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Mostra Arte & Stilo resgata outras faces do artista plástico campineiro Thomaz Perina
Exposição apresenta nove croquis para decoração de interiores (Fotos Adriano Rosa)

Mostra Arte & Stilo resgata outras faces do artista plástico campineiro Thomaz Perina

Por José Pedro Martins

Quais os limites para a criação? Com uma obra multifacetada, o artista plástico campineiro Thomaz Perina (1920-2009) confirmou que não existem tais limites, e a prova está na mostra “Arte & Stilo”, aberta oficialmente, com coquetel para convidados, na noite desta terça-feira, 25 de agosto, na Stilo Decor (avenida Washington Luis, 402). Com entrada gratuita, a mostra fica aberta até 26 de setembro e é uma grande oportunidade para arquitetos, cenógrafos, designers, paisagistas e público em geral conhecerem o talento de Perina também como decorador de interiores.

A mostra reúne nove croquis de interiores assinados por Perina, e que foram executados principalmente em saguões de entradas de empresas da cidade e região. Curadora da exposição e diretora do Instituto Thomaz Perina (ITP), Maria Angelina dos Santos observa como o artista tinha completo domínio da técnica do design de interiores, sem o uso dos recursos de informática da atualidade. “Costumo dizer que ele aplicava a tecnologia de ponta, a ponta dos lápis e pinceis”, ela resume.

Leo Cury, Walenska Florêncio e Maria Angelina dos Santos, do Instituto Thomaz Perina

Leo Cury, Walenska Florêncio e Maria Angelina dos Santos, do Instituto Thomaz Perina

Angelina lembra que Perina desenvolveu, sobretudo na década de 1970, uma intensa atividade como decorador, cenógrafo e designer. Desenhou várias peças para Carnaval e decorou muitos ambientes comerciais, industriais e residenciais. Em 1974, decorou o interior do Teatro Castro Mendes e concebeu cenários e figurinos para a ópera “O Guarani”, de Carlos Gomes, que inaugurou o novo espaço cultural da cidade.

Em 1975, Perina recebeu do prefeito de Campinas, Lauro Péricles Gonçalves, a missão de “criar uma intervenção de impacto” para o design do interior do Teatro do Centro de Convivência Cultural. O artista criou uma textura única, rendilhada e translúcida, através da qual a luz ampliava um espaço escultural por todo o ambiente. Mais um motivo para que a cidade tenha mais atenção e cuidado com o Teatro do Centro de Convivência, tão degradado nos últimos tempos.

Compõem a mostra “Arte & Stilo” trabalhos da fase mais conhecida do artista. São telas com motivos abstratos e colagens, alinhadas ao que a curadora Maria Angelina dos Santos denomina “síntese da paisagem”. É um conceito que ele desenvolveu e sobre o qual pesquisou muito, e que representou um completo rompimento, desde o início da década de 1960, com o que executou no início da carreira. “Ele era um exímio retratista e desenhista”, lembra Angelina.

Exposição contempla obras da fase mais abstrata do artista

Exposição contempla obras da fase mais abstrata do artista

Pedaços de carvão – Nascido e criado na Vila Industrial, Perina tinha uma identificação enorme com a chamada humanidade comum, de carne e osso. Começou a sua longa trajetória pintando na rua, com pedaços de carvão da cozinha, para distrair os ferroviários que iam e voltavam do trabalho na estação da Companhia Paulista.

“Eu via os operários da Mogiana, que saíam às 4h30, primeiro passavam na minha rua por que sabiam que estaria toda desenhada com carvão – de cozinha, carvão do fogão. Aí, então, quando dava 4 horas eu ia lá na rua desenhar por que achava que tinha um compromisso, por que vinha gente ver”, contou o artista, em depoimento para o documentário “Eu quero o mínimo para falar”, dirigido por Camilo Cassoli e pesquisa da historiadora Sonia Fardin. O filme foi realizado durante a catalogação do acervo para o Instituto Thomaz Perina.

