“CONTAS DE MAR”: UMA OBRA SURPREENDENTE ATÉ NOS LANÇAMENTOS

Construindo pontes. O autor campineiro Rafa Carvalho anuncia para fevereiro as primeiras ações de lançamento do novo livro, “Contas de Mar”, com valorização de espaços públicos convencionais e criação de zonas autônomas temporárias. Primeira ação em Campinas sorteia exemplar em parceria com a ASN. Primeira ação de lançamento será na sexta-feira, dia 01/02, na Biblioteca Pública Municipal “Ernesto Manuel Zink”, às 19h30.

Ele não é campineiro. Suas origens, como tudo nele, confundem. Baiano demais por dentro. Sertanejo mas também praiano. Nascido mesmo em Mauá, cidade que é a serra paulista, ao mesmo tempo em que é quase uma extensão da zona leste paulistana. Um “extremo extremo leste”, à capital gigante. Se comporta como um cidadão do mundo. Tem uma carreira que se espalha já por muitas partes. Mas a verdade é que Rafa Carvalho é sim um tanto de Campinas. Chegou à periferia da cidade, na região do Parque São Quirino na década de 80, com os pais, com só um ano de vida. Cresceu ali, batendo bola às beiras do rio Anhumas, ouvindo a Maria Fumaça, a fábrica, e os caminhões, passando pela rodovia.

Passou toda infância e adolescência ali, antes de ampliar os horizontes, ganhar mundo. E tem até hoje, com as ações do coletivo Encruzilhada Estrela Dalva, suas atuações concentradas, principalmente, nessa região. Em 2019, Rafa lança seu primeiro livro de prosa, o “contas de mar”, com contos que permeiam o universo marinho. O livro traz 17 histórias que se unem, por um único fio que as interliga, como contas de um colar. E tem seu lançamento pela Pontes Editores de Campinas, em parceria com o autor, após ele ter sido finalista do Prêmio Sesc de Literatura de 2018 na categoria “contos”, e contemplado com o edital de publicação literária do Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo.

Rafa tem a característica de fazer pontes entre partes, comumente muito distintas, dentro das artes, temas e aspectos sociais. Trama essas redes com habilidade e, para as atividades de lançamento do livro, não fez menos. O lançamento inaugural será logo no primeiro dia do mês de fevereiro, em Campinas. O local escolhido foi a Biblioteca Pública Municipal “Prof. Ernesto Manuel Zink”, ao lado da Prefeitura. Segundo o autor, há uma importância em se ocupar esses espaços públicos convencionais destinados à leitura: “Tenho um motivo especial para escolher essa locação. Ali foi onde fiz meus primeiros mergulhos em literatura, adolescente. Me aventurando sozinho pro centro, habitando aquele silêncio, aquele cheiro, as texturas. Bibliotecas são espaços tradicionais importantes de se manter, ao mesmo tempo em que defendo ocupá-las, ao menos de vez em quando, de formas nem tão ortodoxas. As bibliotecas podem ser vivas, pulsantes, com calmarias e tempestades em modo fluido e orgânico. Devem ser espaços desejáveis, com gente dentro. Ocupar as bibliotecas é fazer política e desenvolver o humano, o social. Sem contar, que os anjos moram nelas. E é sempre uma chance, de se obter alguma proteção a mais.”

O mês de fevereiro ter sido o escolhido para abrir os trabalhos de circulação do livro, não foi mera coincidência. É o mês de Iemanjá, figura muito central nas obras do autor, que escolheu para o dia 2, data da santa iabá, fazer um lançamento à cidade de São Paulo. No entanto, Rafa definiu fazê-lo numa Zona Autônoma Temporária (ZAT). As informações serão transmitidas de modo informal e repentino, às vésperas do sábado, reunindo as pessoas que estiverem interessadas, atentas e disponíveis. A ideia das ZAT’s é atribuída a Hakim Bey, pseudônimo do escritor americano Peter L. Wilson, e tem a ver com a reunião voluntária de pessoas em formações independentes de redes de comunicações e convivência. Rafa trabalha muito com as ideias de Bey, desde de sua atuação como palhaço nos espaços urbanos das cidades. Pouco antes da intervenção “Aqui bate um coração” chegar em Campinas, espalhando corações “mais organizados” nas estátuas da cidade, uma grande almofada vermelha foi “entuchada” no peito vazado da Princesa d’Oeste, no monumento do bicentenário da cidade, ao Largo das Andorinhas. O ato foi realizado em 2012, com o almofadão assumindo a forma de um coração, permanecendo lá por alguns dias, representando sangue e calor humano num cinza vazio central. Há quem diga que a primeira provocação a esse gesto nasceu de uma fala de Rafa, em reuniões e articulações sociais que aconteciam naquele ano, embora isso nunca tenha sido comprovado. Mas é fato que em sua obra, o poeta tem criado situações de choque à sociedade, procurando insistentemente por belezas e alegrias profundas, subversivas, ao mesmo tempo em que enfrentando os pensamentos, preconceitos e automatismos viciados da mesmice. Um bom diálogo às ideias do escritor americano.

