistas, a conduta errática no governo federal sobre a Covid-19 teve efeito negativo nas políticas de enfrentamento da pandemia. “Nossos índices de isolamento variaram muito ao longo desse período, em parte, em função das mensagens governamentais tão contraditórias e diversas”, afirma a médica sanitarista Carmen Lavras, ex-secretária municipal da Saúde de Campinas e atual coordenadora do Programa de Estudos de Sistemas de Saúde, no Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP) da Unicamp.

Após o período de queda nos números, o Observatório da PUC-Campinas registrou o incremento de casos de Covid-19 na região na semana de 12 a 19 de setembro. “O aumento percentual significativo no registro de casos e óbitos no município de Campinas e na região, nesta última semana, faz as luzes de alerta piscarem com mais intensidade”, alertou o Observatório da PUC-Campinas, em nota técnica assinada pelo professor Paulo Ricardo Oliveira, pelo médico infectologista do hospital da PUC-Campinas André Giglio Bueno e graduandos.

Os membros do Observatório entendem que esse aumento pode ter sido decorrência do relaxamento no isolamento social, como se viu sobretudo por ocasião do feriadão de 7 de setembro: “Conforme vem sendo ressaltado nas últimas notas e por diversas autoridades, à medida que a flexibilização aumenta, a responsabilidade individual para seguir as recomendações também aumenta. E, se a adesão às medidas de controle diminui, a possibilidade de o número de casos aumentar fica mais clara. É possível, portanto, que os números da última semana estejam começando a refletir um movimento como esse. Passadas duas semanas do último feriado nacional, a falta de cuidado com as medidas básicas de proteção, escancarada em imagens vistas por todos em praias e bares, corrobora essa hipótese”.

taxa de óbitos por Covid-19 na RMC, por 100 mil habitantes (Fonte: Observatório da PUC-Campinas)

Taxa de óbitos por Covid-19 na RMC, por 100 mil habitantes (Fonte: Observatório da PUC-Campinas)

Os membros do Observatório alertaram, ainda, para a variação do Número Reprodutivo Efetivo (Re) no município de Campinas, o maior e sede da RMC. O Re é um indicador que aponta quantas pessoas em média um doente pode infectar. “Quando este valor está acima de 1, entende-se que a epidemia está em expansão; quando está igual a 1, estabilidade; e abaixo de 1, indicaria um declínio da epidemia”, explica a nota técnica do Observatório da PUC-Campinas, sobre a semana de 12 a 19 de setembro.

No começo da pandemia, a 26 de março, o Re de Campinas era de 2,1, o mais alto já registrado. Depois variou em vários momentos acima de 1. Depois de vários dias abaixo de 1, desde 14 de agosto, o Re de Campinas voltou a subir, chegando a 1,1 em 5 de setembro.

A variação em Campinas do Número Reprodutivo Efetivo (Re) e outros dados, citados nas notas técnicas do Observatório da PUC-Campinas, têm como fonte iniciativa semelhante, a do Observatório Covid-1 BR, fruto da união voluntária de especialistas de diversas áreas acadêmicas e de estudantes de pós-graduação (ver abaixo). Outra fonte são os boletins detalhados que a Secretaria Municipal de Saúde de Campinas tem divulgado, ao longo da trajetória da pandemia.

O responsável pela análise, nas notas técnicas do Observatório, dos aspectos ligados à saúde é André Giglio Bueno, médico infectologista no Hospital da PUC-Campinas. Ele destaca que, de fato, de maneira geral a RMC seguiu mais ou menos o mesmo padrão de evolução da Covid-19 que outras regiões do país, com um momento de elevação acentuada de casos e óbitos, seguido do decrescimento dos números.

O médico assinala que, apesar de uma fase mais crítica, de uso de quase toda a capacidade instalada de UTIs específicas para casos mais graves de Covid-19 na RMC, houve a queda nos números. “Era pouco provável que a região de Campinas tivesse um colapso no atendimento, como ocorreu em outros locais do Brasil”, afirma o infectologista, citando a existência na RMC de uma rede hospitalar e de atendimento básico de boa qualidade.

