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Dos jequitibás às palmeiras, a rota da destruição na Campinas pós-microexplosão
Jequitibás-rosa caídos na Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico, próximo do local onde os ventos começaram atingir a cidade com mais força, ao lado do Educandário Eurípedes (Foto José Pedro Martins)

Dos jequitibás às palmeiras, a rota da destruição na Campinas pós-microexplosão

Foram poucos segundos e estavam no chão tanto jequitibás-rosa centenários como palmeiras imperiais plantadas há poucos meses. Estes são alguns dos marcos localizados, respectivamente, no início e no final da rota da destruição provocada por microexplosões atmosféricas na madrugada deste domingo, 5 de junho. Mais de 160 árvores derrubadas, destelhamento de residências e complexos como o Galleria Shopping, corte de energia para milhares e várias ruas e avenidas: este foi o saldo material dos impactos de ventos que chegaram a 120 km por hora. Bambini e Educandário Eurípedes foram atingidos.

O percurso dos ventos mais fortes foi documentado pela Defesa Civil e pelo Cepagri-Unicamp, na primeira ação em campo resultante de uma parceria que tinha sido apresentada ainda na sexta-feira, dia 3, no Palácio dos Jequitibás. A CPFL Paulista também integrou-se à parceria com a Prefeitura, objetivando aprimorar o Sistema Municipal de Defesa Civil, compreendendo estratégias e ações de prevenção e reação.

Muitas árvores atingidas na Fazenda Santa Elisa, do IAC (Foto José Pedro Martins)

Muitas árvores atingidas na Fazenda Santa Elisa, do IAC (Foto José Pedro Martins)

O trajeto da destruição começou na altura do Parque Chapadão e seguiu para a Vila Nova, onde dezenas de árvores foram atingidas na Fazenda Santa Elisa, do Instituto Agronômico de Campinas (IAC). Alguns moradores relataram terem visto “árvores voando” nos momentos de chuva e ventos mais intensos.

Entre as árvores destruídas, dois imensos e centenários jequitibás-rosa, que tombaram sobre a área da Bambini Pães & Conveniência. A empresa ainda sofreu o impacto dos ventos, que destelhou parte da cobertura. Segundo o diretor Norberto Mattei, ainda estava sendo contabilizado o prejuízo no início da tarde desta segunda-feira, mas as estimativas eram de ao menos R$ 150 mil com a recomposição da cobertura. Ele informou que a empresa estava operando com gerador e encontrava dificuldades em encontrar todo o material para refazer o telhado.

O complexo social reunindo o Educandário Eurípides, a Editora “Allan Kardec” e a Creche Mãe Luiza foi igualmente atingido. O Educandário, onde são ministrados cursos para cerca de 350 jovens e adultos, teve o telhado quase todo destruído. Membro do Comitê Gestor do Educandário, Feliciano Campos Ursulino disse que todo o prédio estava sendo desocupado, como medida de prevenção, antes de uma completa vistoria e reconstrução.  Ele revelou que mais de 60 voluntários contribuíram com a limpeza do local no domingo. A Creche atende a mais de 200 crianças.

Cobertura do Educandário Eurípedes foi praticamente toda destruída (Foto José Pedro Martins)

Cobertura do Educandário Eurípedes foi praticamente toda destruída (Foto José Pedro Martins)

A ventania seguiu mais o menos a direção da avenida Dr.Theodureto de Almeida Camargo, fazendo vários estragos no alto do Taquaral. Muitas árvores caíram, na própria avenida Dr.Theodureto e em ruas próximas, como Padre Domingos Giovanini e Fernão Lopes.

Depois do Taquaral os ventos mais fortes foram registrados na região do Parque São Quirino, Residencial Vista  Verde e Jardim Madalena, até provocar grande destruição na cobertura do Galleria Shopping, na rodovia D.Pedro I. Edifícios inteiros tiveram vidros de janelas e fachadas quebrados.

Nas proximidades da Avenida Dr.Theodureto Camargo, marcas de destruição (Foto José Pedro Martins)

Nas proximidades da Avenida Dr.Theodureto Camargo, marcas de destruição (Foto José Pedro Martins)

O roteiro da devastação prosseguiu, com a derrubada de várias árvores no distrito de Sousas, nas proximidades do Condomínio San Conrado, que foi especialmente atingido. Muitas casas foram destruídas pela força dos ventos. Também foram ao chão muitas palmeiras plantadas há poucos meses, ao longo da ampliação da avenida Mackenzie.

Segundo a Prefeitura, 1300 profissionais trabalhavam nesta segunda-feira, dia 6, para recuperar as áreas afetadas pela microexplosão. Foram registrados 11 pontos de alagamentos e 301 vistorias foram feitas apela Defesa Civil ainda no domingo. Uma família ficou desalojada e foi para casa de familiares. Houve quatro feridos leves (dois estavam em um veículo atingido por uma árvore e os demais em residências), ainda segundo a Prefeitura.

Nas proximidades do San Conrado, mais árvores destruídas (Foto José Pedro Martins)

Nas proximidades do San Conrado, mais árvores destruídas (Foto José Pedro Martins)

Com alto volume de chuvas dos últimos quatro dias , com 140 milímetros acumulados, Campinas está em estado de atenção. Para o mês de junho, a quantidade de chuva esperada era de 33 milímetros. O rio Atibaia está sendo monitorado por conta das chuvas que atingiram Atibaia, Bragança Paulista, Itatiba e Jarinu na noite de domingo.

Das 15 vias obstruídas por quedas de árvores, oito já tinham sido liberadas até o final da manhã de hoje. Os semáforos também estavam sendo restabelecidos – dos 96 afetados, apenas sete continuavam intermitentes, ainda de acordo com a Prefeitura. Na manhã de hoje, a CPFL Paulista informou que 98% dos clientes já tinham o serviço restabelecido após o forte temporal.

Na extensão da avenida Mackenzie, mais marcas da devastação, que impactou o condomínio Caminhos de San Conrado (Foto José Pedro Martins)

Na extensão da avenida Mackenzie, mais marcas da devastação, que impactou o condomínio Caminhos de San Conrado (Foto José Pedro Martins)

Muitos prejuízos materiais que estão sendo contabilizados, um susto enorme para moradores que viram o telhado de suas casas literalmente voando, fornecimento de energia interrompido em alguns locais até a manhã desta segunda-feira. Campinas tenta se reconstruir após a microexplosão atmosférica que, segundo a meteorologista do Cepagri-Unicamp, Ana Ávila, tem características semelhantes às de um tornado. A cidade agora deve refletir sobre o que significou esse evento climático extremo que a deixou perto de uma grande tragédia. (Por José Pedro Martins)     

 

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