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A dança é de Bertolucci, homenageado da 2ª Mostra de Cinema Italiano de Campinas
Bernardo Bertolucci (nos anos 70) é o homenageado da mostra em 2018 (Foto Divulgação)

A dança é de Bertolucci, homenageado da 2ª Mostra de Cinema Italiano de Campinas

Por Daniela Prandi, especial para a Agência Social de Notícias

“Quando me perguntam se um filme é aquilo que eu tinha pensado, sempre digo que nunca sei como será um filme. Devemos pegar a máquina e filmar a realidade. Depois, deve-se se mover em meio a essa realidade, dançar com ela, e tudo o que antes tinha dentro desse espaço filmado quase seguramente terá nascido só ali, naquele instante, algo certamente muito interessante, naquela química, com aquelas pessoas, com aquela ligação, causa e efeito”, ensina o cineasta italiano Bernardo Bertolucci, escolhido como o homenageado da 2ª Mostra de Cinema Italiano, de 20 a 29 de abril, em Campinas, que vai exibir três filmes do diretor: “O Conformista” (1970), “1900” (1976) e “Assédio” (1998).

Bertolucci (em Veneza 2013) já ensinou muito quando o assunto é cinema (Foto Divulgação)

Bertolucci (em Veneza 2013) já ensinou muito quando o assunto é cinema (Foto Divulgação)

O italiano, hoje setentão e preso a uma cadeira de rodas, já ensinou muito quando o assunto é cinema. E, nestes nossos tempos de redes sociais, mesmo sem filmar desde 2012, Bertolucci voltou a chamar atenção em 2016 quando uma ONG de direitos das mulheres republicou um vídeo com uma antiga entrevista do diretor admitindo que a lendária “cena da manteiga” de “O Último Tango em Paris” (1972) foi mesmo uma cena “não consentida de sexo”. Maria Schneider, a estrela do filme, que morreu em 2011, tinha 19 anos na época das filmagens. Anos depois, em diversas entrevistas, dizia que Bertolucci a enganou e que havia sido abusada por Marlon Brando.

Maria Schneider e Brando no polêmico "O último tango em Paris" (Foto Divulgação)

Maria Schneider e Brando no polêmico “O último tango em Paris” (Foto Divulgação)

O filme, que levou o diretor italiano a perder os direitos civis e políticos por cinco anos na Itália por causa de um processo sobre obscenidade, e foi censurado mundo afora (Brasil inclusive…), sem dúvida é um divisor de águas em sua carreira. “Existem filmes que me fizeram sofrer e filmes que me deram overdoses de prazer, como “O Último Tango…”, afirmou o diretor que, logo após a publicação do vídeo, divulgou um comunicado dizendo que a história toda havia sido um “mal-entendido ridículo”. “Amava e ainda amo a liberdade e sempre fui contra qualquer forma de censura. E se meu filme tem qualquer mérito é o de ter quebrado alguns tabus anacrônicos”, disse Bertolucci, que nega que tenha enganado a atriz sobre a cena.

O diretor, que é de Parma, filho do poeta Atilio Bertolucci, deixou sua cidade-natal na adolescência e foi morar em Roma. Um dia, em 1962, seu vizinho Pier Paolo Pasolini o chamou e eles produziram juntos o filme “Accattone: Desajuste Social”, com Pasolini como realizador e Bertolucci como assistente. Seu primeiro longa, “La Commare Secca”, viria logo depois, no mesmo ano. Depois veio o sucesso “Antes da Revolução” e sua colaboração no roteiro de “Era Uma Vez no Oeste”, de Sergio Leone, um dos ícones do cinema.

De Niro, em "1900", um dos grandes filmes de Bertolucci (Foto Divulgação)

De Niro, em “1900”, um dos grandes filmes de Bertolucci (Foto Divulgação)

No clima político na Europa do final dos anos 1960, o cineasta lançou filmes como “Partner”, “Amor e Raiva”, “O Conformista” e “A Estratégia da Aranha”. Mas nada seria igual depois de 1972, com “O Último Tango em Paris”. Depois vieram outros, como “1900” (1976), “La Luna (1979), “O Último Imperador” (1987), “O Céu que nos Protege” (1990), “O Pequeno Buda” (1993) e “Beleza Roubada” (1996). Já no novo século, em 2003 Bertolucci surpreendeu com uma volta fenomenal ao romance em “Os Sonhadores”. Seu último filme foi “Eu e Você”, de 2012.  Neste ano, “1900” ganhou cópia restaurada e será relançado na Itália. O filme, apresentado fora de competição no Festival de Cinema de Cannes em 1976, é dividido em duas partes e tem duração total de 318 minutos.