Rua 13 de Maio, centro de Campinas, após reabertura do comércio em junho (Foto Adriano Rosa)

Rua 13 de Maio, centro de Campinas, após reabertura do comércio em junho (Foto Adriano Rosa)

Alguns hospitais da RMC aumentaram a sua capacidade instalada de UTIs para casos graves de Covid-19. Foi o caso das unidades sob gestão  da Unicamp, referência para o atendimento regional, que aumentaram o número de leitos de UTI de 158 para 251, o que foi possível em função de transferência de recursos do governo estadual e de muitas doações voluntárias. Também houve a instalação de um hospital de campanha em Campinas, com 84 leitos, pela atuação da Associação Expedicionários da Saúde.

A Unicamp também se preparou para a realização de diagnósticos em massa da população, em Campinas e municípios da RMC e outras regiões. Até o fim de agosto, mais de 70 mil testes RT-PCR foram realizados com os kits desenvolvidos na Universidade, tendo sido atendidos 62 municípios. A Unicamp se equipou para ampliar sua capacidade de atendimento e realização de diagnóstico em massa, em razão da força-tarefa criada pelo reitor Marcelo Knobel e com a participação central de órgãos como o Laboratório de Estudos de Vírus Emergentes (LEVE) da Universidade, o único de nível 3 de biossegurança na RMC. O LEVE atuou, por exemplo, na ampliação da capacidade do Laboratório de Patologia Clínica do Hospital de Clínicas, para fazer os diagnósticos em massa.

O médico infectologista Paulo Abati, contratado pela Unicamp e que também atua no serviço municipal de saúde de Campinas, corrobora a opinião do colega André Giglio Bueno. “A rede pública de saúde de Campinas se estruturou, mesmo que tardiamente, de maneira bastante satisfatória para o enfrentamento da Covid-19. Qualquer pessoa com sintomas de gripe hoje consegue fazer teste, em qualquer posto de saúde da rede pública, o que não era possível no início da pandemia. As equipes de saúde da família atuam no território, monitorando as pessoas sintomáticas. É um ponto positivo esse trabalho da rede pública até conseguir fazer o diagnóstico precoce e acompanhar a população nos territórios”, diz Abati. Ele observa, ainda, que, “seguindo o que diz a Ciência Campinas não colocou no seu protocolo disponibilizar cloroquina para a população”, uma medida que vem sendo recomendada em instância federal, pelo próprio presidente da República.

“Ponto positivo para Campinas”, afirma Abati. Ele nota, entretanto, que “em algum momento, de reabertura do comércio, a Prefeitura não ouviu a Ciência”. No dia 28 de maio, o prefeito Jonas Donizette anunciou um plano para a abertura gradual do comércio. Dois dias depois, voltou atrás, em função do aumento de procura nos serviços de saúde. No dia 8 de junho, novamente parte do comércio foi reaberta, gerando grande fluxo de consumidores e aglomeração na região central da cidade e consequente elevação do número de casos de Covid. Duas semanas depois, novamente houve o fechamento das atividades, até a retomada posterior, de acordo com o Plano São Paulo.

Observatório da PUC-Campinas faz estudo sobre vulnerabilidade social em Hortolândia

Todo esse movimento pendular, nas decisões dos gestores e nos números de casos de óbitos, foi registrado nos dados do painel interativo e nas notas técnicas do Observatório da PUC-Campinas sobre a Covid-19. Mas o  Observatório, que adquiriu crescente visibilidade na opinião pública e sociedade em geral na RMC, está avançando em suas linhas de ação, com estudos específicos sobre aspectos ligados à pandemia.

É o caso de um estudo sobre a vulnerabilidade social em uma região do município de Hortolândia, considerando como a condição social da população pode agravar a exposição à Covid-19. O estudo é resultado de um termo de cooperação técnica assinado entre o Observatório e a Secretaria Municipal de Inclusão e Desenvolvimento Social de Hortolândia e prevê o diagnóstico territorial na região do Jardim Novo Ângulo, de alta concentração de famílias de baixa renda e onde estão situadas três áreas de ocupação.

“Esse diagnóstico vai nos permitir conhecer melhor as potencialidades e vulnerabilidades do território, incluindo a identificação das famílias chefiadas por mulheres e a quantidade de pessoas idosas, entre outros itens que podem ajudar muito no desenvolvimento de políticas públicas”, explica Eliane da Silva Souza, coordenadora do Centro de Referência de Assistência Social (Cras) do Novo Ângulo.

