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CIESP Campinas: crise hídrica inibe novas indústrias e pode gerar desemprego
José Nunes Filho, diretor do CIESP Campinas (Foto Roncon & Graça Comunicações)

CIESP Campinas: crise hídrica inibe novas indústrias e pode gerar desemprego

Ainda não há migração de indústrias da região de Campinas em função da crise hídrica, mas continua em vigor a suspensão temporária de novas outorgas de uso da água, “o que pode estar inibindo a vinda de novas indústrias, principalmente as hidro-dependentes”. A afirmação é do diretor titular do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (CIESP), Regional Campinas, José Nunes Filho, para quem a prevista restrição de água para a indústria “pode gerar desemprego, desabastecimento de produtos industrializados, inflação e paralisação do desenvolvimento regional”. O diretor do CIESP Campinas concedeu entrevista exclusiva para a Agência Social de Notícias.

Pelo terceiro dia consecutivo os reservatórios do Sistema Cantareira chegaram nesta terça-feira, 27 de janeiro, a 5,1% de sua capacidade. Em poucos dias, portanto, pode entrar em vigor as regras de restrição de uso da água na bacia do rio Piracicaba, onde está a região de Campinas,  estabelecidas a 22 de janeiro pela Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica (DAEE). Por estas regras, haverá restrição de uso da água toda vez que os reservatórios do Cantareira descerem abaixo de 5% da capacidade. Com isso haverá redução em 20% da água para abastecimento humano e dessedentação animal e em 30% para a indústria e agricultura.

Na opinião do diretor do CIESP Campina, estas restrições são “justas” para o conjunto das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí “até o completo esgotamento do Sistema Cantareira, o que é esperado para maio”. Depois disso, entretanto, para o dirigente, “o justo seria manter a vazão primária de entrada no sistema para a bacia do PCJ, que é a bacia doadora, com a suspensão do bombeamento para a Região Metropolitana de São Paulo”.

Os reservatórios do Cantareira, que abastecem metade da Grande São Paulo, são formados por águas da bacia do rio Piracicaba. Então, na visão do diretor do CIESP Campinas, essas águas deveriam vir integralmente para a região de Campinas, situada nas bacias PCJ, quando o Cantareira estiver totalmente seco, uma vez que as águas saem originalmente da bacia do rio Piracicaba.

José Nunes Filho também considera justa a restrição maior do uso da água para indústria e irrigação, na medida em que a legislação brasileira prevê a prioridade de uso para abastecimento humano e dessedentação animal. Contudo, alerta que “o que não é justo é privilegiar a Região Metropolitana de São Paulo, que tem outras opções para o seu abastecimento, em detrimento das cidades da bacia do PCJ, desviando as águas dos nossos rios que são a nossa única fonte de água potável”.

A proposta do CIESP Campinas, para o equacionamento da crise hídrica, assinala o dirigente, é que a Sabesp (empresa estatal que administra o Sistema Cantareira) e o governo do Estado “cumpram com as contrapartidas da concessão da outorga do Sistema Cantareira de 2004, buscando novas opções de abastecimento para a RMSP, diminuindo a perda de água na distribuição, recuperando matas ciliares e áreas de recarga de manancial, promovendo a interligação dos sistemas e bacias e construindo as represas de Amparo e Pedreira como reservas para a RMC”.

O dirigente da indústria se refere aos termos da concessão, em 2004, de nova outorga para a Sabesp continuar retirando água da bacia do rio Piracicaba para alimentar o Sistema Cantareira. Entre as exigências indicadas na ocasião,  pela Agência Nacional de Águas (ANA) e Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica (DAEE), estava justamente a busca de novas alternativas para abastecimento da Grande São Paulo, diminuindo a dependência do Cantareira. José Nunes Filho também cita o projeto das represas de Amparo e Pedreira, na bacia do rio Piracicaba, atualmente em discussão e que ficariam prontas em cerca de três anos. As obras ainda dependem, porém, do licenciamento ambiental, entre outras questões previstas em lei.

O dirigente do CIESP Campinas entende que é necessário mudar a postura em relação à água: “Temos que estar conscientes que a água é um bem finito,  precioso e fundamental para a vida e tem que ser usada com a parcimônia e o cuidado devidos, por isso é fundamental em todos os níveis de governo a realização de campanhas de conscientização sobre o seu uso racional, talvez até fazendo parte do projeto pedagógico do ensino público”.

José Nunes Filho nota que a crise hídrica vem sendo discutida desde o início do ano passado pelo CIESP e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP):  “Já cuidamos desse tema durante todo o ano passado, realizamos seminários, palestras e encontros sobre o uso racional da água na indústria, também editamos uma cartilha com sugestões de medidas de contingenciamento que foi distribuída junto a nossos associados”.

 

 

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