O setor de economia criativa, abrangendo negócios de cinema, teatro, música, design, artes em geral, publicidade e games, entre outros, movimentou R$ 4,39 bilhões em 2013 e R$ 4,45 bilhões em 2014. A informação está no Relatório de Sustentabilidade de Campinas, lançado nesta quinta-feira, 10 de dezembro, pelo prefeito Jonas Donizette. Campinas é a segunda cidade do Brasil a ter um Relatório de Sustentabilidade com o nível de detalhamento do documento, que seguiu as orientações da Global Reporting Initiative (GRI). Artistas afirmam que há espaço para grandes avanços na economia criativa em Campinas e pedem maior apoio ao setor cultural.
Na introdução ao relatório, o prefeito Jonas afirma que Campinas optou pela metodologia do GRI por entender que “esta é a ferramenta de gestão capaz de prestara contas com transparência e credibilidade, comunicando de maneira compreensível com técnicos e cidadãos”. No documento estão relacionadas informações sobre o desempenho econômico- financeiro de Campinas, os gastos do Município com Saúde, Educação e outras áreas e o desempenho na área ambiental.
As informações sobre a economia criativa estão no capítulo sobre o desempenho econômico-financeiro do município. Os valores movimentados em 2013 e 2014, segundo o documento, forma identificados pelo mapeamento da base de contribuintes do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) nesses anos. Em 2013, foram registradas 12.503 empresas no setor de economia criativa, e em 2014, 14.933.
Segundo o documento, a Prefeitura investiu R$ 39,5 milhões em 2013 e R$ 48,5 milhões “em eventos e políticas de fomento à cultura na cidade”. São valores correspondentes a cerca de 1%, portanto, do valor total movimentado pela economia criativa nos últimos dois anos em Campinas.
Ainda de acordo com o relatório, foram realizados 1.254 eventos culturais em espaços públicos em Campinas. Em 2013, foram adquiridos 8 mil exemplares para as cinco bibliotecas públicas municipais.
O Relatório de Sustentabilidade de Campinas cita ainda a “descentralização da cultura para a periferia da cidade por meio da criação de novos polos culturais: Centro de Educação Unificado (CEU) Vila Esperança, CEU Jardim Florence e o Complexo Cultural São Domingos. Porém, ainda não há um levantamento dos eventos ocorridos em cada um desses polos. Os CEUs Vila Esperança e Jardim Florence foram construídos durante esta gestão e receberam R$ 3 milhões do Ministério da Cultura e da Fundação Nacional das Artes”.
Até 2016, acrescenta o documento, a Prefeitura planeja “a reforma de importantes equipamentos culturais, como o Centro de Convivência Cultural de Campinas, a Casa de Cultura Itajaí, o Centro Cultural Casarão do Barão, a Casa de Cultura Andorinhas e a Estação Cultura”.
Reação dos artistas – Artistas ouvidos pela ASN-Agência Social de Notícias afirmam que o expressivo movimento financeiro na área de economia criativa em Campinas não se reflete com força no setor cultural em geral da cidade e em algumas de suas áreas em particular. O presidente do Fórum Municipal de Cultura, Mário Gravem Borges, assinala que algumas áreas, como artes cênicas e música, vêm sendo “melhor contempladas” pelo poder público, mas outras, como a de artes plástica, “não recebem o apoio devido”.
Ele cita alguns exemplos de como o segmento das artes plásticas não vem recebendo a adequada atenção pelo poder público. “Há anos o Salão de Arte Contemporânea de Campinas, que revelou para o mundo talentos como o de Claudio Tozzi, não é realizado. O Museu Olho Latino, liderado por Paulo Cheida Sans, foi instalado em Atibaia, não tendo o devido apoio em Campinas. A Bienal do Esquisito, promovida pelo Museu Olho Latino, que já teve seis edições e a participação de nomes como Rubens Gerchman, também é realizada em Atibaia. São vários projetos já apresentados ao poder público em Campinas e que não foram aceitos”, comenta Mário Gravem Borges, um dos mais importantes artistas plásticos da cidade.
Para Borges, com a movimentação econômico-financeira em Campinas, um dos maiores PIBs municipais do país, “a cidade poderia ter muito mais museus, e uma política de incentivo cultural muito mais ampla e consistente”. Ele entende que o atual governo municipal “deu um novo impulso para o Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), que há alguns anos nem pagava direito os projetos. Agora os projetos são pagos, há seriedade nesse sentido. Mas o investimento cultural continua sabidamente baixo”, lamenta.
“Muitas das ações culturais e artísticas estão acontecendo ao largo da Secretaria Municipal de Cultura e dos espaços públicos. O Museu de Arte Contemporânea, por exemplo, não consegue dar conta de expor toda a produção existente. Enquanto isso os ateliês estão bombando, com cursos e vendas e contribuindo com a economia criativa”, observa o presidente do Fórum Municipal de Cultura.
Mário Gravem Borges entende que Campinas “deve olhar de fato para a cultura, deve achar a cultura bonita, ver que a cultura está no indivíduo”. “Falar em cultura não é falar em extraterrestres, em viagem à lua, ela é uma força vital”, conclui o artista, para quem as empresas instaladas no município deveriam ser incentivadas a “ter um carinho maior com a cultura de Campinas”.
O artista plástico Ricardo Cruzeiro diz que, ao saber do valor movimentado pela economia criativa em Campinas, lhe vem a pergunta: “Onde está a pororoca das artes, onde está o encontro dos rios Negro e Solimões?” Ele se refere à enorme distância entre os fluxos financeiros contabilizados pelo setor e o efetivo apoio às artes na cidade. “Queria saber onde é o encontro dos empresários e dos artistas para que eu possa apresentar alguns dos meus muitos projetos”, destaca.
Cruzeiro cita o caso de sua instalação Circuitos. Sem apoio em Campinas, o projeto foi levado para outras cidades, como Caieiras, na Região Metropolitana de São Paulo, onde ficou por mais de um mês, entre novembro e dezembro de 2014. “O artista tem que produzir, tem que sobreviver, mas não vem recebendo o apoio que poderia na cidade”, conclui Ricardo Cruzeiro, que espera, então, como outros artistas, os reflexos efetivos na área cultural do dinamismo da economia criativa no município, identificado no Relatório de Sustentabilidade de Campinas.