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Brasil tem metas ousadas para emissões, mas desafios são enormes para que sejam alcançadas
Energia eólica ainda tem pequena participação na matriz energética brasileira (Foto José Pedro Martins)

Brasil tem metas ousadas para emissões, mas desafios são enormes para que sejam alcançadas

O Brasil pretende reduzir as suas emissões de gases estufa em 37% até 2025 e em 43% até 2030, em relação a 2005, anunciou na manhã deste domingo, 27 de setembro, em Nova York, a presidente Dilma Rousseff, na Cúpula de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas. Metas consideradas ousadas, mas são enormes os desafios para que sejam alcançadas, considerando o avanço das emissões pela matriz energética e pelas mudanças no uso da terra, com expansão agrícola.

As metas são a posição oficial do Brasil em relação à Contribuição Pretendida Nacionalmente Determinada (INDC na sigla em inglês), que todos os países signatários da Convenção das Mudanças Climáticas estão apresentando, como preparação para a Conferência do Clima (COP-21) do final do ano em Paris. Aproximadamente 60 países já apresentaram suas metas, indicadas como contribuição para que o clima do planeta não aumente mais do que 2 graus centígrados até o final do século – meta que, segundo muitos cientistas, dificilmente será alcançada pelo conjunto da comunidade internacional.

Anteriormente, em junho, durante encontro com o presidente Barack Obama, Dilma havia anunciado uma meta de cortes de 20% nas emissões. Meta nada ousada, que gerou muita reação, mas agora na posição oficial a presidente anuncia uma meta dobrada.

São enormes os desafios para que essa meta brasileira seja alcançada. A presidente Dilma anunciou que a meta até 2030 é de 45% de fontes renováveis na matriz energética brasileira. Entretanto, a realidade é que, entre 1970 e 2013, a matriz energética brasileira passou a usar mais combustíveis fósseis, como petróleo e gás, ficando portanto mais suja e aumentando significativamente a sua contribuição para a emissão de gases que alimentam as mudanças climáticas.

Foi o que mostrou uma análise ampliada sobre as emissões brasileiras, que divulgada recentemente pelo Observatório do Clima, com o apoio de várias organizações científicas e sociais. Segundo o estudo, o setor de energia quadruplicou suas emissões, de 114 milhões de toneladas em 1970 para 449 milhões em 2013, tornando-se a segunda maior fonte e se aproximando das emissões pelas mudanças no uso das terras. Isto se deve à mudança do perfil da matriz energética, que tinha mais de 50% de presença de fontes renováveis em 1990. Em 2013 essa participação de energias renováveis caiu para 41%  e em 2014 ficou abaixo dos 40%. É preciso portanto muito esforço para que seja ampliada significativamente a presença de fontes renováveis na matriz energética brasileira. Somente a geração por termelétricas aumentou a sua presença na matriz energética de 6% em 1990 para 28% em 2013.

A presidente Dilma também anunciou a promessa de reflorestamento e restauração de 12 milhões de hectares até 2030, com o fim do desmatamento ilegal. Outra promessa é a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e a integração de 5 milhões de hectares de lavoura-pecuária-florestas.

Para que esses números sejam atingidos, será necessária uma importante transformação da tendência verificada quanto ao impacto da agricultura no desmatamento e emissões de gases-estufa. O estudo do Observatório do Clima mostrou que, em 2013, a mudança nos usos das terras continuou sendo a maior fonte individual de emissão de GEE no Brasil, com 542 milhões de toneladas, ou cerca de um terço das emissões totais, enquanto outros setores passaram a contribuir mais para as emissões.  O setor agropecuário, especificamente, mais do que triplicou sua contribuição, de 161 milhões de toneladas em 1970 para 418 milhões de toneladas em 2013, firmando-se como terceira maior fonte.

Na semana que antecedeu o anúncio das metas oficiais do Brasil para redução de gases-estufa, o IBGE divulgou estudo revelando que, entre 2010 e 2012, a agricultura foi responsável por 68% das reduções de áreas florestais e por 65% da retração das áreas de pastagens naturais. Estes números mostram que a agricultura continua produzindo impactos, o que serve de alerta no caso da redução do desmatamento na Amazônia, que já foi responsável por 60% das emissões atmosféricas brasileiras.

As metas brasileiras anunciadas pela presidente Dilma representariam portanto uma mudança nas tendências verificadas até o momento, no caso da matriz energética e nos impactos da agricultura e do desmatamento. Será necessário um enorme empenho, do governo e da sociedade em geral, para que essa transformação seja concretizada. O neodesenvolvimentismo, que não respeita os limites dos recursos naturais, até o momento aponta na direção contrária.  (Por José Pedro Martins)

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