Na luta de titãs do voleibol adaptado, a vitória da vida ativa e saudável

De um lado “Magirus”, apelido de Luiz Alberto Hanser, 2 metros de altura, calçados número 47, 70 anos, jogando por Piracicaba. De outro, Clovis Camargo Rocha, o “Clovão”,  1,91, físico robusto, atuando por Pirassununga. A luta dos titãs do voleibol adaptado foi um dos destaques no confronto entre as duas cidades, na categoria A (acima  de 60 anos), pela etapa final dos Jogos Regionais do Idoso – JORI, que acontecem em Campinas até este domingo, 11 de outubro. Mais de 2 mil atletas, representantes de 193 municípios e disputando 14 modalidades, dando olé na idade e comprovando que o campeonato que interessa é o saúde em dia.

A atmosfera de qualquer cidade muda quando ela sedia uma competição importante. Não é diferente com Campinas, que há muito tempo não recebe jogos tão expressivos. Ônibus indo e voltando, transportando as delegações. Os visitantes perguntando aos moradores sobre o melhor caminho para se chegar aqui ou ali. Os clubes associativos mudando o seu cotidiano, ao abrigar esportistas dos pontos mais distantes do estado ou de comunidades vizinhas. Uma comunhão de alegria e disposição. A fase final dos JORI-2015 é promovida pelo governo de São Paulo, com apoio da Prefeitura Municipal de Campinas.

Preparação de Pirassununga: esquentando os músculos

E disposição não faltou na partida entre Piracicaba e Pirassununga na manhã deste sábado, dia 10, no ginásio do Regatas. As duas cidades tão conhecidas e celebradas por seus pontos turísticos – a Cachoeira de Emas, no rio Mogi Guaçu, em Pirassununga, e o Salto do Mirante, no rio Piracicaba – agora focadas no embate entre duas forças paulistas do voleibol adaptado, um dos esportes em ascenção entre as crescentes opções para a chamada Terceira Idade. Existem ligas locais em muitos municípios, além de campeonatos e festivais, como os promovidos pela Associação Pró-Voleibol (APV), sediada em Porto Ferreira.

O longilíneo “Magirus” é um dos atacantes do time de Piracicaba, aquele a quem geralmente a bola é destinada pelos companheiros, para lançar ao campo adversário. O mesmo no caso de “Clovão”, do Pirassununga. Cada jogador pode ficar cinco segundos com a bola. É o tempo que atacantes como “Magirus” ou “Clovão” têm à disposição para avaliar qual o melhor ponto do outro lado da quadra a bola deve ser arremessada, com maior possibilidade de tocar o chão, sem que um oponente a recupere.

“Magirus” ao centro, pouco antes da partida

Quem tem jogadores como “Magirus” obviamente já devem ser respeitados. Ele não tem só altura, e não foi por ela que adquiriu o apelido. Foi porque admirava o caminhão que recebeu esse apelido e que pertencia ao Clube União Melhoramentos, de Caieiras, a cidade onde o paulistano passou a viver na infância e onde começou na carreira esportiva, aos 14 anos, jogando basquete.

O esporte sempre fez parte de sua vida. Formado em Educação Física pela USP, jogou basquete pela Portuguesa, pelo Santos e outros clubes, até passar a integrar a equipe sênior da Hebraica, que tem longa tradição no esporte. Convocado várias vezes para a seleção brasileira máster, foi vice-campeão mundial em Montevidéu, no Uruguai, em 1999.

Piracicaba tinha uma torcida em maior número

“Treinar todo dia”, esse é o segredo de “Magirus” para a longevidade no esporte e na vida. “Concentração, atenção”, é outro de seus segredos, para as partidas de voleibol adaptado que agora pratica. Pois concentração e atenção é o que não faltou para a equipe de Pirassununga, no jogo contra Piracicaba.

Formada por uma verdadeira seleção regional, com atletas de cidades vizinhas que se destacaram na etapa anterior dos JORI, Pirassununga veio forte para Campinas. Além de concentração e atenção, a equipe demonstrou um jogo bem equilibrado, com um ataque muito forte, que disparava chutes certeiros, e uma defesa que pegava todas. Ao contrário dos atacantes longilíneos, geralmente a defesa no vôlei adaptado é integrada por jogadores de menor estatura e maior mobilidade.

“Clovão” (camisa 10) prepara-se para uma retomada de jogo

Grande parte dos pontos na vitória por 2 sets a zero de Pirassununga saiu da mão de seus dois atacantes principais, “Clovão” e Marcionílio Marques Teixeira, mais conhecido como Márcio. “União, força do grupo”, resumiu Márcio, para explicar a vitória no “clássico dos rios famosos”.

“Clovão” fez muitos pontos, atirando para o lado esquerdo da defesa oposta. Aos 63 anos, usando um bem cuidado rabo de cavalo, “Clovão” é um atleta muito disputado na modalidade. Além de Pirassununga, também já jogou por Praia Grande, Americana, Matão e Santana do Parnaíba. “O esporte está crescendo, mas ainda precisa de mais apoio”, comentou, pouco depois da pequena reunião com que seu time comemorou a vitória. Era uma demonstração de como o grupo estava “fechado”.

A saudação entre os atletas no fim do jogo

Atletas de um lado e de outro se cumprimentaram após a partida. A torcida de Piracicaba, em maior número pela proximidade com Campinas, saiu um pouco frustrada, mas aplaudiu muito as duas equipes ao final. O treinador de Pirassununga, o professor de Educação Física Patrick Gallo, abraçava os atletas de sua equipe, um por um. “Treinamos forte, duas vezes por semana, por duas horas, fundamentos como posicionamento, postura e o aspecto psicológico, que representa grande parte de um trabalho bem feito”, comentou.

Os jogadores deixaram rapidamente a quadra do Regatas para o almoço, porque à tarde tinham outra partida pela frente. Os atletas da Melhor Idade não param. Eles são todos vitoriosos pela demonstração diária de dedicação, esforço e perseverança. Os Jogos Regionais do Idoso são uma celebração da vida saudável e sempre ativa. (Por José Pedro Martins) 

Pirassununga após a vitória: grupo “fechado”