Por José Pedro Soares Martins
Uma jornada que prossegue, rumo a horizontes cada vez mais abertos, complexos e interconectados. Essa é a história da ciência em Campinas, que sempre demonstrou vocação para a pesquisa, o desenvolvimento e a inovação. São muitos os personagens, várias as situações que impulsionaram o vigor científico campineiro. Do Instituto Agronômico ao Projeto Sirius, mas com antecedentes importantes e que contribuíram para a criação de um ambiente favorável à ciência e tecnologia na cidade e região.
Pode-se afirmar que essa vocação estava sinalizada no bando, atual decreto, que criou a Freguesia de Nossa Senhora da Conceição das Campinas do Matto Grosso, a 14 de julho de 1774, a data oficial de fundação. O bando indicava até o tamanho que deveria ter as ruas do novo assentamento urbano, estruturado com base nos três “campinhos” de pouso dos viajantes pelo Caminho de Goiás, que ia de São Paulo ao interior do país, facilitando a busca das tão sonhadas riquezas. Infelizmente, depois Campinas perdeu essa característica de planejamento urbano, embora tenha todas as condições para isso.
Mais um sinal de que Campinas, Vila de São Carlos desde 14 de dezembro de 1797, era atraente para a ciência foi a passagem pela região, em 1819, do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), um dos viajantes europeus que fizeram incursões pelo Brasil para conhecer melhor essa parte do Novo Mundo. Depois de 6 anos pelo Brasil, entre 1816 e 1822, Saint-Hilaire retornou à França. As coletas de 30 mil amostras e a minuciosa catalogação e descrição resultaram nos três volumes da Flora brasiliae meridionalis (1825, 1829 e 1832-1833). Grande parte do impressionante trabalho do naturalista foi digitalizada e está disponível a todos no Herbário Virtual Saint-Hilaire, resultado da parceria entre Instituto de Botânica da Secretaria Estadual do Meio Ambiente de São Paulo; Institut des Herbiers Universitaires, CLF, Clermont-Ferrand, França; Muséum Nacional d´Histoire Naturelle, MNHN, Paris, França; e Centro de Referência em Informação Ambiental, CRIA, Campinas, Brasil.
A invenção da fotografia
Outro nítido sinal da vocação científica campineira foi a presença na cidade, durante muitos anos, de Hercule Florence, Hercules Florence na forma abrasileirada. Nascido em Nice, na época italiana e hoje na França, em 1804, Antoine Hercule Romuald Florence herdou do pai a vocação para o desenho. Viajante nato, em 1824 já está no Rio de Janeiro, trabalhando como livreiro, vendedor de roupas e tipógrafo, ofício que seria muito útil, depois, em sua estadia em Campinas. Em 1825, Florence é recrutado para uma das mais importantes e turbulentas expedições científicas realizadas no Brasil Imperial, liderada pelo conde e naturalista russo Georg Heinrich von Langsdorff.
Até 1829, Florence foi um dos responsáveis pelo registro iconográfico da exposição que percorreu 13 mil quilômetros de vários estados e fez uma relevante documentação etnográfica e geográfica do “Brasil profundo”. Inicialmente o desenhista principal foi Johann Rugendas, papel depois assumido por Aimé Adrian Taunay.
A expedição foi marcada por tragédias. Em 1828, Taunay se afogou no rio Guaporé, no Mato Grosso. O próprio Langsdorff foi vítima de doenças tropicais, o que acabou inviabilizando a publicação dos achados científicos da forma como tinha sido idealizado. Em 1830 Florence já está na Vila de São Carlos, o nome de Campinas até 1842. Ele se casa em primeiras núpcias com Maria Angélica Álvares Machado e torna-se inicialmente comerciante. Depois será proprietário rural. Depois se casaria com Carolina Florence, com quem fundou o Colégio Florence (veja artigo na plataforma EcoSocial Campinas).
Em Campinas, Florence teria feito pesquisas consideradas pioneiras na fotografia, segundo muitos especialistas. Também foi inventor da zoofonia, ciência especializada em registrar os sons de animais. Faleceu em Campinas, em 27 de março de 1879 (mais detalhes na reportagem da plataforma EcoSocial Campinas). Um dos mais importantes personagens da trajetória da ciência na cidade.