Uma mudança de mentalidade e estética começou a operar quando visitou na capital paulista, em 1951, a I Bienal de São Paulo. Obras de Picasso e Max Bill, entre outros, com quem teve contato pela primeira vez, tiveram grande impacto em seu pensamento sobre a vida e a arte.

Entre 1957 e 1966 Perina integrou o Grupo Vanguarda, do qual foi um dos fundadores e que revolucionou a cultura local. Entre 1961 e 1975 participou do Grupo Hoje. Em 1965, foi um dos fundadores do Museu de Arte Contemporânea de Campinas (MACC).

Thomaz Perina morreu em 28 de novembro de 2009. O Instituto que leva o seu nome cuida de sua memória, além de estimular novos talentos, promovendo ainda o Projeto Arte Educação, em benefício de milhares de alunos de escolas de Campinas e região.

“Arte & Stilo” foi montada na Stilo Decor a partir de um convite da arquiteta Leo Coury para o Instituto Thomaz Perina. Relações públicas da loja, Leo Coury manteve forte amizade com Perina e não teve dúvidas em propor uma mostra do artista como a primeira executada pela Stilo Decor. A proprietária Walenska Florêncio não teve dúvidas em aceitar a proposta. “É um grande artista de Campinas, do Brasil, e o público merece conhecer um outro lado de sua obra”, diz Walenska. A Stilo Decor é uma loja conceito da Scenare.

Croquis concebidos com "tecnologia de ponta, ponta de lápis e pincel", segundo Angelina, diretora do ITP

Croquis concebidos com “tecnologia de ponta, ponta de lápis e pincel”, segundo Angelina, diretora do ITP

Patrocínio cultural  – O Instituto Thomaz Perina é patrocinado pela Coca-Cola FEMSA Brasil, por meio do Programa de Ação Cultural (ProAC) do Governo do Estado de São Paulo. Desde 2005, quando foi criado, o ITP tem apoio da empresa. Em 2013, duas obras do artista campineiro passaram a integrar a Coleção FEMSA, no México, uma das mais importantes coleções artísticas empresariais do continente.

“A Coca-Cola FEMSA Brasil tem construído uma bem-sucedida cultura de negócios, focada na geração de valor econômico, ambiental e social. Isso significa que temos o compromisso de atuar em benefício das comunidades onde operamos, seja por meio de ações voltadas à sustentabilidade e ao incentivo de hábitos para uma vida mais saudável e ativa, seja por meio do fomento à cultura. O apoio ao Instituto Thomaz Perina é, portanto, uma iniciativa alinhada com este compromisso, considerando a relevância da instituição tanto como fomentadora da educação cultural, quanto para a preservação e difusão da obra de um importante artista na história das artes visuais do Estado de São Paulo”, afirma Ana Flavia Rodrigues, gerente de Comunicação Externa e Sustentabilidade da Coca-Cola FEMSA Brasil.

Aparecido Siqueira e o retrato do artista: emoção de amigo

Aparecido Siqueira e o retrato do artista: emoção de amigo

EMOÇÃO DE AMIGO

Aparecido Donizete Siqueira levou um choque quando foi conversar com os proprietários da Stilo Decor, sobre o coquetel para o lançamento da exposição de Thomaz Perina na loja. A proprietária Walenska Florêncio percebeu que Aparecido ficou visivelmente emocionado e perguntou o motivo. Foi então que o dono do buffet Metropolitan revelou ter sido grande amigo do artista.

No coquetel na noite desta terça-feira, Aparecido estava, claro, de novo emocionado. “O Thomaz sempre tomava café em uma padaria onde eu trabalhava. Eu era jovem e fizemos uma sólida amizade, que durou até a morte dele”, contou.

Enquanto ajudava a servir as bebidas e deliciosos quitutes, Aparecido arrumava tempo para apreciar as cerca de 30 obras expostas, entre croquis de decoração e telas. “Foi um presente de Deus trabalhar aqui”, sintetizou.

 

 

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