A coordenadora observa que o diagnóstico vai apontar as fragilidades no Novo Ângulo no caso do enfrentamento da pandemia. “O estudo vai possibilitar dados como a população de risco, quantas pessoas não têm água encanada em casa, por exemplo, o que é fundamental para a questão da higiene”, diz Eliane.

Os primeiros resultados do diagnóstico de vulnerabilidade no Jardim Novo Ângulo foram apresentados em reunião virtual no dia 29 de setembro. Outras conclusões serão apresentadas regularmente até o fim do termo de cooperação técnica, em 2021. “Sem esse apoio do Observatório da PUC-Campinas não seria possível esse estudo, que é feito de forma gratuita, sem custos para o município, o que é muito importante hoje em tempos de restrições orçamentárias”, completa a coordenadora Eliane.

O diagnóstico territorial, conduzido por docentes ligados ao Observatório da PUC-Campinas e muitos estudantes, também vai incluir uma cartografia social da região do Novo Ângulo, visando o fortalecimento da economia solidária e do protagonismo das mulheres na região. Participam da elaboração do diagnóstico, entre outros membros do Observatório, os professores Paulo Oliveira e Cristiano Monteiro da Silva.

Ainda em Hortolândia, o Observatório da PUC-Campinas está mantendo outra parceria, com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, para mapeamento do empreendedorismo na população negra. O mapeamento, como nota Alessandra Santos Rosa, assessora econômica da Secretaria, será essencial para a implementação da lei municipal, aprovada no final de 2019, que criou o Programa Municipal Afroempreendedor, pioneiro na Região Metropolitana de Campinas.

Desta forma o Observatório da PUC-Campinas, além de auxiliar na disseminação e avaliação de dados de forma regionalizada sobre Covid-19, superando o hiato deixado pela ausência de ações intermunicipais integradas, também está contribuindo com políticas públicas na RMC. Também dentro de suas atribuições, o Observatório ajuda na formação acadêmica dos estudantes envolvidos.

É a situação de Felipe Pedroso de Lima, aluno no quarto período do curso de Geografia e que está colaborando na elaboração dos mapas usados nas notas técnicas do Observatório. “Está agregando demais na minha formação, principalmente porque estamos dialogando com outras áreas, como no caso da Economia e da Medicina, pela participação de profissionais como Paulo Oliveira e André Giglio”, comenta o graduando. “As disciplinas estão se conversando no Observatório e isso enriquece o meu currículo e o trabalho da equipe como um todo”, ele conclui.

Variação em Campinas do  Número Reprodutivo Efetivo (Re) para Covid-19, fornecido pelo Observatório Covid-19 Brasil

Variação em Campinas do Número Reprodutivo Efetivo (Re) para Covid-19, fornecido pelo Observatório Covid-19 Brasil

OBSERVATÓRIO COVID-19 BR: REDE DE PESQUISADORES E ALUNOS PARA DECIFRAR OS ENIGMAS DA PANDEMIA 

O uso, nas notas técnicas do Observatório da PUC-Campinas, de dados como a variação em Campinas do Número Reprodutivo Efetivo (Re), fornecidos pelo Observatório Covid-19 BR (https://covid19br.github.io/index.html) é um claro exemplo de como as iniciativas nascidas no Brasil para decifrar os enigmas associados à pandemia acabaram promovendo um diálogo permanente, pela profundidade das análises e abordagens e pela perspectiva multidisciplinar envolvida.

De fato, o Observatório Covid-19 BR acabou se tornando uma rede de especialistas acadêmicos em várias áreas do conhecimento. “Houve um grupo inicial, de alguns pesquisadores, e aos poucos houve uma ampliação, até a formação de uma network com a colaboração voluntária de todos os membros”, comenta o físico Roberto Andre Kraenkel, integrante do núcleo original do Observatório Covid-19 BR.