Colégios de vanguarda
Um elemento que muito contribuiu para que a Ciência encontrasse solo fértil em Campinas foi a criação de vários colégios de vanguarda nas últimas décadas do século 19. No momento em que os avanços científicos chamavam a atenção e provocavam uma revolução, preparando o mundo para a idade moderna, Campinas teve nessas escolas a presença de intelectuais refinados, com ideias em sintonia com o seu tempo.
Foi o caso do citado Colégio Florence, fundado pelo casal Carolina e Hércules Florence. Mas foi sobretudo o exemplo do Colégio Culto à Ciência, fundado por um grupo de empreendedores ligados à Maçonaria e com ideais republicanos. O nome Culto à Ciência está relacionado ao ideário positivista, vinculado ao pensamento de Augusto Comte e que teve muita influência no movimento republicano.
Participaram da criação do Colégio Culto à Ciência nomes como Cândido Ferreira da Silva Camargo (advogado e benemérito, vereador em 1873-76 e 1869-72, dá nome hoje a um dos principais estabelecimentos em saúde mental no Brasil) e Manuel Ferraz de Campos Salles (vereador em 1873-76 e 1877-80, seria o segundo presidente civil do Brasil, entre 1898 e 1902).
A assembleia de fundação do Colégio Culto à Ciência foi a 19 de maio de 1869, mas a pedra fundamental seria lançada apenas a 13 de abril de 1873. O início das atividades, no prédio em estilo neoclássico, foi a 12 de janeiro de 1874. O ambiente de liberdade e incentivo à cultura e à ação solidária do Culto à Ciência atraíram alunos de várias partes, como o caso de Alberto Santos Dumont, o “Pai da Aviação”, o que já diz muito sobre a vocação de Campinas para a Ciência (veja artigo na plataforma EcoSocial Campinas).
Outra escola de destaque no período foi o Colégio Internacional, fundado em 1872 por membros da Igreja Presbiteriana que se fixou em Campinas para atender a comunidade norte-americana que se estabeleceu na região, após o fim da Guerra Civil nos Estados Unidos (1865). Sob a direção do reverendo Edward Lane, e com o apoio de figuras importantes da sociedade local, como o coronel José Egydio de Sousa Aranha, o Colégio também logo se destacaria no cenário educacional de Campinas e do Estado, em um ambiente de liberdade de ensino.
Instituto Agronômico abre as portas para o polo de ciência
O que já estava no ar se consolidou, com a criação a 27 de junho de 1887 da Imperial Estação Agronômica de Campinas, depois Instituto Agronômico. Em 1892, já no período republicano, a Estação passaria a ser administrada pelo governo de São Paulo.
O primeiro diretor do Instituto foi o químico austríaco Franz Josef Wilhelm Dafert. Outros diretores se destacariam, como o engenheiro agrônomo Gustavo Rodrigues Pereira D´Utra, responsável por estudos pioneiros para a introdução da soja no Brasil (veja reportagem especial na plataforma EcoSocial Campinas).
Com o passar dos anos, o Instituto Agronômico se tornaria a principal instituição de pesquisas na agricultura brasileira. Foi fundamental a contribuição do IAC, por exemplo, na criação de alternativas após a crise do café na década de 1930. Caso da disseminação de campos de algodão e milho híbrido, a partir de variedades desenvolvidas no Instituto, durante a longa gestão de Theodureto de Camargo na direção, de 1924 a 1942, outra época de muitos avanços na instituição em termos de produção científica. No caso do próprio café, são muitas as variedades desenvolvidas no IAC.
No total, são mais de 800 variedades de diversas espécies desenvolvidas no Instituto Agronômico, com maior resistência a doenças e maior produtividade. O IAC é um dos grandes responsáveis, portanto, por o Brasil ter-se tornado uma potência agrícola, base fundamental de nossa segurança alimentar (veja mais detalhes no artigo na plataforma EcoSocial Campinas). E foi a primeira instituição daquele que seria o polo científico e tecnológico de Campinas, um dos mais importantes do Brasil e da América Latina.