Para o autor de Campinas, é importante valorizar também esses espaços: “Somos feitos de tradição, tanto quanto somos feitos de liberdade e de surpresa. É importante mantermos, ou criarmos, essa autonomia. De fazer também os nossos espaços, dinâmicos, mágicos, móveis. Situações para darmos as mãos, protegermos nossas amigas e amigos. E conseguirmos alegria, ferramenta fundamental no meio desse caos criador. Dia 2, vamos nos reunir num lugar que se faça propício. E cantar para uma mãe. Trazer o mar para a imensa urbes cinza de São Paulo, também uma forma metafórica de mar, que afoga, mas que tanto amo. É importante sabermos evocar a água marinha. Um manto materno de aconchego. E puxar o fôlego necessário, pra seguir efervescendo. Ali.”

Com isso Rafa vai fazendo pontes entre aspectos muito distintos de vida. E avisa: “a ideia é aumentar o mar, tendo-o não como separação, mas como a própria ponte. Assim, aumentamos o mar, ao mesmo tempo em que ampliamos a vizinhança entre os diversos. Os opostos se aproximam, simultâneos ao fato de ficarem ainda mais livres, para ser o que são”. Depois desse início, Rafa volta à Campinas, para um festejar o livro no Sarau da Dalva. Torna à São Paulo em seguida, em plena Avenida Paulista, num lançamento à livraria Martins Fontes, das mais emblemáticas na capital. E ainda acaba o mês em pizza, no Macunaíma em Campinas. Lembrando que o autor cedeu um livro à ASN, para ser sorteado entre os leitores do site. As instruções seguem ao final da matéria.

As atividades de lançamento e circulação do “contas do mar” terão acontecimento em todo o ano de 2019. Carvalho desenvolveu uma apresentação cênica e ritualística do livro, que envolve diferentes linguagens artísticas e estreia em abril, em unidade do Sesc. A utopia, como diz, é passar por todo o estado de São Paulo e outros. Entre litorais e interiores, havendo mar em tudo. Para os eventos de fevereiro, Rafa ainda promete participações especiais de colegas das artes visuais, música, e da literatura.

Agenda de Lançamento “contas de mar” – Fevereiro / 2019

dia 1 | 19h30 – Biblioteca Pública Municipal “Prof. Ernesto Manuel Zink” – Av. Benjamin Constant, 1633 – Centro, Campinas

dia 2 | ? - Zona Autônoma Temporária, São Paulo. *informações a qualquer hora, nas redes sociais do artista. Ou em qualquer outro lugar.

dia 13 | 19h - Sarau da Dalva – Bar do Manoel Estrela Dalva - Av. Lafayete Arruda Camargo, 767 – São Quirino, Campinas

dia 17 | 15h - Livraria Martins Fontes - Av. Paulista, 509 – Paraíso, São Paulo

dia 27 | 19h30 - Macunaíma Pizza Bar – Rua José Martins, 613 – Barão Geraldo, Campinas

Sobre o sorteio “contas de mar”

Para participar é fácil:

1- Basta curtir as páginas da ASN e Rafa Carvalho no Facebook (https://www.facebook.com/agenciasn/ e https://www.facebook.com/rafacarvalho.br/)

2- Depois, compartilhar em seu perfil pessoal esta matéria, marcando as páginas curtidas (@agenciasn e @rafacarvalho.br). Atenção! A marcação correta é importante, pois servirá para acompanharmos seu procedimento de inscrição.

3- Pronto! Daí é só torcer. Valem as inscrições feitas até às 12h (meio-dia) da sexta-feira, 1 de fevereiro. O ganhador será anunciado presencialmente no lançamento da Biblioteca Zink. Caso não esteja presente, após o anúncio, que também será feito em nossa página e aqui no site, o livro ficará disponível para o mesmo, no Sarau da Dalva, para ser retirado lá.