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Dores e conquistas unidas pela tocha olímpica em Campinas
Secretário municipal de esportes de Campinas, Dario Saadi (de pé), faz homenagem a atletas que participarão do revezamento da tocha na cidade (Foto José Pedro Martins)

Dores e conquistas unidas pela tocha olímpica em Campinas

Por José Pedro Martins

Odette Domingos e Conceição Geremias tiveram uma infância rural, vividas, respectivamente, nas fazendas Rio das Pedras e Santa Elisa, em Campinas. Superando enormes dificuldades, inclusive a timidez, elas chegaram ao esporte e, através dele, viveram os momentos mais grandiosos que um atleta pode sonhar, ao participar de competições como campeonatos nacionais, Jogos Pan-Americanos e Jogos Olímpicos. Agora elas estão entre os esportistas – além de ativistas sociais e estudantes – que participarão do revezamento da tocha olímpica em Campinas nesta quarta-feira, dia 20 de julho.

De fato, apesar de praticar as modalidades mais distintas, os atletas que estarão no revezamento de quarta-feira, entre 17 e 20 horas, guardam muitos traços comuns. Todos conviveram no limite entre a dor do supremo esforço físico e a glória da conquista, além de dedicar anos inteiros a seus esportes, de modo que pudessem exercê-lo em alto nível, com o maior rendimento possível. Tiveram decepções, desencantos, mas colecionaram muitos êxitos – o maior deles, talvez, a consciência de que estavam fazendo o melhor e de que, sim, foram muito longe, como exemplos de vida ativa e saudável. Muitos atletas de Campinas serão homenageados por ocasião do revezamento da tocha na cidade.

Rodrigo Raineri: temperaturas mais baixas, nos montes mais elevados (Foto José Pedro Martins)

Rodrigo Raineri: temperaturas mais baixas, nos montes mais elevados (Foto José Pedro Martins)

Rodrigo Raineri e o termômetro que não marcava mais – Em 2004, em pleno inverno, Rodrigo Raineri chegava ao cume do Aconcágua. O termômetro não marcava mais nada e ele não sabe quantos graus abaixo de zero fazia de fato, provavelmente mais de 30. De qualquer modo um feito raríssimo mas não incomum para o alpinista nascido em Ibitinga e há três décadas vivendo em Campinas, para onde veio para cursar Engenharia, na Unicamp. Terminou o curso mas a paixão, o talento e a vocação para escalar as mais altas montanhas do mundo sempre foram dominantes e foi um sucesso após o outro.

Foram cinco expedições ao Everest, e em três delas atingiu – de forma inédita para um brasileiro – o pico mais alto do mundo, de 8.848 m, pertencente a China e Nepal. Ao Aconcágua foram onze expedições, em seis delas chegando ao cume de quase 7 mil metros, na Província de Mendoza, na Argentina. Atualmente participa de um projeto que objetiva a escalada dos cumes mais altos de cada continente – o próximo objetivo será subir o Monte Elbrus, na Rússia, o lugar mais alto da Europa, 5.642 metros acima do nível do mar.

Mesmo não praticando um esporte olímpico – poderá vir a ser nas Olimpíadas de 2020 -, Rodrigo Raineri afirma ser um orgulho poder conduzir a tocha pelas ruas de Campinas. Ele a receberá mas ou menos às 18 horas de quarta-feira, na altura do número 1691 da avenida Moraes Salles. Estará com a família, amigos e alguns clientes da Grade 6 Viagens e Grade 6 Treinamentos, empresas que ele fundou na cidade. “O Brasil precisa mostrar ao mundo que é defensor da paz, esse é o grande objetivo”, assinala o alpinista.