Padre Landell de Moura em Campinas
Ainda no final do século 19, mais um sinal da cultura científica em formação em Campinas, com a presença, como pároco substituto na Paróquia de Santa Cruz (depois, Basílica do Carmo), em 1896, do padre Roberto Landell de Moura, considerado o pai do rádio.
Pouco antes da estadia em Campinas, o padre Moura promoveu, em São Paulo, aquelas que são consideradas hoje como as experiências pioneiras na transmissão de sons sem o uso de fios. Era a invenção do rádio, e o local das experiências, dois pontos, um na avenida Paulista e outro no Alto de Santana.
As experiências pioneiras do padre Landell de Moura foram realizadas, portanto, antes de experimento semelhante de Guglielmo Marconi, em Pontechio, na cidade de Bolonha, em 1895. Como se sabe, Marconi é considerado o “pai do rádio”, embora os registros históricos deem conta da primazia do padre brasileiro. (Ver muito mais sobre o padre Landell de Moura no artigo especial na plataforma EcoSocial Campinas.)
Centro de Ciências, Letras e Artes
No dia 31 de outubro de 1901 foi fundado o Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), uma das instituições que melhor representam a vocação de Campinas para a ciência, a tecnologia e a inovação. Colocar as ciências ao lado das letras e artes significava colocá-las como um dos elementos centrais da cultura, seguindo o ideal renascentista de ligação entre as grandes criações humanas. Infelizmente a modernidade separou cada vez mais, fragmentou, a criação humana. Mas o CCLA seguia o espírito da conversa, do diálogo essencial entre essas áreas, uma verdadeira Universidade aberta.
Entre as Comissões criadas pelos idealizadores do Centro de Ciências, Letras e Artes estavam as de Matemática e Astronomia, Engenharia, Física, Química e Mineralogia, Botânica, Zoologia e Agricultura e Zootecnia. O polo científico e tecnológico de Campinas e a própria Unicamp estavam se esboçando na constituição dessas Comissões, que tinham a participação, entre outros, de Gustavo d´Utra (então diretor do Instituto Agronômico), o engenheiro José Pereira Rebouças (um dos principais nomes da história das ferrovias no Brasil) e o agrônomo João Pedro Cardoso, responsável pela celebração do primeiro Dia da Árvore no Brasil (ver artigo na plataforma EcoSocial Campinas). O Centro de Ciências, Letras e Artes continua sendo uma grande referência cultural em Campinas, mas mereceria uma atenção muito maior da cidade e do Brasil, pela sua enorme relevância histórica, ao abrigar, por exemplo, o Museu Carlos Gomes.
Instituto de Zootecnia
Em 1905 foi fundado o Instituto de Zootecnia, ligado ao governo de São Paulo e que desde 1909 já fazia pesquisa com o Gado Caracu em Nova Odessa. O Instituto que trabalha com a melhoria da produtividade e bem-estar animal em Pecuária se tornou uma referência mundial em pesquisas com Gado Nelore.
Atualmente, o Instituto de Zootecnia, sediado em Nova Odessa, na Região Metropolitana de Campinas, é ligado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo. Tem unidades de pesquisa e desenvolvimento em Piracicaba, São José do Rio Preto, Ribeirão Preto, Sertãozinho e Registro. Integra o polo científico e tecnológico da região de Campinas.
Instituto Biológico em Campinas
Em 1937 o Instituto Biológico, criado em 26 de dezembro de 1927 para atuar no suporte científico e tecnológico à agropecuária paulista e brasileira, adquiriu a Fazenda Matto Dentro, em Campinas. Local histórico, onde foi iniciada a trajetória do café na cidade e região no início do século 19. Na Matto Dentro, o Instituto Biológico passou a implementar pesquisas de sanidade animal e vegetal, através de criações de suínos, eqüinos e bovinos e campos experimentais de diversas culturas.
Em sua mais recente reforma, a antiga Estação Experimental de Campinas passou a ser denominada, pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios, de Centro Experimental Central do Instituto Biológico e recentemente Centro Avançado de Pesquisa em Proteção de Plantas e Saúde Animal- CAPSA, localizado de modo estratégico no polo de alta tecnologia.
