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CAMPOS SALES

CAMPOS SALES

Maria Rita Amoroso

Hoje Campinas é uma cidade que se depara com desafios idênticos aos de tantas metrópoles brasileiras no contexto de pós-pandemia, que trouxe muitas mudanças no cotidiano de seus moradores e novas demandas para a sociedade atual. Antes de mais nada, é preciso trabalhar de forma mais justa e igualitária para a reintegração de toda a comunidade no dia a dia da cidade, como forma de superar as várias facetas da problemática urbana existente no presente de nossas grandes cidades. Fundamental, aqui, é começar pela valorização e incentivo de toda população para serem coadjuvantes na melhoria das condições de vida – e seus primeiros beneficiados.

Todos nós temos conhecimento do atual projeto da prefeitura “Viva Campos Sales” (ver https://correio.rac.com.br/campinasermc/obras-de-revitalizac-o-da-campos-sales-s-o-adiadas-1.1269645). O objetivo é requalificar a avenida na área central da cidade, projeto agora previsto para ter início em 2023. Uma das características civis do centro de Campinas, por exemplo, é a presença dos lojistas e comerciantes que trabalham mas também habitam nesta área. Cabe lembrar então que estes são cidadãos e cidadãs que também merecem atenção neste momento de revitalização da área central da cidade. Enquanto comerciantes, porém, são “atores urbanos” e devem manter um diálogo com as políticas públicas para melhorias urbanas que beneficiem eles próprios e a comunidade. Frente à questão da preservação patrimonial, relacionada à cultura e à memória, o comércio tem a obrigação de conservar os edifícios e suas fachadas como modo de respeito aos valores identitários locais. Mas não para por aí.

Neste ponto deve estar claro para os habitantes da cidade que todas as comunidades de moradores, em maior ou menor grau, mantém relação com as avenidas do centro histórico (ou do centro expandido), visto que frequentam tais áreas enquanto trabalhadores, consumidores ou apenas transeuntes. Importa salientar, então, que quando se fala de requalificação de uma importante avenida como a Campos Sales, existem muitos aspectos positivos sendo trabalhados para o bem estar da população, incluindo questões de segurança e higiene, melhores condições de uso dos transporte públicos e também de mobilidade, incluindo inauguração de ciclovias no centro. E tudo isso é parte de ações focadas em melhorias sociais, econômicas e culturais que estão em sintonia com as exigências de um futuro sustentável e mais humano, auxiliando ainda no combate aos efeitos danosos das mudanças climáticas que relacionam cidade e meio ambiente.

Em resumo, atualmente em Campinas existem trabalhos sendo desenvolvidos a fim de tornar realidade o respeito a uma acessibilidade cidadã ao centro da cidade, dando condições, inclusive, para que as próximas administrações deem continuidade a políticas públicas desta natureza. Aliás, o projeto que está para ser implantado agora na Avenida Campos Sales é continuação do trabalho de requalificação urbana da Avenida Francisco Glicério feito em 2015-2016, projeto que tive a honra de coordenar enquanto arquiteta  e urbanista em parceria com a prefeitura, e que incluiu, entre outras reformas, o enterramento das redes de energia elétrica e telecomunicações e a troca das redes de redes de água e esgoto (cuja execução foi interrompida para não atrapalhar as vendas do comércio no mês de Natal de 2015, tendo as obras sido retomadas em janeiro de 2016, até terminar por recapear integralmente toda a avenida).

E pelo fato de estar buscando ações de melhoria na Campinas em que sempre morei e pela qual luto pela implantação de políticas públicas para benefício de toda a comunidade, posso afirmar que a preservação do patrimônio construído, do patrimônio cultural resiliente e do ambiente nas áreas urbanas como a do centro, de maior concentração popular, está relacionada diretamente com as comunidades de moradores de toda a cidade, que se beneficiarão das implantações de reutilização ética e sustentável na Avenida Campos Sales adequada às demandas da sociedade atual – a exemplo da Francisco Glicério que hoje temos aí. Dar continuidade a ações de governos passados denota comprometimento com as ações de políticas publicas

Claro, sempre é possível se fazer mais, por isso também estamos trabalhando para trazer inovações na Av. Campos Sales, com estratégias de reuso e preservação da área, para maior integração da população com a história cultural e urbanística da cidade, e através de várias frentes que priorizam o comércio e a economia, a habitação e a mobilidade local, tais como:

  1. Participação dos lojistas na limpeza e pintura das fachadas, além de uso de propagandas padronizadas (através de uma cartilha, criada na época das reformas na Glicério);
  2. Reforma e aumento da extensão das calçadas, com inclusão de ciclovias;
  3. Reestruturação das bancas de jornal e alimentos da Av. Campos Sales para melhor uso público, com padronização no tamanho e modernização no quesito higiene e estética. Além disso, as bancas receberão um “equipamento cultural” com textos, fotografias e QR Code trazendo informações históricas de Campinas (casas de comércio, patrimônio históricos, as importantes vias públicas, as grandes personalidades, etc.);
  4. Reforma dos pontos de ônibus com modernização (disponibilização de Wi-Fi) e qualidade na acessibilidade e na segurança dos transeuntes (incluindo “semáforo sonoro para deficientes físicos” nas faixas de pedestre)

Todas estas ações certamente proporcionarão educação patrimonial aos moradores e cidadãos de Campinas durante o dia e a noite, fundamental para o bem estar social e para o fomento econômico, potencializando a preservação do patrimônio e da cultura local.

Ao preservar seu patrimônio histórico deixamos um legado às gerações futuras .

Para preservar é necessário conhecer e ao conhecer reconhecer uma identidade que se faz presente pelo construido e pelo seu patrimônio  imaterial

Maria Rita  Silveira de Paula Amoroso

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A arquiteta e urbanista Maria Rita Amoroso (Foto Martinho Caires)

A arquiteta e urbanista Maria Rita Amoroso (Foto Martinho Caires)

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