Maria Helena Cardoso: campeã dentro de Havana (Foto José Pedro Martins)

Maria Helena Cardoso: campeã dentro de Havana (Foto José Pedro Martins)

No comando de uma grande geração – A paulista de Descalvado Maria Helena Cardoso esteve no centro de um dos momentos mais brilhantes do esporte brasileiro nas últimas décadas, ao comandar a seleção nacional de basquete que tinha Paula, Hortência e Marta, entre outras. Agora morando em Campinas, Maria Helena também foi convidada para participar do revezamento da tocha olímpica pela cidade, entre os indicados pelo Bradesco, um dos patrocinadores oficiais da atividade que está envolvendo a mais de 300 municípios.

Maria Helena jogou basquete por quase 20 anos no XV de Piracicaba e depois tornou-se técnica, chegando à seleção em 1986. Foi prata nos Jogos Pan-Americanos de Indianápolis, de 87, e campeã nos Pan-Americanos de Havana, em 91, derrotando a própria seleção cubana na final. No mesmo ano conseguiu o feito inédito de levar a seleção brasileira para as Olimpíadas de Barcelona, de 1992, quando a equipe chegou ao sétimo lugar.

Para Maria Helena Cardoso, participar do revezamento da tocha olímpica significa representar todos os atletas que investem tantos esforços, tempo e recursos em sua carreira, em sua modalidade, em nome de seu país. “Participar de uma Olimpíada, de uma delegação nacional, com as cores de seu país, é algo indescritível. E ter uma Olimpíada, então, é algo que o Brasil deve valorizar muito”, diz ela, que espera ver “a chama olímpica sendo uma luz de paz para o mundo, que está precisando tanto”.

Conceição Geremias: três Olimpíadas no currículo (Foto José Pedro Martins)

Conceição Geremias: três Olimpíadas no currículo (Foto José Pedro Martins)

Da Fazenda Santa Elisa para três Olimpíadas – A infância de Conceição Geremias foi na Fazenda Santa Elisa, onde o Instituto Agronômico mantém um dos mais importantes centros experimentais em agricultura da América Latina. Corria entre os cafezais, pulava córregos e passou a amar o esporte já na escola. Ganhou várias modalidades nos Jogos Escolares e logo passou a ser convidada para integrar a equipe de Campinas nos Jogos Abertos, as “Olimpíadas do Interior”, que revelaram tantos atletas de ponta.

Foram muitas conquistas pela cidade e pelo país, sendo a maior delas a medalha de ouro no heptatlo dos Jogos Pan-Americanos de Caracas, na Venezuela, em 1983. Participou de três Olimpíadas, de Moscou (1980), Los Angeles (1984) e Seul (1988).

“É uma honra conduzir a tocha em minha cidade”, resume Conceição Geremias, que participa de um projeto social esportivo com cerca de 80 crianças no antigo campo da Mogiana.

A risonha multicampeã Odette Domingos (Foto José Pedro Martins)

A risonha multicampeã Odette Domingos (Foto José Pedro Martins)

Da Fazenda Rio das Pedras para o mundo – O nascimento, a 5 de setembro de 1934, foi na Maternidade de Campinas, onde depois funcionaria por muitos anos a Estação Rodoviária, mas a infância de Odette Domingos também foi na zona rural, na Fazenda Rio das Pedras. Quando se estabeleceu na área urbana, trabalhou como doméstica para sobreviver.

Mas sempre gostou de esporte e, animada pelo exemplo de atletas como Adhemar Ferreira da Silva (bicampeão olímpico, em 1952, em Helsinque, e 1956, em Melbourne) e Wanda dos Santos (participou de duas Olimpíadas e ganhou quatro medalhas em Pan-Americanos), procurou oportunidades na área. Acabou chegando ao Clube Regatas, onde conheceu o técnico, e depois companheiro, Argemiro Roque.

Participou dos Pan-Americanos de Chicago, em 1959, e São Paulo, em 1963. Ganhou muito títulos na carreira e, depois, passou a disputar na categoria Master, se tornando campeã pan-americana, pentacampeã mundial e sul-americana, brasileira e paulista em sua modalidade. Calcula-se que tenha mais de 3 mil troféus e medalhas.