PUC-Campinas
Na década de 1940, mais um passo fundamental para a estruturação do polo científico e tecnológico de Campinas. Em 1941 foi fundada a Sociedade Campineira de Educação e Instrução, embrião da futura Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas), que teria grande participação na vida social, política e econômica da cidade, particularmente depois da incorporação, em 1956, da Faculdade de Serviço Social.
A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras foi a primeira unidade da futura PUC-Campinas. Em 1955, a Faculdade passou a ser Universidade Católica, reconhecida pelo Conselho Federal de Educação. O título de Pontifícia foi concedido pelo Papa Paulo VI em 1972.
Depois do primeiro campus, no antigo casarão localizado no centro de Campinas e conhecido como Pátio dos Leões (que era de propriedade de Joaquim Polycarpo Aranha, o Barão de Itapura), foram criados os outros campi, para atender ao constante crescimento da Universidade. Veio também o Hospital Celso Pierro, atual Hospital PUC-Campinas, como um hospital universitário e que se tornou referência de atendimento para toda a região.
SBPC em Campinas
Mais um fato indicador da vocação campineira foi a realização na cidade da primeira Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Foi no Instituto Agronômico, entre os dias 11 e 15 de outubro de 1949. Foram 104 inscritos, com 82 trabalhos apresentados. Se os números foram modestos, o encontro já projetava a importância que a SBPC, fundada no ano anterior, teria para fomentar o crescimento da ciência em um país que ainda patinava nessa área.
Campinas sediaria a Reunião Anual da SBPC outras três vezes, uma delas em pleno regime militar e quando os encontros da organização eram espaços importantes de denúncia e discussão de temas nacionais. Em 1963, o evento aconteceu no Pátio dos Leões, o campus central da PUC-Campinas. O clima político no país era de enorme tensão, pela crescente oposição conservadora ao governo do presidente Joao Goulart.
Em 1982, entre os dias 6 e 14 de julho, seria a vez da Unicamp sediar da Reunião Anual da SBPC, desta vez sob grande vigilância e ameaça de intervenção pelos militares.
Em 2008, pela quarta vez Campinas sediou uma Reunião Anual, a 60a da SBPC. De novo foi na Unicamp, sob o tema geral “Energia, Ambiente e Tecnologia”. Mais uma vez, a preocupação com a urgência de construção de uma nova matriz energética, para combater as mudanças climáticas.
Fora capitais como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, nenhuma outra cidade sediou tantas vezes o encontro máximo da entidade representativa dos cientistas brasileiros. (Ver mais no artigo da plataforma EcoSocial Campinas.)
E veio a Unicamp
O salto definitivo para a estruturação do polo de ciência, tecnologia e inovação e Campinas se daria com a criação e impressionante crescimento da Unicamp. Mas a Universidade Estadual de Campinas apenas foi constituída depois de muitos contratempos.
A trajetória começa com a campanha que o jornalista Luso Ventura iniciou, nas páginas do “Diário do Povo”, pela fundação de uma Faculdade de Medicina em Campinas. A campanha alcançou enorme repercussão e avançou com o apoio do Conselho da Cidade, que reunia as principais organizações locais.
Curiosamente, uma das pessoas que inicialmente votaram contra a criação da Faculdade em Campinas foi Zeferino Vaz, com o argumento de que a cidade era muito próxima da Capital. Ele então defendia a criação da Faculdade em Ribeirão Preto.
Mas, depois de idas e vindas a Faculdade de Medicina de Campinas teve seu funcionamento afinal autorizado em 1963, como primeira unidade da Universidade de Campinas, criada pela Lei Estadual 7.655, de 28 de dezembro de 1962, sancionada pelo governador Carlos Alberto Carvalho Pinto.
Uma Comissão Organizadora, encarregada de instalar a Universidade, foi criada a 11 de setembro de 1965 pelo Conselho Estadual de Educação, sendo composta por Zeferino Vaz (presidente), Paulo Gomes Romeo e Antônio Augusto de Almeida.