Programação
A 2ª Mostra de Cinema Italiano de Campinas terá como convidados os diretores Mimmo Calopresti (“A Fábrica dos Alemães”) e Francesco Siciliano ( “Estado Civil – O amor é o mesmo para todos”) – ambos os filmes estão na programação –, e da atriz e jornalista Federica de Santis.

Confira a programação e os trailers no link abaixo

https://cinemaitaliano.campinas.sp.gov.br/filmes

Programação paralela
A Sinfônica de Campinas preparou um repertório especial de trilhas de filmes compostas por Nino Rota, de “La Dolce Vita” e “Romeu e Julieta”, por exemplo, para apresentar em dois concertos dentro da programação paralela da Mostra, nos dias 21 de abril, sábado, às 20h, e 22, domingo, às 11h, no Teatro Castro Mendes.

No dia 22 há ainda o evento Cine Gourmet, que vai reunir chefs que foram desafiados a apresentar uma culinária que tenha alguma ligação com os filmes italianos, das 11h às 17h, na Praça Carlos Gomes. O evento irá reunir nove restaurantes com opções de pratos, lanches e sobremesas, a preços entre R$ 5 e R$ 25.

Filmes da Mostra

Flor (Fiore)
Em um centro de detenção de jovens, Daphne, presa por roubo, se apaixona por Josh que também é um jovem detento. Direção: Claudio Giovannesi. Drama. 110 min (2016).

Não Seja Mau (Non essere cattivo)
A história se passa na década de 1990 nos limites entre Roma e Ostia, os mesmos sets de filmagem de Pasolini. Seus personagens, nos anos 90, pareciam pertencer a uma mundo de hedonismo. Um mundo onde dinheiro, carros de luxo, boates, cocaína e drogas sintéticas corriam soltos. Um mundo em que Vittorio e Cesare, com seus vinte e poucos anos, buscam o sucesso.  Direção: Claudio Caligari. Drama. 100 min. (2015).

Canção e Napule (Song ‘e Napule)
Um policial novato de Nápoles, com formação musical, é recrutado para uma missão especial como pianista de uma banda próxima a um chefe da máfia. Direção: Antonio Manetti, Marco Manetti. Comédia. 114 min. (2013).

Loucos por futebol (Crazy for Football: The Craziest World Cup)
Um grupo de pacientes de saúde mental de toda a Itália, um psiquiatra (Dr. Santo Rullo) como diretor de esportes, um ex-jogador de futebol (Enrico Zanchini) como treinador e um campeão mundial de boxe (Vincenzo Cantatore) como preparador físico: estes são os protagonistas de “Loucos por Futebol”, um documentário de Volfango De Biasi sobre a primeira equipe nacional italiana da Copa do Mundo para pacientes psiquiátricos em Osaka, no Japão. Direção: Volfango De Biasi. Documentário. 73 min. (2017).

Indivisíveis (Indivisibili)
Daisy e Violet são irmãs gêmeas prestes a completar 18 anos. Elas têm belas vozes e são procuradas para cantar em casamentos, comunhões e batismos. Seu verdadeiro atrativo é outro traço: são gêmeas siamesas. Mas um notável médico inglês promete a elas uma vida normal quando afirma: “Eu posso separar vocês”. Direção: Edoardo De Angelis.  Drama. 100 min. (2016).

Os Filhos da Noite (I figli della notte)
Giulio, um jovem de 17 anos de uma família abastada, é enviado para um colégio interno. Nesse lugar isolado nos Alpes, onde as regras de ferro limitam todo o contato com o exterior, ele faz amizade com Edoardo, que é bastante estranho. Sua amizade é selada por frequentes fugas durante a noite. Direção: Andrea De Sica. Drama. 85 min. (2016).

Algo de Novo (Qualcosa di nuovo)
Lucia e Maria são grandes amigas, mas foram diferentes desde o começo de suas vidas. Lucia não liga para homens, Maria, pelo contrário, não pode ficar sem um. Uma noite, o homem perfeito aparece na cama de Maria: bonito, sensível, maduro e apaixonado. Na manhã seguinte, surgem mal-entendidos e mentiras.  Direção: Cristina Comencini. Drama. 93 min. (2016).

Histórias de Amor que Não Pertencem a Este Mundo (Amori che non sanno stare al mondo)
Todos já nos apaixonamos perdidamente. Para Claudia e Flavio não foi diferente, mas agora tudo acabou. Ele quer novas aventuras, ela prefere não esquecer o passado. Esta comédia nos mostra como buscar alento em nossas experiências. Direção: Francesca Comencini. Comédia. 92 min. (2017).

