Adriano Rosa
“Vai ouvindo”, costuma convidar Paulo Freire, brasileiro, violeiro, escritor e contador de histórias, que coloca nos seus causos personagens do folclore e da mitologia brasileira e está lançando seu mais novo CD, “Violinha Contadeira”, domingo agora, dia 6 de março, no Centro Cultural Casarão em Barão Geraldo, em Campinas.
Neste novo trabalho, Paulo Freire reúne músicas e causos que fazem parte do seu repertório de shows ao vivo há mais de dez anos, sendo apresentados por todo o Brasil para crianças e adultos.
Num dos causos o Paulo é engolido pelo Mapinguari, monstro que habita a floresta Amazônica, uma mistura de macaco com jacaré, peludo e vermelho, com um olho só no meio da testa e uma boca enorme no meio da barriga, de atravessado, que disfarça o grito mas não consegue esconder o cheiro. O Paulo canta: “Ele engole a gente por que chega diferente/Quando num tá tá e quando tá tá rá tá tá”. E se não bastasse toda essa aventura, ainda conheceu um Capetinha que tocava viola. Mas essa é outra história no mesmo causo.
Outro causo interessante é Rairu e Karo Sakaibo, uma lenda indígena que explica o povoamento de dentro e de fora da Terra, onde dois indinhos de uma tribo brasileira vivem uma história fantástica, que se fosse contar tudo num acabava hoje. Tudo isso com a interferência sonora de Marco Scarassatti e a viola de Paulo Freire.
E em Curupira e os Passarinhos, Paulo conta a luta do Curupira para salvar a floresta, exigindo justiça e dando uma lição em quem ainda insiste em derrubar nossas florestas. Nesse encontro no meio do mato com um menino pelado de cabelo vermelho e os pés virados pra trás, Paulo narra a coragem do Curupira para defender a natureza com uma certa paciência, até que a paciência acaba. Mas como conta o causo, é difícil achar um Curupira no meio da mata, pois quanto mais se vai, mais se vem.
Mas causo é causo, e quanto mais se conta mais se quer saber o final. E o final da história tá lá no CD.
E tem também a corrida do Sapo e o Veado, em que o ponteado da viola de Paulo Freire imita a velocidade e a lentidão dos personagens durante os solos. Solos estes resgatados junto aos mestres de viola do sertão, na região do rio Urucuia, no norte de Minas Gerais, onde Paulo aprendeu a tocar viola com Manoel de Oliveira, o seo Manelim e outros violeiros da região.
E entre um causo e outro ainda tem duas canções de domínio publico, A Véia e Balão Vermelho, também resgatadas junto aos mestres violeiros do sertão do Urucuia. E em Balão Vermelho vale destacar as vozes de Ana e Laura Salvagni Freire, esposa e filha do Paulo. E tem outras duas de autoria do violeiro, Doce não, Doze e Pato Pinta, inspiradas nas tabuadas, pra mostrar pra molecada que matemática se aprende cantando, com a participação especial do Augusto, também filho do Paulo.
Do CD ainda participam a cantora Eliza Manzano, o contrabaixista Tuco Freire, o baterista Adriano Busko, os guitarrista Marcel Rocha e Oluap Oliveira, além das vozes de Matheus e Santiago Spieth.
Querendo contar outra, sem tirar nem por, cantando historias e contando causos, Violinha Contadeira é um CD para crianças de 0 a 99 anos, tudo muito bem experimentado e aprovado pelo publico que já assistiu ao show ao vivo de Paulo Freire com sua violinha. Então como ele mesmo diz, “senhor, senhora, moça, menino, preste a atenção e vai ouvindo”.