Durante muito tempo os suplementos literários, publicados em vários jornais e revistas em todo país, foram o principal espaço de discussão e divulgação dos diversos gêneros, estilos e vozes da literatura brasileira. Atualmente é rara a publicação de um suplemento literário em órgão de imprensa, mas uma exposição que começa neste quarta-feira, 18 de novembro, a partir das 16 horas, no Centro de Ciências, Letras e Artes (CCLA), com entrada grátis, joga luzes sobre os suplementos editados desde a década de 1950 pelos jornais de Campinas. Estes suplementos foram determinantes para a formação de gerações de leitores críticos e sua ausência apenas reforça a necessidade de abertura de novos territórios para a produção literária campineira e nacional.
A organização da exposição é do jornalista João Antônio Buhrer de Almeida, que há tempos se dedica à pesquisa e divulgação de materiais que dão enorme contribuição para o entendimento da trajetória das artes e cultura em geral em Campinas e também no país. Buhrer foi o curador, por exemplo, da exposição “65 anos de cinema de arte em Campinas”, que o próprio CCLA sediou a partir de 15 de julho deste ano.
Agora o jornalista narra a evolução dos suplementos literários de Campinas e confessa que um deles “fez a sua cabeça” desde cedo. No caso, o suplemento “Minarete”, que o “Correio Popular” publicou a partir de janeiro de 1957 e que tinha como redator o jornalista Isolino Siqueira, que foi, aliás, o “padrinho” do ingresso de Buhrer na Academia Campinense de Letras.
Em seguida, lembra Buhrer, apareceu o “Estante & Prelo”, criado em outubro de 1960 no “Diário do Povo”, e que tinha como redator Rubem Costa, depois sucedido pelo lendário Luso Ventura. Nos meses finais de 1968, lembra o jornalista-curador, “Estante & Prelo” era conduzido por Tarcísio Sigrist, poeta vinculado ao movimento denominado “Instauração Práxis”.
Passo seguinte, em uma sexta-feira, 13, de março de 1981, o mesmo “Correio Popular” passou a editar a página “Contexto!”, editada por Adir Giliotti e que tinha como colaboradores, entre outros, Luiz Carlos Ribeiro Borges, Rolf de Luna Fonseca, Paulo Franchetti e Alcir Pécora – todos eles referências para a cultura de Campinas.
O mesmo “Correio Popular” foi o responsável pela edição, entre agosto de 1982 e julho de 1983, daquela que Buhrer qualifica como a “experiência literária mais consistente e abrangente”. Foi o “Domingo Cultura”, editado pelo jornalista e escritor Eustáquio Gomes, que tinha como parceiro, entre outros, Roberto Goto.
Inicialmente uma página, “Domingo Cultura” evoluiu para um suplemento em formato tabloide, com oito páginas e somando 50 edições. Entre outros, o suplemento divulgou textos de autores que se projetariam no cenário nacional, como o poeta Carlos Vogt (que seria reitor da Unicamp), a ensaísta e crítica literária Marisa Lajolo e os escritores Heládio Brito, Regis de Moraes e Oscar Mellin.
Para João Antônio Buhrer de Almeida, a publicação, em julho de 1983, da edição de número 50, a última, de “Domingo Cultura”, representou o fim de uma era. Para ele, a publicação tratava-se do “marco maior, e derradeiro, dos suplementos literários dos jornais de Campinas ao longo dos últimos cinquenta anos”.
Há três décadas, portanto, Campinas não tem um suplemento literário. A exposição aberta nesta quarta-feira provoca uma grande reflexão nos amantes da literatura na cidade onde – como exemplo de sua importância para o segmento – foram revisados os originais de “Os Sertões”, de Euclides da Cunha. No caso, no próprio Centro de Ciências, Letras e Artes, que acaba de completar 114 anos, sempre atento e provocador de discussões sobre a cultura local e nacional. (Por José Pedro Martins)