Roberto Kraenkel: cacofonia sobre Covid-19 motiva criação de Observatórios (Foto Divulgação)

Roberto Kraenkel: cacofonia sobre Covid-19 motiva criação de Observatórios (Foto Divulgação)

“Eram pesquisadores entusiasmados e interessados em entender melhor a evolução da Covid-19, contribuindo com análises qualitativas e quantitativas em diversas áreas”, diz Roberto, que é pesquisador do Instituto de Física Teórica (IFT) da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Com o crescimento da rede, passaram a integrar o Observatório professores e pesquisadores de várias instituições universitárias, do Brasil e outros países, além de estudantes de pós-graduação, também de instituições brasileiras e do exterior, como MIT, Harvard e Universidades de Glasgow, na Escócia, e Chicago, nos Estados Unidos.

Kraenkel nota que não existe estrutura formalizada do Observatório Covid-19 BR e nem uma coordenação, apesar de alguns nomes terem uma atuação mais central. As contribuições vão aparecendo de acordo com as especialidades de cada colaborador e assim é mantido o site, onde podem ser encontradas informações sobre a situação da pandemia em estados e vários municípios, análises sobre diferentes aspectos da Covid, informações técnicas e a presença do Observatório na mídia.

As informações sobre municípios específicos, como no caso de Campinas, acontecem quando há o envolvimento de especialistas nesses locais e que se integram ao Observatório. “Em Campinas, há profissionais de alto nível na Secretaria Municipal de Saúde, na Unicamp e outras universidades e com isso os dados são muito completos e aprofundados”, diz Roberto Kraenkel. Além de Campinas, Santa Bárbara d´Oeste é outro município da RMC com dados mais amplos no Observatório Covid-19 BR.

Curva dos casos graves de Covid-19 em Campinas, sendo em azul os notificados e em vermelho os estimados (Fonte Observatório Covid-19 BR)

Curva dos casos graves de Covid-19 em Campinas, sendo em azul os notificados e em vermelho os estimados (Fonte Observatório Covid-19 BR)

O físico do IFT-Unesp reconhece que a ausência de políticas integradas e de alinhamento entre os entes federativos contribuiu para a multiplicação de iniciativas como os Observatórios independentes de monitoramento da Covid-19. “O governo brasileiro praticamente abandonou a atuação na pandemia, deixando tudo por conta dos estados e municípios. Então temos praticamente 27 políticas diferentes dentro do mesmo país, se considerarmos apenas os 26 estados e Distrito Federal”, comenta.

A falta de alinhamento entre as ações dos entes federativos, diz Kraenkel, produz uma cacofonia que interfere nas informações sobre a pandemia, daí o aparecimento de iniciativas da sociedade civil e na academia para o melhor entendimento das múltiplas implicações da doença. “No Brasil, temos uma instituição de alta capacidade, ligada ao governo federal, no caso a Fiocruz, que é vinculada ao Ministério da Saúde, mas o próprio governo não a ouve, não considera o que seus profissionais de excelência dizem. É o contrário da França ou Alemanha, onde os governos acatam o que suas instituições científicas afirmam. A transparência e confiabilidade das informações são muito maiores nesses casos”, diz o membro do Observatório Covid-19 BR.

Roberto Kraenkel assinala que, por outro lado, a pandemia tem reafirmado a necessidade de a própria comunidade científica se comunicar de modo mais claro, inteligível, para a população em geral. “Ainda existe na comunidade científica uma dificuldade de utilização de linguagem mais acessível. E isso se torna cada vez mais importante para a própria sobrevivência da ciência, em um país onde ela vem sendo atacada constantemente pelo governo federal e também por governos estaduais”, completa o físico, salientando que de modo geral os Observatórios têm feito um esforço exatamente no sentido de dar maior clareza às informações e análises sobre a pandemia, de modo que sejam melhor assimiladas e compreendidas pela opinião pública. Assim a sociedade brasileira tem acesso a dados mais confiáveis, trabalhados e contextualizados sobre o imenso desafio coletivo ainda sem prazo para terminar que é a pandemia de Covid-19.

OUTROS OBSERVATÓRIOS DA COVID-19

 

Observatório Covid-19 Maringá: http://complex.pfi.uem.br/covid/

 

Observatório da Universidade Federal de Santa Maria: https://www.ufsm.br/coronavirus/observatorio/

 

 

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