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Feira Afro Mix chega à 12ª edição com público diversificado e orgulho de evidenciar a cultura negra
A campineira Ilcéi Miriam, que é música profissional e historiadora de formação, é uma das organizadoras da Feira Afro Mix, em Campinas (Foto: Adriano Rosa)

Feira Afro Mix chega à 12ª edição com público diversificado e orgulho de evidenciar a cultura negra

Adriana Menezes

Quando aconteceu a primeira edição da Feira Afro Mix em Campinas, em 2004, o uso de roupas e acessórios que faziam referência à África ou à cultura negra ainda era muito tímido e reprimido. Doze anos depois, muita coisa mudou. “Hoje há mais orgulho da cultura afro pelos próprios negros. As pessoas de outras etnias também têm mais interesse, embora ainda esteja muito longe do ideal”, diz a historiadora e música campineira Ilcéi Miriam, uma das organizadoras da Feira Afro Mix que chega à sua 12ª edição neste domingo, 8 de novembro,  na Estação Cultura (antiga Estação Fepasa).

Apresentação de jongo na edição de 2014 da Feira Afro Mix, que lotou a Estação Cultura; a programação inclui música, dança, praça de alimentação e cerca de 60 expositores de produtos diversos  (Foto: Divulgação)

Apresentação de jongo na edição de 2014 da Feira Afro Mix, que lotou a Estação Cultura; a programação inclui música, dança, praça de alimentação e o comércio diversificado (Foto: Divulgação)

A expectativa de público para amanhã é de até 3 mil pessoas – o mesmo número estimado em 2014. Há 12 anos, o evento atraiu 400 pessoas e 12 expositores. O crescimento de público e de participantes foi vertiginoso. Neste domingo haverá cerca de 60 expositores de moda, maquiagem, cosméticos para cabelo, alimentação e uma grande diversidade de produtos artesanais ou de pequenos produtores locais, da capital paulista, do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. A doação de 1 kg de alimento não perecível é opcional e será destinada aos refugiados em Campinas. A entrada e o estacionamento são gratuitos.

Não foi à toa que a Feira Afro Mix começou no ano seguinte ao da instituição do Dia da Consciência Negra, em 20 de novembro de 2003.  Ela refletia o anseio da população negra de Campinas de se posicionar e promover encontros de valorização da sua cultura. A música, naturalmente, é parte dessa bagagem cultural. O evento inclui uma programação com dança e música, que este ano tem Jongo Dito Ribeiro, Samba Lá em Casa, Ilcéi Miriam, Nyva, Juca Ferreira, Luanna Nahara, André Oliveira, DJ Shetara, Disc Jockey Shorei, DJ JP, Ments, MC Shuk, Rock Equipe Rasteirinha e Reakise  Fredmlk.

Show de Ilcéi Miriam em 2014. Além de cerca de 60 expositores, o evento oferece uma programação musical ao longo do dia, das 12h às 21h; a doação de 1 kg de alimento é opcional  (Foto: Adriano Rosa)

Show de Ilcéi Miriam em 2014. Além de cerca de 60 expositores, o evento oferece uma programação musical ao longo do dia, das 12h às 21h; a doação de 1 kg de alimento é opcional (Foto: Adriano Rosa)

Encontro

“Nosso objetivo é evidenciar a cultura negra e fazer um evento de oportunidades e trocas”, sintetiza Ilcéi. “Queremos que todas as etnias se encontrem aqui e conversem sobre o tema, sobre os avanços e os problemas também, porque ainda vemos as diferenças que existem há séculos. Não dá para deixar o barco correr naturalmente.”

Idealizada pelo empresário de Ilcéi, Marcos Ferreira, a feira começou com uma equipe de oito pessoas na organização. Hoje são apenas três: o próprio Ferreira, Ilcéi e sua mãe, Wanda Pires de Oliveira. Era uma iniciativa inédita em Campinas, inspirada na Feira Preta, de São Paulo. Hoje há outras iniciativas no interior paulista, como em Piracicaba, menciona Ilcéi.

A organizadora vê uma grande evolução social em todo o mundo na questão do racismo. “O presidente dos Estados Unidos é negro. Isso é muito importante.” Nas primeiras edições, ela lembra, era preciso estimular o negro a assumir e valorizar sua cultura, mas hoje não precisa mais fazer isso, porque todos expõem suas referências, inclusive os brancos. “A feira não é só para negros. Nós queremos fazer o mix.”

Pós-abolição

Não foi ontem que a escravidão acabou no Brasil, mas ainda estamos em período pós-abolição, onde somos obrigados a lembrar – e reforçar – que o negro é cidadão digno de respeito e de direitos iguais aos dos brancos, amarelos, índios, mestiços, vermelhos e todas as cores possíveis de pele.

“A inclusão está acontecendo, mas a todo momento ainda é preciso lembrar. Ainda existem piadas racistas, por exemplo. Isso incita o racismo e vai passando de geração em geração”, diz Ilcéi, que comemora o crescimento da Feira Afro Mix nos últimos 12 anos, mas lamenta que ainda não tenha atraído empresas patrocinadoras ou investimentos como acha que poderia acontecer. “Ainda não perceberam que é um bom negócio, onde há trocas, os expositores se conhecem e fazem parcerias.”

"Nosso objetivo é evidenciar a cultura negra e fazer um evento de oportunidades e trocas. Queremos que todas as etnias se encontrem aqui", diz Ilcéi Miriam  (Foto: Adriano Rosa)

“Nosso objetivo é evidenciar a cultura negra e fazer um evento de oportunidades e trocas. Queremos que todas as etnias se encontrem aqui”, diz Ilcéi Miriam (Foto: Adriano Rosa)

Ilcéi diz que a feira é como uma filha pra ela, da qual tem muito orgulho. O evento sempre acontece no início do mês de novembro para não se chocar com a agenda da cidade para o dia da Consciência Negra, em 20 de novembro.

A Feira Afro Mix acontece das 12h às 21h na Estação Cultura, em Campinas, com apoio cultural da Prefeitura de Campinas, Governo do Estado de São Paulo, Abaçaí Cultura e Arte, Papel Digital, Laboratório de Produção Cultural da Estação Cultura, Sincomed, Tonico’s, Maxi TV, Fusion Web Rádio e Fumaça Eventos.

 

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