A crise hídrica em São Paulo e em toda Região Sudeste brasileira, como exemplo de evento climático extremo, estará em debate na conferência científica “Nosso Futuro Comum sob as Mudanças Climáticas”, que começa nesta terça-feira, 7 de julho, e vai até sexta, dia 10, em Paris. O evento é um dos mais importantes como preparação para a Conferência das Partes da Convenção das Mudanças Climáticas (COP-21), que acontece no final do ano na capital francesa. A presença na discussão da crise hídrica em São Paulo, afetando o Sistema Cantareira e repercutindo na Grande São Paulo e região de Campinas, reitera a relevância do tema, de repercussão mundial.
O evento caracterizado pela estiagem e altas temperaturas ao longo de 2014 e até janeiro de 2015, afetando particularmente a Grande São Paulo, região mais populosa e rica do país, será discutido por José Marengo, coordenador de pesquisa do Centro de Monitoramento e Alerta de Desastres Naturais (Cemaden).
Marengo observa que a Região Sudeste do Brasil tem sido atingida por episódios de secas extremas, como as de 1953-54 e 2000-2001. A recente seca severa, destaca o pesquisador, foi associada com uma vasta área de alta pressão, intensa e muito persistente, situada desde a superfície até a alta troposfera. O sistema anticiclônico que dominava a circulação atmosférica sobre o Leste da América do Sul se estendia desde o nível do mar até a troposfera superior. Este anticiclone durou 45 dias, uma situação, de acordo com o cientista, extremamente rara em termos de duração e nunca registrado anteriormente na região.
A região do Sistema Cantareira, nota José Marengo, experimentou seca severa durante o verão de 2014, e este
ano corresponde ao mais quente na região desde 1962. Outros anos de seca, como os de 1971 e 2001, também estão entre os seis anos mais quentes durante esse período.
Portanto, para Marengo, a pior crise de água em São Paulo durante o ano mais quente nos últimos 52 anos é “um relevante exemplo de riscos das mudanças climáticas, devido ao aumento das temperaturas
por causa de influências antrópicas”.
O pesquisador do Cemaden ressalta que as origens da crise da água vão além da deficiência de chuvas, incluindo uma variedade de fatores interconectados, como o crescimento populacional das áreas metropolitanas no século 20, o desperdício nas redes e a destruição de florestas e zonas úmidas que historicamente alimentam os reservatórios.
Marengo avisa que as chuvas sobre o Sistema Cantareira têm diminuído durante as últimas décadas e os níveis de 2014 foram os mais baixos desde 1940. Além disso, o planejamento a longo prazo, pelos governos regionais, ficou aquém do desejado, e o resultado foi que muitos moradores tiveram cortes de água esporádicos. Algumas partes da cidade de São Paulo, a metrópole mais rica e populosa do país, passaram a contar com caminhões-pipa para manter a oferta.
A conferência “Nosso Futuro Comum sob as Mudanças Climáticas” vai discutir até 10 de julho as questões relacionadas às mudanças climáticas, como contribuição à COP-21. O objetivo central do encontro no final do ano é um grande acordo global para a redução das emissões de gases que agravam o aquecimento global.
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