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Mafalda reúne diferentes gerações em exposição crítica e amorosa em São Paulo
Mafalda: 50 anos de crítica e humor, absolutamente atual (Fotos José Pedro Martins)

Mafalda reúne diferentes gerações em exposição crítica e amorosa em São Paulo

O prefeito Fernando Haddad não se intimidou e deu uma canja de guitarra, junto ao grupo cover dos Beatles que proporcionou um clima anos 60 na abertura da exposição O Mundo Segundo Mafalda, na última terça-feira, 16 de dezembro, na Praça das Artes, em São Paulo. No evento, representantes de diferentes gerações de cartunistas, como Laerte e Junião, muitos artistas e jornalistas, além de gestores como o secretário municipal da Cultura de São Paulo Juca Ferreira, ex-ministro do setor. Desde então, a mostra vem sendo visitada por avós, papais, filhos e netos, todos unidos pelo encanto da filha de Quino, o argentino mais lido no mundo. A exposição poderá ser vista até 28 de fevereiro.

Muitas gerações unidas pela Mafalda, porque o seu discurso crítico, visceral, continua absolutamente atual, diz Hernan Halak, diretor da Mundo Giras, co-produtor da mostra, uma realização do programa São Paulo Carinhosa, Praça das Artes, Fundação Theatro Municipal de São Paulo, Instituto Brasileiro de Gestão Cultural, Circuito São Paulo de Cultura e Prefeitura de São Paulo, com apoio do Museu das Crianças Barrilete (de Córdoba), Consulado Geral da Argentina em São Paulo, Sí e Instituto Arcor Brasil.

O prefeito Fernando Haddad não resistiu e acompanhou o grupo cover dos Beatles na abertura da exposição

O prefeito Fernando Haddad não resistiu e acompanhou o grupo cover dos Beatles na abertura da exposição

“Foi uma visão genial de Quino, Mafalda continua atual”, repete Hernan, provavelmente se referindo a muitas das tiras e cenas da personagem e seus amigos incluídas na exposição, que ocupa várias salas da Praça das Artes, o belo complexo que reúne espaços como o reformado edifício do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo. Tudo foi planejado para que o visitante tenha uma ampla noção de quem são Mafalda e seus contundentes amigos, todos diferentes um do outro, faces da diversidade humana.

Vide o que diz a menina Liberdade, em uma frase de enorme significado político: “Uma pulga não pode picar uma locomotiva, mas pode encher o maquinista de mordidas”. Ou o adorável Filipe, que lamenta: “Por que justo eu tenho que ser como eu sou?” Ou, ainda, a melhor amiga de Mafalda, e o oposto total dela, Susanita Clotilde Chirusi: “Ahhh! Ainda bem que o mundo fica bem, bem longe…!”

Vários ambientes e situações, levando ao encantador mundo de Mafalda

Vários ambientes e situações, levando ao encantador mundo de Mafalda

A atualidade e a diversidade do Mundo de Mafalda foram destacados pelos artistas presentes na cerimônia de abertura, todos ressaltando a relevância da personagem, e de Quino, para os quadrinhos e cultura em geral da América Latina desde a década de 1960. “Quino foi uma grande referência, era a materialização de uma visão latino-americana, em um mundo, o dos quadrinhos, que era basicamente americanizado”, destacou Laerte, quadrinista com trabalhos em algumas das mais importantes publicações brasileiras, do “Pasquim” à “Veja”, “Isto é” e “Folha de São Paulo”.

“Mafalda, em especial, era algo muito original, assim como no Brasil tivemos Ziraldo e Maurício de Sousa, outras importantes referências”, completou Laerte, responsável pela criação, entre outros, dos “Piratas do Tietê” e “Overman”. Laerte venceu, em 1974, o primeiro Salão Internacional de Humor de Piracicaba, com a charge “O Rei Estava Vestido”.

Laerte e Junião: quadrinistas renderam tributo a Quino e Mafalda

Laerte e Junião: quadrinistas renderam tributo a Quino e Mafalda

O campineiro Junião também rendeu o seu tributo a Mafalda e outros personagens de Quino. Ele conta que um dos primeiros livros de quadrinhos que ganhou, adquirido em um sebo, foi justamente de Quino. Paixão imediata, alimento para a carreira de Junião, que também admira, entre os brasileiros, Laerte, Glauco e Spacca.

“Quino tem um humor muito inteligente, mas não é pesado, é leve, ele é ótimo na composição das cenas, resolve muito bem as situações que desenha”, resume Junião, autor de personagens como Dona Isaura e que já ilustrou livros como “A Independência no País da Folia” (de Flavia Greco Lopes e Jorge Sampaio Lopes) e “A rainha alérgica” (de Teresa Frota), ambos da Escrita Fina.

A crítica sempre presente: o "mundo sujo"

A crítica sempre presente: o “mundo sujo”

Um espaço da mostra é, claro, dedicado ao próprio Quino, como é conhecido Joaquín Salvador Lavado Tejón, nascido em 1932, em Guaymallén, província de Mendoza. Filho de imigrantes espanhóis da Andaluzia, desenhista de quadrinhos desde a década de 1940. Mafalda nasceu em 1964 e rapidamente se tornou um sucesso global, mas sobretudo na América Latina, pelo que ela representa de espelho da revolução cultural em curso e, também, de crítica política, em um momento de ditaduras em quase todo o continente. Mafalda foi publicada regularmente até 1973, mas continua sendo sucesso editorial com reedições e projetos especiais, como o do resumo da Declaração dos Direitos da Criança, que mereceu uma ala especial na Praça das Artes.

Foi, aliás, uma das alas que recebeu maior atenção do prefeito Fernando Haddad na abertura do dia 16 de dezembro. O prefeito que não deixa de ser um representante da geração da década de 1960, tão bem retratada no mundo de Mafalda.

Com O Mundo Segundo Mafalda, a Secretaria Municipal de Cultura fechou em grande estilo o ano de 2014, assinalou Fabio Maleronka Ferron, que participou da organização da exposição. “Foram mais de mil eventos para crianças neste ano”, contou Fabio, explicando que a abertura de uma grande mostra como a de Mafalda no final de dezembro não foi por acaso. “Queríamos justamente cobrir o período de férias, para que as crianças e seus pais pudessem apreciar com tranquilidade a riqueza da exposição”, disse. Diversão, mas também conhecimento, educação crítica, pensamento profundo, nesta imersão no instigante mundo de Mafalda. (Por José Pedro Martins)

 

A menina que colocou os quadrinhos - e a cultura e a política - de cabeça para baixo

A menina que colocou os quadrinhos – e a cultura e a política – de cabeça para baixo

 

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