Em guerra por amor (In guerra per amore)
Uma terna história de amor se entrelaça com a conquista aliada da Sicília durante a Segunda Guerra Mundial, quando o Exército dos EUA teve de buscar parceiros na sociedade local. Direção: Pif. Comédia. 99 min. (2016).

Na Ciambra, o outro lado da história (A Ciambra: L’altra faccia della storia)
Como fazer um filme em uma comunidade calabresa devastada, na periferia de Gioia Tauro, com protagonistas que não são atores profissionais e são, em grande parte, analfabetos, e, ao mesmo tempo, capturar a força e vitalidade dessa comunidade e suas histórias? O documentário mostra as dificuldades, contingências, a energia coletiva durante as filmagens, mas também a metodologia original usado pelo diretor Jonas Carpignano em filmar seu filme “Ciambra”.  Direção: Paolo Carpignano. Documentário. 51 min. (2017).

O Fantasma da Sicília (Sicilian Ghost Story)
Contra um pesado manto de sigilo, uma garota de 12 anos se aprofunda cada vez mais nas florestas sicilianas encantadas para encontrar seu belo colega de classe, sem saber quão espesso é o mistério por trás de seu estranho desaparecimento. Direção: Fabio Grassadonia, Antonio Piazza. Drama.122 min. (2017).

Paro quando quiser 2 (Smetto quando voglio: Ad honorem)
Faz um ano desde que a gangue de Pietro Zinni foi pega no laboratório de produção da Sopox e cada um deles ficou detido em diferentes prisões. Da prisão de Regina Coeli, Pietro continua alertando as autoridades sobre um gás sintético sintetizado letal, mas ninguém o leva a sério. Direção: Sydney Sibilia. Comédia. 98 min. (2017).

Estado civil – O amor é o mesmo para todos (Stato civile – L’amore è uguale per tutti)
Depois de ganhar o prêmio Agedo e o prêmio Diversity Media como o melhor programa de TV do ano, a série Estado Civil retorna com uma nova temporada. O primeiro episódio conta as histórias de Dina e Francesca (Milão) e Marco e Filippo (Florença). Francesca (58) e Dina (78) estão juntas há mais de 40 anos. Direção: Francesco Siciliano. Documentário.52 min. (2017).

Veloz Como o Vento (Veloce come il vento)
Giulia é uma jovem e promissora piloto de carros de esporte. Ao enfrentar uma crise, sua única esperança é o irmão dela, um viciado em drogas que já tinha sido campeão de corridas. Direção: Matteo Rovere. Ação. 118 min. (2016).

"A fábrica dos alemães", um dos filmes da mostra (Foto Divulgação)

“A fábrica dos alemães”, um dos filmes da mostra (Foto Divulgação)

A Fábrica dos alemães (La fabbrica dei tedeschi)
Durante a noite entre 5 e 6 de dezembro de 2007, um grave incêndio toma conta do estabelecimento ThyssenKrupp (Turim, Itália). As famílias, amigos e colegas das sete vítimas contam as trágicas circunstâncias daquela noite e suas vidas de sobreviventes. O filme dá voz à raiva, às perguntas sem resposta sobre como poderia ter acontecido, à dor dos parentes das vítimas e às acusações aos gerentes da fábrica. Direção: Mimmo Calopresti. Documentário. 90 min. (2008).

Filmes de Bernardo Bertolucci
O Conformista (Il conformista)
Depois de se casar e de assumir um cargo no governo de Mussolini em 1938, rapaz vai de lua de mel a Paris com uma missão a cumprir. Ele deve procurar um professor italiano que fugiu para a França quando o fascismo chegou ao poder e eliminá-lo. Direção:  Bernardo Bertolucci. 113 min. (1970).

1900 (Novecento)
No início do século 20, na Itália, dois amigos de infância se tornam inimigos. Um é camponês, o outro é filho de um proprietário de terras. O primeiro é um trabalhador consciente politicamente, o segundo um reacionário que se encanta com o fascismo.  Direção:Bernardo Bertolucci. 245 min. (1976). 93 min.

Assédio (Assédio)
Após seu marido ter sido preso por motivos políticos, uma africana vai para Roma e começa a trabalhar como empregada doméstica para um pianista britânico, que acaba se apaixonando por ela. Direção: Bernardo Bertolucci. 245 min. (1999).

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Organização sediada em Campinas (SP) de notícias, interpretação e reflexão sobre temas contemporâneos, com foco na defesa dos direitos de cidadania e valorização da qualidade de vida.

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