A 5 de outubro de 1966 foi lançada a pedra fundamental da Universidade, na gleba de 30 alqueires doada por João Adhemar de Almeida Prado. Esta é a data considerada oficialmente como a de fundação da Unicamp.
A Unicamp funcionou inicialmente em instalações precárias e temporárias, em prédios da Maternidade de Campinas, Santa Casa de Misericórdia e antigo casarão de Bento Quirino, na rua Culto à Ciência. O casarão, onde funcionou desde 1918 a Escola Industrial Bento Quirino, foi o último projeto assinado em Campinas pelo arquiteto Francisco de Paula Ramos de Azevedo.
No casarão instalou-se por exemplo a Faculdade de Engenharia de Campinas, que depois se dividiu nas Faculdades de Engenharia Mecânica, Química e Elétrica. Pelos corredores do casarão localizado próximo do Colégio Culto à Ciência circulou, entre outros, o físico César Lattes (veja artigo na plataforma EcoSocial Campinas).
Instalada a Unicamp, sobressaiu o gênio de Zeferino Vaz. O reitor trouxe para a nova Universidade alguns dos importantes pensadores em suas respectivas áreas em toda América Latina, muitos deles na época perseguidos pelos governos militares, inclusive o brasileiro. A liberdade de pensamento sempre foi defendida na instituição, que foi vítima, é claro, de muitas expressões do autoritarismo daquele momento histórico.
Mas a Unicamp avançou e alcançou enorme credibilidade. Em torno dela vieram vários institutos e centros de pesquisa, estruturados em Campinas e região em função da massa crítica gerada pelas duas Universidades locais, Unicamp e PUC-Campinas.
Institutos e centros de pesquisa
Mais ou menos na mesma época da Unicamp, foi fundado em 1963 o Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital), criado como Centro Tropical de Pesquisas e Tecnologia de Alimentos (CTPTA). Atualmente o Ital integra a Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, concentrando suas atividades em três grandes áreas: Ciência e Qualidade, Tecnologia e Embalagem.
Em 1976 foi fundado o Centro de de Pesquisa e Desenvolvimento (CPqD) da Telebrás. Em 1998, tornou-se uma fundação de direito privado sem fins lucrativos. A Fundação CPqD – Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações trabalha com um variado portfólio de soluções em Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC).
Em 1982 foi fundado o Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer – CTI , atualmente uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI). Inicialmente atuando na área da Informática, o CTI atua em parceria com agentes do setor privado, da academia e do governo para promover ambiente propício à geração de inovações em processos e produtos, visando o fortalecimento da indústria nacional. Renato Archer foi ministro da Ciência e Tecnologia no governo do presidente José Sarney.
No dia 30 de janeiro de 1986, o mesmo Renato Archer cria uma comissão assessora, sob coordenação de Roberto Lobo, que emite parecer favorável à implantação de um laboratório de luz síncroton em Campinas. A primeira diretoria do laboratório, que ainda não existia, foi formada no segundo semestre de 1986, sendo integrada por Cylon Gonçalves da SIlva (professor do Instituto de Física Gleb Wataghin, IFGW, da Unicamp) no cargo de diretor do laboratório, Aldo Craievich (pesquisador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, CBPF) como vice-diretor e chefe do departamento científico do laboratório, e Ricardo Rodrigues (professor do Instituto de Física e Química de São Carlos, da USP) como chefe de projeto (coordenador técnico).
Depois de trabalhar em um espaço cedido pela reitoria da Unicamp, a equipe se transferiu para uma casa alugada na Chácara Primavera. Com o nome Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) já concretizado, o grupo foi ampliado, composto também pelo professor do IFGW Daniel Wisnivesky e outros seis colaboradores.
No final de 1987, já eram 50 pessoas trabalhando, agora em um galpão de 1.800 metros quadrados adquirido pelo CNPq na Fazenda Santa Cândida. O grupo, ainda mais numeroso, mudou-se em definitivo em 1992 para um terreno de 500 x 800m2 (o campus) no bairro Guará, distrito de Barão Geraldo, adquirido e cedido ao LNLS pelo governo de São Paulo.