Sempre alegre, sempre brincalhona, ela diz que o esporte “é tudo” em sua vida. Formou-se em Educação Física com mais de 40 anos e durante muito tempo deu aulas para alunos da Escola Preparatória de Cadetes do Exército de Campinas. Agora ela se diz muito feliz com o convite da Coca-Cola FEMSA para participar do revezamento da tocha em sua cidade. “É uma realização, não imaginava que um dia poderia conduzir a tocha olímpica em meu país, em minha cidade”, diz Odette, comemorando mais uma de suas inúmeras vitórias, assim como todos os atletas que de alguma forma serão homenageados com o revezamento da tocha por todo o Brasil continental.

Outros convidados da Coca-Cola em Campinas e região

A Coca-Cola FEMSA, como uma das patrocinadoras oficiais da atividade, identificou vários nomes para participar do revezamento da tocha olímpica em Campinas e região. No ano passado, durante o Festival das Escolas, promovido pela empresa, foram escolhidos estudantes de nove escolas públicas de Campinas, para participar do revezamento da tocha.

Foram eles: Lays Abreu (EE Professor Djalma Octaviano); Vinícius Franco Garcia da Silva (Colégio Genius); Thamyres Kauane da Silva (EE Professora Lais Bertoni Pereira); Thaynna Caroline Santos Macedo (EE Francisco Barreto Leme); Alice Peres dos Santos Neta (Instituto Educacional Shalom); Carlos Joaquim da Silva Junior (Instituto Educacional Estilo); Lucas Koizimi Matsuda (Sistema Educacional Realidade – SER); Evillyn Efigênia dos Santos Mafra (EE Professora Castinauta de Barros Mello e Albuquerque); Bruna Nathani de Souza Reis (EE José Maria Matosinho). Também participará a professora Adriana Severino Fachini, da EE Professora Castinauta de Barros Mello e Albuquerque, que carregará a chama olímpica com os estudantes.

Ainda para participar do revezamento da tocha em Campinas, a Coca-Cola FEMSA convidou Márcio Luiz de Souza. Embora não seja atleta, ele dirige uma ONG, o Projeto Vulcão, na cidade de Sumaré (SP). O projeto desenvolve atividades socioculturais e de vida ativa (artesanato, grafite, música, dança e o esporte, entre outras) junto a crianças e jovens da periferia da cidade, que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Ele foi indicado pela importância social do projeto e como representante de um município da Região Metropolitana de Campinas.

A empresa indicou ainda outros dois atletas, para participar do revezamento da tocha em suas cidade. Em Americana, Athos Carlos Pisoni, atleta de tiro esportivo, que escreveu seu nome na modalidade ao ganhar dezenas de campeonatos nacionais e internacionais ao longo de quase três décadas, sendo considerado um dos melhores atiradores brasileiros de todos os tempos. Conquistou a medalha de ouro e o recorde nos VII Jogos Pan-Americanos, realizados na cidade do México, em 14 de outubro de 1975, estabelecendo a marca de 199 pratos quebrados em 200 possíveis, entre tantos outros feitos.

Em Limeira, foi convidado José Carlos da Silva, o “Fumaça”, 72 anos, atleta que é referência no esporte do município. Figura lendária no atletismo em Limeira e região, pessoa muito querida na cidade, ele é professor na ALA (Associação Limeirense de Atletismo), onde desenvolve um trabalho focado na inserção de crianças, jovens, adultos e idosos na prática do atletismo e atende mais de uma centena de atletas. O objetivo do trabalho é atrair principalmente os jovens para a prática esportiva, criando um ambiente com hábitos saudáveis e mostrando a importância do esporte para a qualidade de vida. O próprio “Fumaça” é um exemplo de dedicação ao esporte, pois também participa de competições em sua categoria. Anualmente é realizada na cidade a Corrida Pedestre “José Carlos da Silva – Fumaça”, em comemoração ao aniversário do atleta.

 

 

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