O grupo trabalhou então na construção da fonte de luz síncrotron e as pesquisas evoluíram para o Projeto Sirius, mais importante e avançada iniciativa em ciência na história recente do Brasil. (Ver dossiê sobre o Projeto Sirius na plataforma EcoSocial Campinas).
O Laboratório Nacional de Luz Síncroton está vinculado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM), do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações. O Centro é o novo nome da Associação Brasileira de Tecnologia de Luz Síncroton, criada em 1997. Também estão vinculados ao CNPEM o Laboratório Nacional de Biociências, Laboratório Nacional de Biorrenováveis e o Laboratório Nacional de Nanotecnologia, todos instalados em Campinas, no Distrito de Barão Geraldo, onde está a Unicamp.
O polo científico e tecnológico de Campinas e região também conta com unidades da Embrapa: Embrapa Territorial e Embrapa Meio Ambiente. Fundada em 31 de maio de 1989, a Embrapa Territorial tinha inicialmente o nome de Núcleo de Monitoramento Ambiental e de Recursos Naturais por Satélite (NMA). A Unidade passou a ser denominada Centro Nacional de Pesquisa de Monitoramento por Satélite (CNPM), em maio de 2000. Em dezembro de 2017, uma cerimônia marcou o início de uma nova fase da unidade, que se tornou o Centro Nacional de Pesquisa em Inteligência, Gestão e Monitoramento Territorial.
A Embrapa Meio Ambiente está localizada em Jaguariúna, também na RMC. A unidade atua em pesquisa, desenvolvimento e inovação e está voltada para a interface agricultura (atividades agrícolas, pecuárias, florestais e agroindustriais) e meio ambiente.
Inovação e crescimento constante
O polo científico e tecnológico de Campinas e região tem muitas interfaces e não para de crescer. Também o integram o Centro de Pesquisas Avançadas Wernher von Braun, o Instituto de Pesquisas Eldorado, o instituto Venturus, o Campinas Tech (voltado para fortalecer o ecossistema de startups), o Softex e o Instituto Centro de Tecnologia e Inovação (CGTI), entre outras organizações. Muitas das organizações no segmento estão localizados no polo tecnológico de Campinas, que era gerido pelo Ciatec (Centro de Inovação e Alta Tecnologia de Campinas), incorporado em 2019 pela Informática de Municípios Associados (IMA). São também dezenas de instituições de ensino superior sediadas em Campinas, que contribuem anualmente com muita pesquisa e desenvolvimento para a cidade, região, São Paulo e o Brasil.
Resultado de um trabalho iniciado em 1999, no dia 4 de abril de 2002 nasceu a Fundação Fórum Campinas Inovadora (FFCI), idealizada com o propósito de promover a interação das instituições de ciência e tecnologia da cidade e região, “para a difusão do conhecimento e transferência tecnológica, possibilitando que o conhecimento ultrapasse as fronteiras das universidades e institutos de pesquisa, promovendo o desenvolvimento da região de Campinas, posicionando-a como a Região do Conhecimento”. Importante iniciativa para reunir, organizar e articular os atores do polo científico regional.
Em função desse vigoroso polo científico, Campinas recebe a cada ano novas empresas de base tecnológica. Já são 600 empresas, atuando nos setores de Alta Tecnologia como Biotecnologia, Nanotecnologia, TIC (Tecnologia da Informação e Comunicação), Agricultura, Química. No Techno Park Campinas estão localizadas mais de 60 dessas empresas. O Techno Park está instalado em uma área de 524.000 m2, com localização estratégica, na Via Anhanguera. Esse é outro diferencial de Campinas, que fomenta o crescimento permanente e a inovação constante do polo científico e tecnológico: a vocação da cidade para hub logístico. Foi assim com o polo ferroviário a partir do final do século 19, prosseguiu com as rodovias no século 20 (rodovias Bandeirantes, Anhangüera, Santos Dumont, entre outras), se fortaleceu com o Aeroporto Internacional de Viracopos desde a década de 1960 e segue no século 21 com a velocidade das infovias e dos aceleradores de partículas. Campinas tem fome e sede de ciência e tecnologia e não vai saciá-las tão cedo.
(Publicado originalmente no Portal Ecosocial Campinas)